domingo, 30 de junho de 2013

O caminho de volta

Já estou voltando. Só tenho 38 anos e já estou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda.

Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!

Mas, com quase quarenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra "fim". Antes dela, avistei a placa de "retorno" e nela mesmo dei meia volta.

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe.

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou).

Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz "a internet voltou!" já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook, o Twitter e o Orkut juntos.

Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. No São João, assamos milho na fogueira. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar.

Aí eu me lembro da placa "retorno" e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!" Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois". Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária e mora no Recife.
Enviada por: Suelen Caroline Block

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Excelentíssima Senhora Presidente,

Vamos ter um a parte...
Como a senhora pode ver, a coisa está feia pro seu lado e linda pra quem acredita em sonhos. Sim, é um sonho ver meu país acordando; ver nosso povo na rua lutando por algo que nem deveria lutar, já que é direito senhora presidente. Mas a senhora, que é de uma partido (dito) comunista deveria estar de pé, aplaudindo os filhos de nossa pátria amada.
Vamos deixar as formalidades de lado e falar de igual pra igual já que, dizem, a senhora também é brasileira. Sabe o que é, maninha, o povo tá cansado de sustentar vocês e comer, dormir e ter saúde e educação precárias enquanto vocês mamam a lá vonté com os impostos que nos cobram, com o dinheiro que nos roubam. A guerra é muito injusta: minha vó, meu pai e minha e minha mãe sempre me fizeram devolver o que não era meu, inclusive troco a mais. Suaram muito suas camisas pra que eu tivesse o mínimo de educação e eu tive, mas quando cresci fiquei decepcionada ao saber que não eram todos que tinham esse direito...e um dia eu acabei sendo vítima do país sem educação que vocês criam: fui roubada, assaltada e até mantida refém. Veja só! Pudera, né Dilma? Seu país não tá preocupado com desenvolvimento, e daí que essas coisas acabam acontecendo.
Vou te contar outra, veja como sou privilegiada: tenho marcado consultas regularmente e tenho sido atendida  a contento pelos médicos que procuro. Não, deixa de graça, Dilma! Claro que não é no SUS, eu pago meu plano de saúde, mas não deveria, né?! Já que saúde também é obrigação do estado segundo a tal da Constituição. E por falar nisso, essa tal aí, assim como o seu governo, é uma piada de muito mal gosto.
Ah, tenho uma dúvida: por que um político ganha um salário milionário pra trabalhar 3 dias na semana, tem direito a motorista, vale-alimentação, carro com combustível pago por nós, auxílio moradia, auxílio terno (tadinho, com o que ganham não dá pra comprar), 14º, 15º????? Ele trabalha tão pouco, não tem graça ganhar tudo isso enquanto o pedreiro daqui de casa não ganha nem a fração e encara o sol de Belém.
E por falar em sol, aqui é bem quente, né Dilma, tu já estiveste aqui, mas olha, vou te contar uma coisa, a situação no Nordeste é de comover o mundo inteiro, menos a senhora, que me contaram as boas línguas, doou arroz em toneladas para Cuba enquanto os nordestinos aqui almoçam xique-xique e tomam água barrenta. É verdade, não é mentira não. Tu sabes que o povo aqui aumenta mas não inventa. A propósito,  maior que os fatos contados pelo povo são os impostos cobrados pelo governo. "Crendeuspaiavimaria", como aumentam! E o retorno, que é bom, néca de pitibiribas! O retorno só rola pra vocês, que engordam suas contas às nossas custas.
Veja bem, dizem por aí que até que o teu governo não é dos piores. Tá vendo como vocês nos acostumaram mal, estamos nos contentando com migalhas e nos transformando num país de merda. Vou te dar uma dica: tu tens que ser excelente, mulher! É tua obrigação! Tu és nossa funcionária! A gente te paga (e muito bem) pra isso! Do contrário, tu vais ficar aí recebendo VAIA, maninha, toda vez que tu apareceres em público e,olha, não é legal! Sabe por quê? Porque o cara da FIFA ainda ficou chamando a gente de mal educado. E num é que é verdade, nossa educação anda rasa, nossas escolas não são bonitas como os estádios que tu e o senhorzinho lá mandaram construir. As cadeiras não tem o mesmo conforto, os banheiros. Aliás, cá pra nós, professor tá ganhando mal pra porra. Bora dividir melhor essa renda. E, olha só, tu vais passar vergonha na copa, mulher. Tô te avisando! O transporte público do país que comandas é uma bosta, outro dia mesmo tive de ir comprar um carrinho pra nossa família porque eu só pegava ônibus lotado na ida e, na volta do trabalho, demorava tanto a passar que eu não sei se cansava mais do trabalho ou de ficar em pé na parada do ônibus correndo também o risco de ser surpreendida por aqueles filhos teus e da pátria que não queres, de jeito nenhum, educar.
Ei Dilma, o povo cansou e se eu fosse tu eu ia pra rua também levar pelo menos uma bala de borracha na cara pra ter noção dessa coisa linda que meu país tá vivendo. E só pra fechar: pára, mana, de obrigar a gente a votar. O meu país é livre! Meu Dilma, porque teu, definitivamente, não há mais de ser!