domingo, 13 de abril de 2014

A tal felicidade...

Com o tempo a gente descobre que a nossa felicidade está diretamente relacionada à felicidade das pessoas que queremos bem, que por alguns ou por um único motivo fizeram morada em nosso coração, fazendo-nos ofertar o que de melhor temos.
Esse início de ano tô meio assim, sei lá...., tenho um amigo em coma no Metropolitano, outra em Sampa para ver a quantas anda um câncer recém descoberto e uma outra que sua filhota adolescente irá passar por uma cirurgia delicada.
Já eu ganhei um emprego, aliás, dois. Fiquei grata a Deus, mas gostaria que nesse momento ele voltasse seus olhos para as pessoas que citei. Para elas e para aquelas que sofrem por elas. Não dá pra comemorar minha alegria quando sei que pessoas de quem tanto gosto estão passando por situações tão difíceis. Então penso, peso e reavalio minha vida e a vida de tantas pessoas. Nos reis que estão sendo gestados em barrigas de gente com nariz empinado, ar de superioridade e baixos índices de humildade. A enfermidade quando vem não quer saber de coroas ou contas bancárias, ela devasta, devasta o enfermo e aqueles mais próximos.
Que deixemos nossa arrogância de lado, nossos egos inflados, nossos olhos críticos e julgadores demais e passemos a olhar o outro com mais amor e mais humildade. Que não deixemos de lembrar que o outro é um estranho ímpar, que tem defeitos e qualidades; alegrias e infelicidades e que, acima de tudo, foi moldado nas porradas que levou da vida e pode estar passando por uma situação que você não é capaz de imaginar.
Respeite o outro. É simples, é fácil, é humano.
Boa noite.


(Postado originalmente no Facebook em 12/02/14)

Simples...

Eu e meu apreço por gente simples e aversão a gente metida a besta.
Na porta do cursinho um senhor vende pipoca. Eu compro quase todo dia. Compro porque sempre fico fazendo cálculos mentais do quanto ele precisa vender pra alcançar um salário mínimo que seja. Faço pra ajudar e de quebra saboreio a pipoca crocante e quentinha.
Hoje, além de comprar puxei um dedo de prosa, que ele sem a menor cerimônia correspondeu. Contou-me que o ano passado foi difícil, pois ficou sem vender por quatro meses, vitimado por uma bala perdida que lhe atingiu as costas e saiu rompendo nervos do braço esquerdo, limitando-lhe os movimentos. O fato aconteceu no trajeto de sua casa pra porta do cursinho. Mas como toda boa gente disse que graças a Deus estava recuperado e podia trabalhar novamente.
Seria inútil xingar o tipo de segurança pública que temos. É precária, sabemos.
Friso, na verdade, o esforço deste trabalhador e a vontade que teve de contar sua história. Muitas vezes não somos capazes de ouvir o outro porque são invisíveis aos nossos olhos, seja por nosso egoísmo, falta de tempo ou orgulho besta mesmo, que margeia ainda mais quem à margem já está.
Quero deixar claro que esse tipo de pessoa é que tem meu respeito e admiração: gente simples, humana, trabalhadora; que não se exulta tentando humilhar ninguém ou tecendo comentários desagradáveis em assuntos que não lhes foram solicitadas opiniões.
Somos todos de carne e osso, minha gente. Nascemos, morreremos, apodreceremos ou viraremos cinzas, simples assim. É prudente ser gente durante esse intervalo.
Boa noite.


(Postado originalmente no Facebook em 18/02/14)

O bem retorna

Ontem na missa o padre citou o trecho bíblico que dizia: "dê com a mão direita e que a tua esquerda não veja". Fiquei refletindo sobre aqueles que fazem um bem mas têm a necessidade de expor ou de esperar em troca. Refleti sobre as dívidas de gratidão que nunca são quitadas, uma vez que sempre são cobradas pelos "benfeitores". Acho que ainda somos muito miúdos e não compreendemos o "fazer o bem sem olhar a quem"; não entendemos que o bem que a gente faz retorna, mas não necessariamente por meio daqueles a quem nos doamos, ofertamos, fizemos bem. Ele simplesmente retorna. Portanto, não espere, não lamente e nem guarde mágoas se o bem que você fez não retornou por aquele a quem você fez o bem. Descarte a dívida. Ninguém lhe deve nada. O dever de fazer o bem é seu. Ele há de voltar. Simples assim.


(Publicado originalmente no Facebook em 06/03/14)

Razões

O Facebook me pergunta no que estou pensando....penso em tanta coisa Sr. Facebook. Minha cabeça fervilha, chega a latejar. Mas já que você me pede uma resposta, digo que atualmente penso nas razões que temos quando somos expostos a conflitos. São tantas razões e tantos lados da mesma história que chega a ser enfadonho. Uma coisa é certa: há apenas uma história verdadeira. Não existem várias verdades para um mesmo fato. Existe A VERDADE. Quanto às razões...humanos seres que somos, não abriremos mão da nossa. E nos agarraremos a ela com tanto entusiasmo que convenceremos os mais próximos de que estamos certos, tadinhos...e com isso arrumaremos partidários ufanistas defensores de nossas causas. E eu digo: cuidado! Tomar partido é um negócio arriscado. Lembrem-se das razões. Apertar o botão do "foda-se" nem sempre é a opção mais acertada, apesar de muito corajosa. A emoção tende a atrapalhar suas escolhas e a embaçar sua visão dos fatos. Seja prudente, racional ou fique na sua zona de conforto antes de optar por envolver-se em conflitos que não lhes pertencem, sob o risco de ser injusto ou imbecil demais. #ficadica

(Publicado originalmente no Facebook no dia 22/03/14)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

As crendices de vovó

Quem não teve a memória preenchida por histórias que a vó contava não sabe o que perdeu.
A Dona Ana resgatava de suas origens bragantinas algumas que nos contava, nos passava, ou nos cobrava. São histórias e crendices e lendas e vícios e mandingas e causos que me foram resgatados pela memória quando, outro dia, vi uma postagem no Face. A historinha era mais ou menos assim:
"- Alô muleque! Passa 10 conto que tô com tua mãe aqui e vô matá
- Vixi, mintuiroso que mainha tá aqui do meu lado.
- É, mas tô com a sandália dela e vô imborcar!"
(clima de tensão)...
Eu ri uns dias seguidos lembrando disso.
Pra quem não viveu a infância dos anos 80 ou mesmo antes disso, explico.
Ter a sandália virada era um terror pros mais velhos. Minha vó nos dizia sob forte ameaça: "Se não desvirar a mãe morre!!". Era sério. E poderia ser fatal.
Como naquela época respeitar os mais velhos era praxe, todos obedeciam e a mãe vivia longos anos.
Outra: entrar ou deixar em casa  a sombrinha/ guarda-chuva abertos também era prenúncio de morte da mãe (mau agouro). Tadinha e Deus-o-livre-e-guarde, ninguém jamais ousou duvidar.
Entre os mesmo amaldiçoados e premonitórios estavam: estourar saco plástico ou balão dentro de casa, passar por cima das penas (se passasse, tinha obrigação de "despassar" - outro dia mesmo levei bronca da mamãe, imagina! Uma afronta! "Não é tu que vai morrer mesmo!" Reclamou cheia de mágoa...), pular macaca (amarelinha) na porta de casa e outros que não lembro no momento.
Portanto, se você perdeu essa época maravilhosa e não quer correr riscos, descrevo abaixo alguns que me vêm à memória para facilitar (e prolongar), sua vida.
- Se a garrafa de café estourar, pode contar que morreu alguém próximo (é mau agouro).
- Se a "rasga mortalha" passar sobre seus telhados com seu grito mortal, é só esperar que morrerá alguém próximo.
- Tomar açaí e comer manga: febre na certa!
- Chupar manga com febre: morte na certa. Responsável também por motivos de dúvidas: "Não é possível que fizeste isso fulano, tu não é doido, não comeu manga com febre".
- Comer o coco de dentro do caroço de pupunha: deixa esquecido  (devo ter comido horrores)
- Acordar e abrir logo a janela: te deixa todo torto. Se pisar no chão descalço também.
- Apontar a lua: faz nascer uma verruga feia e enorme na ponta dos dedos.
- Ao arrancar um dente de leite, jogue no telhado, de costas, pra nascer logo outro no lugar.
- Estudar demais: deixa doido (até que concordo um pouco. rsrsrs). Mamãe me tirava da frente dos cadernos logo após algum tempo de estudo pras provas. Dizia: "Tá bom, não é bom estudar demais, fica doido!"
- Não varra a casa no sentido da porta da rua, só do quintal, pois o contrário é só quando morre alguém, pra levar pra fora o espírito do defunto;
- Se você for um covarde de carteirinha, vá a um enterro e repita 03 vezes aos pés do morto: "fulano leve meu medo, fulano leve meu medo, fulano leve meu medo". Pronto, nasce um super-herói.
Claro, sem contar os mais populares:
- Se perder algo, clame por São Longuinho, com a promessa de dar 03 pulinhos e 03 gritinhos após achar o objeto (mas tem que fazer, senão você perde de novo);
- Negar o que quer que seja a uma grávida, faz o neném nascer com a cara do objeto de desejo;
- Aliás, grávidas não podem colocar chaves nos bolsos, sob o risco do neném nascer com alguma marca que ficará eternamente no corpo;
Bom, como comi coco do caroço da pupunha demais, devo ter esquecido uns tantos. Mas ficam estes por aqui pra lhe ajudar e pra ratificar minha infância feliz.

P.S: ninguém na minha família morreu, ficou torto, nasceu cheio de marcas ou criou verrugas. Claro! Somos obedientes e fizemos tudo certinho.

Bjs