sábado, 29 de outubro de 2011

Drão

Drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura...

Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora

Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
Gilberto Gil

Se eu fosse você.

"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente."
 Florbela Espanca

Se um dia alguém lhe fez a pergunta "se você não fosse você, quem gostaria de ser?", aposto que você educadamente respondeu: " gostaria de ser eu mesma, estou satisfeita."
Fico feliz se a resposta for verdadeira, afinal, viver nossa vida e estar satisfeita com ela é o que aprovam os padrões sociais, culturais e divinos.
Eu não, hoje descobri que eu não gostaria de ser eu. Eu gostaria de ser outra pessoa.
Gostaria de ser uma pessoa que há quatro anos não tem paz. Uma pessoa que vive na iminência de ficar desempregada. Uma pessoa que, tendo nascido pobre, escolheu uma profissão pouco rentável e só valorizada nos altos escalões do clero, onde de frente com a realidade, é um lugar bem dificil de chegar. Uma pessoa que teve um filho que dá um enorme trabalho, fazendo sugar  no fim do dia o que ainda resta de força num corpo cansado de tanto trabalho. Uma pessoa que casou com alguém que desconhece o respeito, o companheirismo e a responsabilidade, que há muito perdeu a paciência e o amor (se é que ele um dia existiu). Uma pessoa que sofre humilhações terríveis de um pajé que conhece categoricamente o verbo subestimar. Uma pessoa que, com uma frequência bem maior que o normal, sempre é traída por seus "amigos". Uma pessoa frágil, sofrida e que, sendo humana, carrega um lamentável defeito: tem medo de morrer. E graças ao medo de morrer tem medo de adoecer. E por ter medo de adoecer tem medo de não ter plano de saúde particular se perder o emprego. E se perder o emprego tem medo de ser sustentada por aquele marido citado anteriormente enquanto o ciclo vai se fechando.
Se eu fosse essa pessoa eu certamente não seria feliz. Mas ficaria feliz por poder realizar a troca.
É que as vezes amamos tanto alguém, que gostaríamos de verdadeiramente inverter os papeis pra poder livrar esse alguém da dor que insiste em perdurar.
Se eu fosse você, não tentaria entender, nem julgar, apenas teria a sensibilidade de respeitar um amor sem medidas nem consequencias, e que é puro sangue.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"...sou um par em conflito. Um eu que deseja fugir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinho e outro eu que precisa amar. Nada de “pareja perfecta”, e sim caótica.

Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza.

A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. A gente perde muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente pro espelho e de costas pro mundo.

É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas, como toda relação, essa também desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa do singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu."

Martha Medeiros - "Intoxicados pelo eu", do Livro Feliz por Nada

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mudaram as estações...

...E nada mudou, apesar de eu ter iniciado hoje uma nova rotina, percebi que a vida segue ciclos que se fecham de forma linear. Hoje foram 12 horas de trabalho sem nenhum minuto de aborrecimento. E este estado de espírito me tem sido tão raro que merecia um post.
Nada mudou porque continuo trabalhando muito e direito apesar de achar que não vou conseguir, que tudo vai se complicar e todos os meus hiperbolismos sentimentais.
O meu amor também não mudou, apesar de acharem que não se trata de amor. Ué, mas o amor costuma ter apenas uma face? Perdeu a dicotomia e virou simplesnte amor? Não creio. Do contrário, meu parco conhecimento linguístico não me permite nominar.
Mudaram as estações de parada obrigatória do dia. Acresceu-se mais uma que por muito tempo marcou meus dias e me fez lembrar tanta coisa vivida naquele lugar: os amigos feitos, o aprendizado, as tardes à espera de uma carona até a faculdade, as paixões platônicas e posteriormente realizadas, o contato com as verdadeiras misérias do ser humano.
Volto ao lugar onde me fiz crescer como profissional, onde experienciei o sabor da luta com um salário que nada pagava, mas que acabou me permitindo usar uma beca ao fim do curso.
Nada mudou porque continuo com o cordão umbilical atado há quase 13 anos em um mesmo ponto de apoio que me deixa confusa, grata, feliz, aborrecida e embotada em sentimentos diversos.
Mas eu sei que alguma coisa anteceu:
Nunca tive tanta certeza que o pra sempre sempre acaba!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre RESPEITO

Há muito tempo aprendi uma preciosidade:
Na lei dos homens e PRINCIPALENTE na lei de Deus TODOS SOMOS IGUAIS
O que me espanta nessa certeza é o fato de ela não ser fato, além de provas que desvirtuam essas leis. Hoje fui premiada com um "delicioso" chá de cadeira de exatas 4 horas e 40 minutos.
Sabe-se que qualquer ser humano tem um limite de paciência, uns menos outros mais, mas nenhum 100%. Acho que tô no meio do caminho. Pois bem.
Hoje desejei pela primeira vez na vida ter Passarinho no sobrenome e não no coração, pois percebi que teu sobrenome em muitos casos se sobrepõe a qualquer outra qualidade que tenhas. Para mim carga valorativa reside justamente no impalpável: respeito, amor, educação, humanidade, amizade, sinceridade, fé. Um sapato, uma bolsa ou qualquer outra coisa assinada por um sobrenome para mim são apenas COISAS.
Nessa espera desrespeitosa o que ví foram ternos, bolsas, sobrenomes e sapatos passarem na minha frente enquanto eu procurava o que fazer. Pra minha sorte havia um livro na bolsa e um celular cheio de telefones que já não mais estão ativos. Isso me ocupou. Mas o desrespeito do "plantão" não foi esquecido. Na metade da espera um amigo sentou a meu lado e carinhosamente comentou: - "É chato esperar tanto tempo, né? E pensar que as vezes a pessoa entra e ainda não tem uma resposta positiva. É ralado, né querida?!"
É. É ralado, é foda, é revoltante!!!  Sequer uma satisfação era dada enquanto os ponteiros pouco avançavam. Enquanto isso muito trabalho ficava atravancado a minha espera e eu ali, sentada até que não aguentei mais e percebi que do canto externo dos olhos uma minúscula lágrima ia se apresentado como sinal do meu cansaço, minha revolta e meu sentimento de humilhação.
Quando finalmente fui recebida (colocada no penúlimo lugar da "fila") percebi alí um despropósito na minha presença e a ausência de soluções.
Saí dali entre o caos, a revolta, a fome e o desejo infinito e rotineiro de dar um tempo em outras paragens pra ver se a vida muda de estrada, de arquipélago, de geografia, de roteiro, de gaveta. As lágrimas deram uma engrossada e aumentaram a frequência. A torneira foi ligada e o coração esvaziado, endurecendo um pouquinho mais, descrendo um pouquinho mais e percebendo que não importa o quanto você valoriza o bem, os valores morais, o famigerado amor; sempre haverá um filho-da-puta pra criar o antagonismo e tornar o mundo mais podre.
Fico por aqui, antes que meu pote transborde.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Círio de Nazaré na Visão Espírita



Círio de Nazaré
  A fé e a emoção coletiva que falam mais que as dúvidas e a intolerância. Todo mês de outubro em Belém, capital paraense, ocorre a maior festa religiosa do Brasil e também do planeta. Trata-se do Círio de Nazaré. Apenas a título de curiosidade, conheceremos um pouco da história da festa antes de entrarmos na questão moral, relativa à mesma. Conta a história que em 1700, um homem chamado Plácido teria encontrado entre as pedras uma imagem de Maria – mãe do Cristo – em madeira, medindo aproximadamente 28 centímetros. Ela estava  amamentando seu filho. Plácido então, resolveu limpá-la e dar-lhe um altar na própria casa. No entanto, por diversas vezes, a imagem retornava ao lugar onde fora encontrada. Interpretando tal fato como milagre, Plácido resolveu construir uma pequena ermida no lugar onde fora encontrada. Neste lugar hoje se encontra a basílica de Nazaré. A imagem atraía tamanha atenção do povo que o governador da época, Francisco Coutinho, determinou  sua remoção para o palácio da cidade, em Belém, colocando inclusive, guardas para vigiá-la durante as 24 horas do dia. Não demorou muito, e segundo a história, a imagem retornou a pequena ermida. A partir desse momento, a devoção tornou-se ainda maior na região originando-se, em 1773, na festa do Círio de Nazaré.Engana-se quem imagina que adentraremos na questão do culto a imagens, seria superficial e injusto classificar ilegítima uma festa de mais de 200 anos, a qual atrai mais de 2 milhões de pessoas, por uma questão de sincretismo religioso. Igualmente, não destacaremos os excessos cometidos por alguns nesta festa, diga-se o consumo de álcool, ou ainda a questão da maceração física, também praticada por outros. Há muito mais por trás do Círio de Nazaré.Quantas são as oportunidades de visualizarmos uma manifestação religiosa de prática do catolicismo reunindo não apenas católicos, mas evangélicos, espíritas, umbandistas, etc.?  Até os que não tem religião determinada, comparecem todo ano ao encontro com a festa religiosa. O Círio não pertence a determinada religião, está acima disso. Ele pertence ao povo que o realiza e que o considera tão importante quanto o natal. O  Círio é de todos. Nele, não existe padre nem pastor, pobre ou rico, o negro ou o branco. Todos querem contribuir no percurso em que a berlinda com a imagem de Maria percorre e homenageá-la. Tal fato nos revela que é possível a convivência entre as religiões sem agressões ou querelas, sem acusações ou imposições, basta apenas que algo acima se manifeste: A Fé.A nós espíritas, não pensemos que o plano espiritual encontra-se cego ou ausente a tal manifestação. Nos é relatado que as legiões do bem são acionadas para a assepsia fluídica da cidade, envolvendo os fiéis para que todos que ali estão movidos por um sentimento de amor sintam-se melhores. Existe um envolvimento espiritual das falanges do bem em favor da cidade e igualmente dos romeiros, como são chamados aqueles que acompanham a berlinda. Alguns irmãos dotados da vidência igualmente relatam uma entidade, enviada direta de Maria, no lugar onde se encontra a imagem da santa, a distribuir bênçãos e fluidos de amor aos fiéis. As palavras não definem o alcance e o significado sentimental da festa. É necessária a presença no local para o entendimento de tamanha emoção com a passagem da imagem da santa e também do significado do almoço do Círio, símbolo de união da família em forma de alegria e agradecimentos pelo momento vivido.Não é fácil compreender o Círio como fenômeno de fé. O sentimento é tão contagiante e verdadeiro quanto inexplicável, não entendemos a emoção gratuita das pessoas, não sabemos se as lágrimas são fruto do alcance de uma “graça”, um pedido atendido, a cura de uma doença, uma dificuldade vencida, ou a simples emoção coletiva que toma a todos. Se não nos é dada a capacidade da compreensão, que possamos ao menos verificar a vitória da tolerância religiosa em torno de um sentimento coletivo. Se não concordamos com a figura da festa, que admitamos e reflitamos acerca da presença divina no cortejo, algo bem maior que dúvidas ou preconceitos religiosos está em questão. O Círio é fruto da fé dos povos e das religiões ali manifestas, sob a égide e amparo de Deus e, naturalmente, sob as bênçãos da mãe do Cristo, da mãe de todos.

Por Pedro Valiati   
15 de setembro de 2011. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A enxurrada de enganosas grandes ideias

Neal Gabler, do The New York Times - O Estado de S.Paulo

O número de julho/agosto de The Atlantic alardeia as "14 Maiores Ideias do Ano". Prenda o fôlego. As ideias incluem "Os jogadores são os donos do jogo" (n.º 12), "Wall Street: a mesma de sempre" (n.º 6), "Nada permanece secreto!" (n.º 2), e a maior de todas do ano, "A ascensão da classe média - só que não a nossa", que se refere às economias em crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China.

Pode soltar o ar. O leitor deve achar que nenhuma dessas ideias parece particularmente de tirar o fôlego. Nenhuma delas, aliás, é uma ideia.
Elas são mais observações. Mas não se deve culpar The Atlantic por confundir lugares comuns com visão intelectual. As ideias simplesmente não são o que costumavam ser. Em um passado distante, elas podiam acender debates, estimular outros pensamentos, incitar revoluções e mudar fundamentalmente as maneiras como observamos e pensamos o mundo.
Elas podiam penetrar na cultura geral e transformar pensadores em celebridades - notadamente Albert Einstein, mas também Reinhold Niebuhr, Daniel Bell, Betty Friedan, Carl Sagan e Stephen Jay Gould, para citar alguns. As próprias ideias podiam se tornar famosas: por exemplo, "o fim da ideologia", "o meio é a mensagem", "a mística feminina", "a teoria do Big Bang", "o fim da história". A grande ideia podia ganhar a capa da revista Time - "Deus está morto?" - e intelectuais como Norman Mailer, William F. Buckley Jr. e Gore Vidal seriam eventualmente convidados para as poltronas dos talk shows de fim de noite. Isso foi há uma eternidade.
Se nossas ideias parecem menores hoje, não é porque somos mais burros do que nossos antepassados, mas simplesmente porque não ligamos tanto para as ideias quanto eles ligavam. Aliás, estamos vivendo cada vez mais em um mundo pós-ideia - um mundo em que as ideias grandes, as que fazem pensar, que não podem ser instantaneamente monetizadas, têm tão pouco valor intrínseco que menos pessoas as estão gerando e menos canais as estão disseminando, a despeito da internet. As ideias ousadas estão praticamente fora de moda.
Argumento lógico. Não é segredo, especialmente nos Estados Unidos, que vivemos numa era pós-Iluminismo na qual racionalidade, ciência, argumento lógico e debate perderam a batalha em muitos setores e, talvez, até na sociedade em geral, para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Embora continuemos fazendo avanços tecnológicos gigantescos, podemos estar na primeira geração que girou para trás o relógio da história - que retrocedeu intelectualmente de modos avançados de pensar para os velhos modos das crenças. Mas pós-Iluminismo e pós-ideia, embora relacionados, não são exatamente a mesma coisa.
Pós-Iluminismo refere-se a um estilo de pensar que já não mobiliza as técnicas do pensamento racional. Pós-ideia refere-se ao pensar que não é mais feito, independentemente do estilo.
O mundo pós-ideia vem se aproximando faz tempo, e muitos fatores contribuíram para isso. Vemos o recuo nas universidades do mundo real, e um encorajamento, e premiação, da especialização mais estreita em lugar da ousadia - de cuidar de plantas envasadas em vez de plantar florestas.
Vemos o eclipse do intelectual público na mídia em geral pelo sabichão que substitui extravagâncias por ponderação, e o concomitante declínio do ensaio em revistas de interesse geral. E temos a ascensão de uma cultura cada vez mais visual, especialmente entre os jovens - uma forma menos favorável à expressão de ideias.
Mas esses fatores, que começaram há décadas, foram mais provavelmente arautos do advento de um mundo pós-ideia que suas causas principais.
Vivemos na muito alardeada Era da Informação. Por cortesia da internet, temos a impressão de ter acesso imediato a tudo que alguém poderia querer saber. Certamente somos mais bem informados em história, ao menos quantitativamente. Há trilhões e trilhões de bytes circulando no éter - tudo para ser colhido e ser objeto de pensamento.
E é precisamente essa a questão. No passado, nós colhíamos informações não só para saber coisas. Isso era apenas o começo. Nós também colhíamos informações para convertê-las em alguma coisa maior que fatos e, em última análise, mais útil - em ideias que explicavam as informações. Buscávamos não só apreender o mundo, mas realmente compreendê-lo, que é a função primordial das ideias. Grandes ideias explicam o mundo e nos explicam uns aos outros.
Karl Marx chamou a atenção para a relação entre os meios de produção e nossos sistemas sociais e políticos. Sigmund Freud nos ensinou a explorar nossas mentes como meio para compreender nossas emoções e comportamentos. Einstein reescreveu a física. Mais recentemente, Marshall McLuhan teorizou sobre a natureza da comunicação moderna e seu efeito na vida moderna. Essas ideias permitiram que nos desprendêssemos de nossa existência e tentássemos responder as grandes e atemorizantes questões de nossas vidas.
Mas se a informação foi um dia um alimento de ideias, na última década ela se tornou sua concorrente. Estamos como o agricultor que possui trigo demais para fabricar farinha. Somos inundados por tanta informação que não teríamos tempo para processá-la mesmo que o quiséssemos, e a maioria de nós não quer.
A coleta em si é cansativa: o que cada um de nossos amigos está fazendo neste particular momento, e no momento seguinte, e no seguinte; com quem Jennifer Aniston está saindo agora; qual video se tornará viral no YouTube neste momento; o que a princesa Letizia ou Kate Middleton estão usando hoje. Aliás, estamos vivendo dentro da nuvem de uma Lei de Gresham informática onde informações triviais expulsam informações significativas, mas trata-se também uma lei de Gresham nocional em que as informações, triviais ou não, expulsam ideias.
Preferimos conhecer a pensar porque o conhecer tem mais valor imediato.
Ele nos mantém "por dentro", nos mantém conectados com nossos amigos e nossa tribo. As ideias são tão etéreas, tão pouco práticas, trabalho demais para recompensa de menos. Poucos falam ideias. Todos falam informação, geralmente informação pessoal. Onde é que você vai? O que está fazendo? Quem você anda vendo? Estas são as grandes questões de hoje.
Não é por acaso, com certeza, que o mundo pós-ideia brotou com o mundo das redes de relacionamento social. Apesar de haver sites e blogs dedicados a ideias, Twitter, Facebook, Myspace, etc ., os sites mais populares na web, são basicamente bolsas de informações destinadas a alimentar a fome insaciável de informação, embora essa dificilmente seja do tipo de informação que gera ideias. Ela é, em grande parte, inútil exceto na medida em que faz o possuidor da informação se sentir, bem... informado. Evidentemente, pode-se argumentar que esses sites não são diferentes do que a conversa era para gerações anteriores, e a conversa raramente criava grandes ideias, e se estaria certo.
Mas a analogia não é perfeita. Em primeiro lugar, os sites de relacionamento social são a principal forma de comunicação entre jovens, e estão suplantando os meios impressos, que é onde as ideias eram tipicamente gestadas. Depois, os sites de relacionamento social criam hábitos mentais que são inimigos do tipo de discurso deliberado que dá origem a ideias. Em lugar de teorias, hipóteses e argumentos importantes, obtemos tuítes instantâneos de 140 caracteres sobre comer um sanduíche ou assistir um programa de TV.
Universo intelectual. Embora as redes sociais possam alargar o círculo pessoal de alguém e até apresentá-lo a estranhos, isso não é mesma coisa que alargar o universo intelectual pessoal. Aliás, a tagarelice das redes sociais tende a encolher o universo da pessoa a ela mesma e seus amigos, enquanto pensamentos organizados em palavras, seja online seja na página impressa, alargam o foco pessoal.
Parafraseando o ditado famoso, geralmente atribuído ao jogador de beisebol americano "Yogi" Berra, de que não dá para pensar e rebater ao mesmo tempo, também não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar - que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas - é uma forma de distração e anti-pensamento.
As implicações para uma sociedade que não pensa grande são enormes. As ideias não são meros brinquedos intelectuais. Elas têm consequências práticas.
Um artista amigo lamentou recentemente que sentia o mundo da arte à deriva, pois não havia mais grandes críticos como Harold Rosenberg e Clement Greenberg para oferecer teorias da arte que poderiam fazer a arte frutificar e se revigorar. Outro amigo desenvolveu um argumento parecido sobre política. Embora os partidos debatam sobre quanto cortar no orçamento, ele gostaria de saber onde estão os John Rawises e Robert Nozicks que poderiam elevar o nível de nossa política.
Abundância de dados. O mesmo seguramente poderia ser dito da economia, onde John Maynard Keynes continua sendo o centro do debate quase 80 anos depois de propor sua teoria de injeção de estímulos pelo governo. Isso não significa que os sucessores de Rosenberg, Rawls e Keynes não existam, apenas que, se existirem, eles provavelmente não ganharão tração numa cultura que tem tão pouco uso para ideias, especialmente as grandes, excitantes e perigosas, e isso é verdade quer as ideias venham de acadêmicos ou de outros que não fazem parte de organizações de elite e desafiam a sabedoria convencional. Todos os pensadores são vítimas da abundância de informação, e as ideias dos pensadores de hoje também são vítimas dessa abundância.
Mas é especialmente verdade para grandes pensadores nas ciências sociais como o psicólogo cognitivo Steven Pinker, que teorizou sobre tudo - da origem da linguagem ao papel da genética na natureza humana -, ou o biólogo Richard Dawkins, que teve ideias grandes e controvertidas sobre tudo - do egoísmo a Deus -, ou o psicólogo Jonathan Haidt, que analisou sistemas morais diferentes e extraiu conclusões fascinantes sobre a relação - de moralidade a crenças políticas.
Mas como eles são cientistas e empíricos e não generalistas nas humanidades, o lugar a partir do qual as ideias eram costumeiramente popularizadas, eles sofrem um duplo golpe: não só o golpe contra as ideias em geral, mas o golpe contra a ciência, que é tipicamente considerada na mídia, na melhor hipótese, como mistificadora, na pior, como incompreensível. Uma geração atrás, esses homens teriam chegado a revistas populares e às telas da televisão. Agora, eles são expelidos pelo eflúvio informacional.
Alguém certamente dirá que as grandes ideias migraram para o mercado, mas há uma enorme diferença entre invenções com fins lucrativos e pensamentos intelectualmente desafiadores. Empresários têm muitas ideias, e alguns, como Steve Jobs, da Apple, trouxeram algumas ideias brilhantes no sentido "inovador" da palavra.
Mas, embora essas ideias possam mudar a maneira como vivemos, elas raramente transformam a maneira como pensamos. Elas são materiais, não nocionais. São os pensadores que estão em falta, e a situação provavelmente não vai mudar tão cedo.
Nós nos tornamos narcisistas da informação, tão desinteressados por qualquer coisa fora de nós e de nossos círculos de amizade ou por qualquer petisco que não possamos partilhar com esses amigos que se um Marx ou um Nietzsche surgisse subitamente trombeteando suas ideias, ninguém lhe daria a menor atenção, certamente não a mídia em geral, que aprendeu a servir ao nosso narcisismo.
O que o futuro pressagia é cada vez mais informação - Everests dela. Não haverá nada que não conheçamos. Mas não haverá ninguém pensando nisso. Pense nisso. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

É BOLSISTA SÊNIOR NO ANNENBERG NORMAN LEAR CENTER DA UNIVERSIDADE DO SUL DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE "WALT DISNEY: THE TRIUMPH OF THE AMERICAN IMAGINATION"