"...sou um par em conflito. Um eu que deseja fugir e outro eu que deseja ficar. Um
eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu
que discorda. Um eu que gosta de estar sozinho e outro eu que precisa amar. Nada
de “pareja perfecta”, e sim caótica.
Uma relação tranquila consigo mesmo
talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas
vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por
natureza.
A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos
autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. A gente perde
muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas
nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados,
sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às
expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente pro espelho e de costas
pro mundo.
É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por
nós mesmos, mas, como toda relação, essa também desgasta. Fazer o quê? Esquecer
um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa do singular, das nossas
existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando
cansada de tantos eus, inclusive do meu."
Martha Medeiros - "Intoxicados pelo eu", do Livro Feliz por Nada
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Olha Clau...