terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Até o dia em que eu mudar de opinião..."

Uma das coisas que são ditas por mim quando necessário é: O PERDÃO NÃO FOI FEITO PRA MIM. E isto está tão enraizado em mim que as vezes acontece sem que eu perceba.
Aconteceu justamente às vésperas do dia dos pais.
Meu pai separou-se da minha mãe quando eu ainda era recém nascida, junto comigo ficaram minha irmã de seis e meu irmão de sete anos. Fomos morar na casa da avó que não colaborava exatamente com nada, nem pra colocar chupeta na boca se tivéssemos chorando. Mamãe foi trocada pela vizinha costureira, com quem aquele senhor viveu por longos anos...Desde então muita coisa aconteceu.
Não sei se seria tão feliz quanto sou se meu pai tivesse ficado conosco. Certamente não. Certamente minha vida teria tomado outros rumos; teria vivido outras coisas e talvez não tivesse me tornado tão independente como hoje sou.
Papai nunca deixou de nos dar o pouco que podia, aos trancos e barrancos nos alimentou; observava, mesmo que de longe, nosso crescimento e decisões, porém não esteve presente em alguns acontecimentos de pai e foi duro, muitas vezes, sem necessidade.
Eu sempre fui a filha mais amorosa, mais carinhosa. Esses motivos não foram suficientes pra me fazer deixar de amar ou não amar meu pai, entretanto, sinto que nunca o perdoei pelo que fez a Dona Maria de Nazaré, minha maravilhosa e forte mãe, que suportou as rabujices de minha vó cuidando com amor e zelo dos três filhos pequenos que Deus lhe deu. Mulher de poucos estudos e oportunidades limpou casas, cuidou de outras crianças, ajudou cozinheiros em restaurantes chiques da mangueirosa, cortava cebolas, tomates, amassava alhos, recheava pizzas, lavava pilhas e pilhas de louças; chegava tarde com sobras que nos alimentavam deliciosamente; nos amou e ama até os dias de hoje. Enquanto isso, meu irmão comia mangas na oficina do papai; minha irmã estudava e ficava horas de pé atrás de um balcão vendendo linhas, agulhas, rendas; eu, menina entre brinquedos confeccionados por mim e meu primo, sonhava até mais tarde, lavava as roupas da turma no tanque da vovó, estudava...
Cresci, crescemos lutando como qualquer família sonhadora da classe baixa deste nosso país. Venci muitos obstáculos, formei-me professora; minha irmã assistente social, tem uma filha de 1 ano e 10 meses linda e inteligente; meu irmão, se Deus quiser, será o pedagogo da família no fim deste ano, tem 3 filhas de 15 e 12 anos, as primeiras gêmeas, e eu optei por ser a tiazona. Mamãe, quem diria, hoje recebe uma pensão vitalícia da minha vó e papai continua peregrino do seu ofício de técnico em refrigeração, casou-se pela 3ª vez, virou evangélico.
Recentemente, meu irmão saiu de casa, separou-se, e papai comentou o fato comigo lamentando-se pelo ocorrido, a resposta foi: “é, pai, mas ninguém é obrigado a viver com ninguém, né?”. Talvez papai ainda sinta-se culpado por ter abandonado minha mãe nas condições que abandonou, pois minha resposta fez o mesmo efeito das bombas de Hiroshima e Nagasaki: devastador! Motivo suficiente pra que ele exigisse respeito de minha parte e visse não ter motivos para comemorações no dia dos pais porque estava magoado com sua filhinha queridinha.
Pra mim, este foi o grande exemplo da carapuça que serve. Ainda bem que papai tem outros dois filhos, pois do contrário, passaria o dia dos pais sem filhos; como passou muitos natais por escolha.
Em mim ficou uma mágoa ruim, porque o perdão não foi feito pra mim, e meu pai, há quase 31 anos me deu mais motivos pra tristeza, abandonando minha mãe, do que eu a ele, dizendo verdades.
Feliz dia das mães que substituem os pais e nos conseguem fazer feliz com seu amor incondicional!!!!!!!!!


Clau Soares

Um comentário:

  1. "Perdão é isso: você pega a metade da razão de um e da razão do outro e tem uma inteireza. Perdão é abrir mão de ser inteiro na razão. Se a gente continuar querendo ser inteiro, não sobra espaço para o outro. O caminho que nos faz reconciliar é o significado que um tem para o outro. Muitas vezes, nossa incapacidade de perdoar o outro surge porque a gente só pensa no que o outro fez. A gente só consegue perdoar quando pensa o que outro é e não apenas no que ele fez. A gente só perdoa quando esquece o que o outro fez e pensa no que aquela pessoa é para nós. Qual o significado que nos une. O significado prevalece sobre o acontecimento. Acontecimentos são temporários – as pessoas mudam -, o significado permanece”. Padre Fábio de Melo

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Olha Clau...