domingo, 13 de janeiro de 2013

Um assunto delicado...

"Gosto, religião e futebol não se discute".
Escutei isso a minha vida toda e nunca me conformei muito com a ideia. Discutir, dialogar, trocar ideias, dissertar, divergir são coisas que fazem e sempre fizeram parte do meu show. Se o contrário fosse não haveria o Direito (que me corrija Raíssa Biolcati se eu estiver errada), nem o livre-arbítrio (que me julgue Deus). Então preciso tocar num assunto ultra delicado... religião.
Nasci e fui batizada no catolicismo e nele pretendo morrer, com um padre segurando água benta em uma mão e a bíblia na outra, dando ao meu corpo sem vida e à minha alma a extrema unção. Apesar de não ser uma católica praticante, tenho no retrovisor do carro um terço, na carteira um santinho com a oração de São  Jorge (que julgo a mais poderosa de todas) e ao lado do meu computador, no trabalho, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que me acompanha desde o segundo emprego, aos 19 anos. Tenho também um míni presépio em meu quarto, na estante, que fica lá de dezembro a dezembro. Gosto disso tudo, me sinto protegida por esses símbolos.
Nascida em uma família de muitos tios (pelo menos 5 de cada lado) e todos católicos, fui percebendo que conforme ia crescendo eles iam trocando de religião. Hoje, apenas eu e mamãe somos católicas e eu confesso que isso me deixa com uma pitada de incômodo.
Nunca concordei com tudo o que a igreja romana apregoa, o celibato é uma delas, desconfio de trechos bíblicos porque foram escritos pelos homens; os 10% do dízimo, inclusive. Acredito que você não deve gastar tudo o ganha com você enquanto tantos passam fome, e se você ajuda alguém de alguma forma, você está ajudando a igreja a desemprenhar uma de suas tarefas. Isso pra mim é dízimo. Enfim...como paraense acho o Círio de Nazaré o maior exemplo de fé, de religião, de lugar onde Deus, com certeza absoluta, está presente e não me vejo sem viver isso. Por conta desse êxodo religioso familiar, mamãe não faz mais o almoço do Círio. Somos só nós duas, afinal. E vi nos olhos dela a tristeza quando minha sobrinha, que considero filha e fui madrinha de crisma, um ano depois disso foi batizada na Igreja Quadrangular e hoje tem sua Célula. Ok, ninguém é obrigado a morrer seguindo uma doutrina mas, sinceramente, o que leva à mudança? Quais os motivos? Meu pai, que é obreiro na Igreja Mundial da Graça diz: "minha filha, um dia você também vem. Todos vêm, se não for pelo amor, vem pela dor".
Juro, não vou. Não vou porque discordo da ideia de que apenas o evangélicos é que são os salvos. O cristianismo prega que Cristo irá voltar para arrebatar "os seus" que, dizem os evangélicos, "são eles" porque aceitaram Jesus. Eu também aceitei, mas não precisei mudar de religião pra isso e nem alterar minha forma de fé. Acredito que quando Jesus voltar "os seus" tão referidos serão as pessoas de bem, que respeitam o próximo, que não atentam contra a dignidade ou a vida de ninguém, independente da religião que professe. Existem pessoas boas e más em qualquer religião, então por que essa exclusividade?
Escolhas à parte, sinto que eu e a mamãe somos sobreviventes de um naufrágio. E não me importo se isso parecer exagero, melodrama ou qualquer outra coisa, me importo e me incomodo com essa mudança tão sentida; me importo em não poder reunir mais a família no natal dos paraenses; me importo com a ausência de padrinhos nas próximas gerações dos Soares e Furtado; me importo com as tradições que vão ficando pelo caminho: como a defumação que a vovó fazia no último dia de todos os anos depois que chegava do ver-o-peso com sacolas cheias de ervas perfumadas para afastar coisas ruins e atrair coisas boas para o novo ano; me importo com a extinção dos santuários em algum canto das casas; me importo com o barulho que fazem quando realizam seus cultos na vizinhança. Deus não é surdo. É isso.
Não me importo se dirão que se eu mesma falo de livre-arbítrio, então por que escrevi tudo isso? Por que estou tão incomodada? Então para responder recorrerei a duas pessoas: Zeca Pagodinho e Arnaldo Antunes:
"O dono da dor sabe o quanto dói"
"A dor é minha. A dor é de quem tem...É minha só, não é de mais ninguém"

8 comentários:

  1. Claudiana religião é um assunto que se discute ou não, isso sempre depende da educação e capacidade argumentativa das pessoas envolvidas.
    Mas o que não consigo entender é:
    Não dá pra fazer um almoço do Círio com pessoas de diferentes religiões?
    Muita gente comemora o natal sem ser cristão, o ano novo ocidental sem ser ocidental, a Páscoa sem ser judeu, então por que não reunir a família nesta data. Afinal o que importa mesmo são os sentimentos e não a desculpa pra reunir a familia.
    Um abraço moça.

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    1. Eles não comem as comidas do Círio porque são "consagradas `a Nossa Senhora" e eles não são adoradores e imagens. É o que dizem.... Abraços, moço

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    2. Jesus Cristo! Foco na ironia, sou ateu. Como se vocês pedissem pra eles se ajoelharem diante da estatua/altar/imagem? Será que não dá pra compartilhar uma refeição pensando no ser humano que está a sua frente?
      Um abraço moça e melhor sorte nos próximos Cirios.

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    3. Pois é, fé cega, faca amolada! Bjs moço! E venha conhecer o círio. Tenho certeza que iria adora fazer um documentário sobre...ou um filme...

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  2. Oi, Claudiana,
    Saudades. Gostei do seu texto. Concordo com o que você diz, pois penso da mesma forma. Tenho algumas primas que trocaram de religião e ainda estranho isso, acostumada aos almoços de Círio em Belém e em Vigia, terra de minha mãe, hoje sinto falta delas em nossas reuniões.

    Beijos

    Denise

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    1. Beijos Denise, saudades também. Valeu a visita e a opinião. Beijinhos

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  3. Sem correções necessárias, minha amiga. Olha só, de uns tempos pra cá, eu mesma parei de discutir sobre religião. Eu observo, lamento e até respeito. Mas admito que criei um certo preconceito em relação aos evangélicos e realmente me envergonho disso. É triste. Mas não me conformo com a linha de pensamento dos evangélicos sobre muitas e muitas coisas. Eu poderia dizer que não concordo mas não é isso, é que eu realmente não me conformo! Eu não concordo com algumas condutas de outras religiões, mas em relação aos evangélicos, eu lamento e me entristeço. Eu concordo com seu ponto de vista sobre quem vai ser salvo e tudo mais que você escreveu aí em cima. Eu parei de discutir sobre religião, porque eu “não me conformo” tanto que meu coração fica apertado. Um dia desses eu li pelo facebook o desabafo de um evangélico, ele tava falando sobre como ele estava triste com a religião dele pelo fato de que as pessoas não discutem, o pastor não discute, é o que se lê, é o que aquela doutrina entende e interpreta e é isso que é passado e repassado aos fieis e isso entristece. A falta de diálogo, de discussão, a tentativa frustrada, não, a ausência de tentativa mesmo, de se buscar a verdade ou o mais coerente a ser extraído do livro sagrado... Isso praticamente não existe. Eu não quero generalizar, eu nunca quero, mas é impossível não generalizar uma religião quando o comportamento da maioria é assim, mas por este motivo, amo exceções. Conheço evangélicos incríveis, com ideias, opiniões, interpretações, conhecimentos incríveis sobre a palavra de Deus que chegam a me despertar admiração, mas são apenas dois num mar de pessoas que a meu ver acabam sendo ignorantes. Eu amo Jesus. Eu tenho Jesus na minha desde sempre e também não vejo a necessidade de me converter para isso. Meu caso tá tão sério que eu não tenho mais assunto com evangélicos, porque me sinto oprimida. Me sinto julgada por pessoas que se dizem amar tanto Jesus, mas que em 90% dos casos julgam todas as outras pessoas por não serem evangélicas, não sabem o significado da palava “respeito” e o pior de tudo é que se respaldam na suposta palavra do Senhor para justificar esse tipo de comportamento. Eu poderia passar muitas e muitas horas falando sobre isso, até porque eu já fui diretamente atingida por essa situação. Essa “dor” que tu estás falando, eu entendo, porque ela é sentida aqui todos os dias de tal forma que não encontro nem adjetivos para expressá-la. Minha dor é tanta que eu já cansei de chorar rios de lágrimas por pessoas que se respaldam na palava do Senhor para julgar, condenar, diminuir e que são incapazes de se olhar no espelho ou simplesmente pra dentro de si e fazer uma autorreflexão, porque se iludem achando que o que fazem é o certo, pois essa supostamente seria a vontade de Deus. Deus. Deus é amor. Deus é puro. Deus é muito mais do que o pouco que muita gente enxerga e pensa que é tudo. E Deus está dentro de cada um de nós. Uma vez eu li que cada um de nós tem o Deus que merece e talvez seja isso mesmo, uma vez que o espaço, a importância e a proporção que Ele toma em nossas vidas depende daquilo que nós nos permitimos sentir. A fé é a experiência mais incrível que eu já tive na minha vida e se hoje eu estou aqui escrevendo esse texto é porque Deus e a minha fé me permitiu chegar até aqui. Enfim, oremos por um mundo melhor, onde as pessoas se respeitem mais e consigam abrir seus olhos, sua mente e seu coração para o amor.
    Beijos, amigaa!

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Olha Clau...