domingo, 1 de abril de 2012

Guerra Fria

Há muito tempo tô querendo escrever sobre isso de maneira metafórica para tratar de relações de amizade. Originalmente e para quem perdeu as aulas da disciplina por indisciplina, a Guerra Fria foi um conflito entre duas grandes potências: Estados Unidos e União Soviética, e que não as fez chegar "as vias de fato", o berço do conflito passava por questões política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica. Nas relações de amizade a coisa se dá mais ou menos na mesma ordem (ou desordem, eu diria). Entre grupos grandes, pequenos ou entre dois amigos a coisa flui na mais perfeita harmonia até que os interesses ou idéias se tornem divergentes e os defeitos comecem inevitavelmente a ser percebidos.
Reunir os amigos pra um bate-papo, um chopp ou um final de semana na praia é motivo pra muitos risos e muitas histórias pra contar e algumas para omitir. É nesses momentos que se descobrem as afinidades e, com o tempo de convivência...as divergências: "Poxa, mas fulano não era assim tão arrogante. Sicrana não era tão individualista". Era sim, apenas não mostrou logo, pois estragaria o bom muito cedo. Ademais tudo o que fica muito tempo exposto perde inevitavelmente o gosto, o interesse, a cor, o sabor. Era sim, porque ninguém perde a sua essência e porque cedo ou tarde as máscaras sempre caem e o que sobra ali, estampado é o que realmente é, à sua escolha, continua??
Entra na história "a Guerra Fria". De um lado está aquela pessoa que você adorava, admirava, não sabia ir comprar um Band-aid sem convidá-la só pelo prazer da companhia. Surgia um show na cidade e você logo fazia uma convocação oficial, mesmo sabendo que o outro detesta New Kids on The Block. E ele vai. Do outro lado está você fazendo a política da boa vizinhança mas no fundo tentando evitar a companhia porque você não é capaz de chegar e encher a cara do outro com suas verdades, afinal, a maturidade lhe ensinou que não vale a pena e o bom senso lhe diz que as vezes o silêncio é a melhor resposta.
Você percebe o outro cometendo deslizes atrás de deslizes, comprometendo seu caráter e sua identidade e fica calado. Por quê? Porque sabe que o outro está cheio de si e não vai lhe ouvir, então você assume o seu lado egoísta, já que todos o temos, e deixa o outro pra lá, viver da maneira que acha que deve, em seu mundo, em seus sonhos e suas realidades. Escolha. Claro, você não é obrigado a aceitar, e por pura educação deixa o outro lá sem entrar em conflito, sem partir para a guerra e também sem tentar desentortar porque, afinal, você enxerga que há outras opiniões irmãs da sua e isso te causa um alívio: "puxa, não estou só no mundo".
Você vai viver o seu conflito no campo ideológico. Por dentro você tem vontade de pegar a criatura pelo pescoço e dar um "acorda, Alice" nela, mas ao invés disso você vira um espectador de deslizes e vez em quando descarrega suas opiniões "no papel" percebendo claramente que o outro age da mesma forma e talvez pense como você a respeito da situação. Um louco pra se livrar do outro, mas pra não entrar em guerra física, escolhe a guerra fria.
Estou presenciando uma guerra dessa nível, as vezes de camarote, como expectadora, as vezes como personagem e acho sinceramente fantástico ler nas entrelinhas e nas tirinhas o não dito, velado por questões talvez éticas, talvez covardes e, ainda que não queira, acaba se expondo, ao ridículo ou ao descrédito.
O resultado disso é o mesmo do que ocorreu com a história, a guerra acaba somente no campo das aparências, por trás há muito lixo, mágoa, receios e outros para serem revirados e não se sabe exatamente o que fazer com o que restou.


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Olha Clau...