segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Revival

"Você apareceu do nada....
Não dá pra imaginar quando é cedo ou trade demais
 pra dizer adeus, pra dizer jamais!"

Há momentos na nossa vida que a razão deixa de ter razão e as coisas não fazem o menor sentido. São as épocas do inexplicável, em que todas as suas teorias, certezas e promessas são levadas pela correnteza do rio da vida e depois você se vê revivendo ou fazendo o que jamais imaginou.
Uma dessas correntezas deu uma volta de 17 anos e voltou para me fazer banhar no improvável. Claro que a água já não era a mesma que um dia eu havia tocado, eu também havia mudado. Trouxe como bagagem um história de casamento, de filhos, de separação e, para a minha surpresa, a garrafa que carregava o pergaminho em papiro contando a nossa história de 17 anos atrás estava lá, intacta e resgatada pela memória daquele que aos 16 anos foi  meu primeiro namorado.
Não sei se já falei dele aqui. Ele era o tipo alternativo, cabelos grandes, fã de Engenheiros do Hawai e de chinelos de dedo em couro, jogadão, desleixado e o tipo inteligente que, diga-se de passagem, é a característica em um homem que mais me chama a atenção. Havia uma amiga em comum no meio do caminho, que nos apresentou e o final foi um namoro que durou um ano e meio mais ou menos até eu descobrir que ele andava ciscando em terreiro alheio. Terminei o namoro e ele acabou assumindo o namoro com essa que depois tornou-se a mulher que lhe deu dois filhos.
O nosso namoro era bonitinho e redondo, sem avanços, sem pressa. Do tipo que troca presentes e beijos normais. Do tipo somente aos finais de semana. Do tipo bicicleta estacionada na porta. Do tipo que manda cartas e que não conhecia celular. Do tipo querido diário...
Foi meu primeiro namorado e nele derramei expectativas e sonhos, nele investi tijolos e cimentos e como qualquer namorinho adolescente, com ele me decepcionei. E graças a idade que tinha eu guardei mágoas e fiquei de mal. Não queria mais olhar na cara. Derramei umas lágrimas sentidas, mas depois como era devido, as coisas tomaram o seu rumo.
Há quinze dias ele apareceu por aqui por conta de um assunto que tinha a tratar com meu irmão e perguntou por mim. A família alcoviteira informou que eu continuava solteira e ele informou do divórcio todo feliz.
No sábado, cheguei na festa da minha sobrinha e dei de cara com meu passado. E foi exatamente aí que um filme passou na minha cabeça e, graças a força do tempo e a maturidade eu me aproximei e perguntei: "Não vai levantar pra me cumprimentar?"
Ele levantou e depois nos sentamos juntos. Foi tão bom ter a oportunidade de reviver nossa história contada por dois adultos, pesada, avaliada, revisitada que nem mesmo em mil anos eu imaginaria uma oportunidade dessas que só prova o quanto o clichê que diz que o mundo é redondo e dá voltas está certo. E veja só, depois de todo esse tempo ele guardava mágoas por coisas que não aconteceram, por falsas verdades que, sabe lá quem inventou, e eu precisei me explicar porque tem coisas que não fogem disso e acredito que ele não aceitou, mas é que palavra dada é julgamento de quem ouve. Eu o entendi. Ele me pediu desculpas pelos erros e disse que me amou muito, que acreditava que iríamos mais longe, que adorava a minha família, que minha mãe era a sogra de que mais havia gostado e que nunca se aproximou porque acreditava, imagina, que eu ainda guardava mágoas. Disse que no começo eu havia, sim, ficado muito magoada e que por isso não tinha sido capaz de passar por cima da traição, mas depois veio o entendimento e eu fiquei feliz porque a pessoa com quem ele me traiu tinha dado uma família a ele, que de alguma forma ele tinha construído uma vida ao lado dela, que talvez eu não pudesse ter feito o mesmo. Ele me entendeu.
E fomos além, ele tinha o compromisso da formatura do irmão e na despedida trocamos um beijo. Isso não pudemos lembrar, eram outras bocas que ali se encostavam, mas foi bom.
Vinte minutos depois fui novamente pega de surpresa: meu telefone tocou e era ele dizendo que estava voltando porque onde estava não tinha o que ele queria. E voltou para receber a torcida e encarnação da família. E ficou, e me olhou nos olhos, e me disse o que eu jamais esperei, imaginei, cogitei: quer namorar comigo de novo?
Empalideci.
Quem ele pensa que é pra me tirar assim em poucas horas da minha zona de conforto, mexer com meus instintos, fazer com que eu reviva minha adolescência, me roubar um beijo e me fazer acreditar que recém separado ele quer viver um relacionamento com sua namorada de dezessete anos atrás? Como assim? Traz o roteiro que tô querendo editar. Juro, não fui capaz de levar isso a sério. É muita informação pra digerir em poucas horas. Fui muito franca e disse exatamente isso, então a gente desconversou e aproveitou (e como) a noite. Sem maiores detalhes...
Continuamos nos falando. Ele tem ligado esses dias.
E eu só estou pensativa e grata à vida por ter nos dado a chance de nos revisitar, nos reencontrar, nos entender, nos explicar, nos desculpar e fazer o que não fizemos no verão passado.
É vida, quanto mais tu passas por mim, menos eu saberei te explicar. Um coisa é certa: vez em quando eu adoro tuas gratas surpresas.

"O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou"

sábado, 20 de outubro de 2012

Círio

A fé é um exercício pra vida inteira. Muitas e muitas vezes, eu me distancio incrivelmente dela, 

achando que posso resolver tudo sozinha. Não é raro nessas ocasiões, na verdade é bastante 

comum, eu me atrapalhar toda num turbilhão de emoções que me drenam a energia e o sorriso. 

Mas, toda vez que consigo acessá-la, de novo, tudo se modifica e se amplia na minha paisagem 

interna. (…) Então, faço o que me cabe e entrego, mesmo quando, por força do hábito, eu ainda dê 

uma piscadinha pra Deus e lhe diga: “Tomara que as nossas vontades coincidam”. Faço o que me

 cabe e confio que aquilo que acontecer, seja lá o que for, com certeza será o melhor, mesmo que 

algumas vezes, de cara, eu não consiga entender. Ana Jácomo


Mais um outubro, mais uma Círio pra relatar. Você precisa vir a Belém pra sentir, já que não é possível explicar, é desnecessário querer entender. Você verá uma cidade em festa, uma cidade recoberta pela fé, pela devoção e por uma energia de paz tão intensa, que ainda que estejas com os dias miúdos, te fara forte. Você vai chorar sem saber porquê e será tomado por uma emoção tão intensa que não saberá mais viver sem. O Círio se descortina por entre essas emoções.
Este ano tive a felicidade de participar, dentre as 13 romarias, da fluvial, acompanhada por grandes amigas. E foi lindo!
Eu olhei pra mãe com o menino no colo e ela me disse: "Recebe a paz, minha filha. Segue tua vida, resiste aos percalços e descalça as sandálias somente em solo sagrado. Você não há de perder sua condição primeira: você é filha de Deus e o mais é mais"
Depois não houve mais nada que não fosse agradecer diante daquele céu imensamente azul e em festa. Lindo. Divino. E ali, diante de todo aquele clima e depois de tanto e tanto tempo eu chorei. Quando me dei conta, minhas lágrimas já se misturavam às águas do rio. Intensas, fortes, gratas pelas coisas que Deus colocou e pelo que tirou do meu caminho, da minha vida. Ele tudo sabe.
O Círio é assim. Segundo o Pe. Fábio Jesus antecipa seu nascimento dois meses antes aqui em Belém. Ele primeiro nasce aqui para dois meses depois nascer para o mundo inteiro. Disse ainda que a pergunta mais ingrata que alguém pode fazer a um paraense é: o que é o Círio? Eu concordo.
Talvez seja a sensação mais inexplicável do mundo. E eu que deixei de acreditar nas pessoas acho que neste dia as pessoas até ficam boas, mesmo aquelas que se acham superiores e melhores que outros têm a consciência que no Círio somos todos filhos, somos todos irmãos.
Agora me emociono com os show realizados no Círio Musical, na concha acústica do CAN: pe. Fábio de Melo encantou ao cantar com Fafá de Belém "Eu sou de lá", música que compôs pra filha da terra; Anjos de Resgate mais um ano dando um show de música e de pregações. Hoje teremos Adoração e Vida e eu estarei lá pra ver Walmir Alencar cantar "Abraço de Pai". É assim que me sinto no Círio: abençoada e abraçada pelo Pai.
No dia 12 fui com a minha princesinha andar de roda gigante. Eu morta de medo e ela dizendo: "bora didinha, eu sei que tu te garante!" Menina inteligente. Claro que fui, eu não poderia perder esse referencial de coragem. Depois da volta na roda fomos à igreja eu fiz comque ela dobrasse os joelhos e juntas rezamos pedindo perdão a Deus por nossos pecados. Ela fiz pedir perdão à Mãezinha por uma tolice muito feia que fez com sua mamãe.
Nessas horas agradeço a Deus por ter nascido nesta terra, mesmo com o desejo de ir embora daqui. Mas Deus sabe meus motivos e minhas andanças.
Enquanto isso, aproveito ao máximo a época. Em minha opinião, a mais linda do ano.
Feliz Círio a todos.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Caderno

Na minha velha infância, rolava sempre na escola e entre os amigos da rua o famoso caderno de perguntas. Tratava-se de um questionário que ocupava todas as páginas de um caderno pequeno, enumerado, em que as pessoas que interessavam ao proprietário respondiam, mantendo a fidelidade de seus números até o final das folhas. Era mais ou menos assim... (Em tempo: se Dom Rafa seguisse esse blog eu até pediria a ajuda de seus desenhos, mas recorri ao Google mesmo. rsrs)
As perguntas eram as mais inocentes possíveis: "Qual seu filme preferido?", "Qual sua comida favorita?", "Em quem você deu o primeiro beijo?"...E lá ia a galera respondendo.
Hoje me pergunto a real intenção do "inocente" caderno: era para aproximar você do outro, fazer um novo amigo ou simplesmente xeretar a vida alheia? Se você respondeu que servia para as três coisas creio que essa seja a resposta correta.
Seria funcional, mas nem um pouco prático, se você tivesse um desses em mãos antes de apertar a mão de alguém e dizer: muito prazer ou nice to meet you para os mais afrescalhados. Eu, por exemplo, adoraria ter o tal caderno, mas trocaria as perguntas...
1. Antes de saber seu nome, me diga, você se considera um exímio mentiroso? Se sua resposta for SIM, suas perguntas terminam aqui; se for NÃO, humm, deixa eu pensar se acredito...ok, vai lá; se for MAIS OU MENOS eu vou te dar essa chance.
2. Com quantos membros da sua família você já ficou de mal?
3. Você se acha o máximo? Por quê?
4. Qual sua opinião sobre respeito às opiniões alheias?
5. Quais seus maiores defeitos? (como ser humano normal você não deve ter só um)
6. Qual sua maior qualidade? (baixe sua bola, é só uma!)
7. Se você já ajudou alguma pessoa carente, como se sentiu depois disso: orgulhoso ou normal?
8. Você já humilhou alguém?
9. Você segura os cadernos de estudantes ou cede lugar aos idosos no ônibus?
10. Você já deixou de receber troco a mais, por quê?
11. Qual o seu conceito de corrupção?
12. Qual o seu preconceito? (Faça um esforço, eu sei que você consegue, eu sei que você deve ter algum)
13. Você tem necessidade de ser elogiado, ovacionado, adorado, consultado?
14. O que você chama de amor?
15. O que você chama de amizade?
16. Você respeita a religião dos outros?
17. Qual o seu conceito de família? Você acha que tem uma?
18. Você se reavalia com frequência e nessa reavaliação consegue encontrar seus defeitos, de verdade?
19. O que você considera, efetivamente, ajudar alguém?
20. Quando alguém não é o seu espelho você acha isso um erro ou uma virtude? Por quê?
21. Você acredita em Deus?
22. Em que você acredita?
23. O que você acha da música que os outros ouvem?
24. Você sonha em ter, ser ou estar em uma ilha?
25. Com que frequência você fala olhando nos olhos?
26. Por que você leu e respondeu até aqui?
27. Por que você acha que devo saber de você?

Responda as próximas perguntas depois da minha observação na próxima página. Se minha observação estiver em AZUL, leia a pergunta 28, se em VERMELHO, leia a 29. E para os dois, caso queiram, a 30. Obrigada.

... ... ... ... ... ...

28. Vamos tomar um chop?
29. Por que você não vai tomar no cú?
30. Você poderia deixar seu recado pra mim sem firulas, sem floreios e sem mentiras?

Obrigada.

Seria mais ou menos assim. Em 30 perguntas eu não resumiria ninguém, mas já teria uma breve ideia de com quem iria lidar. Há surpresas que não têm porque nos pegar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sobre a tristeza...

"...Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. ...
Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia...

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos." (Martha Medeiros)