"Você apareceu do nada....
Não dá pra imaginar quando é cedo ou trade demais
pra dizer adeus, pra dizer jamais!"
Há momentos na nossa vida que a razão deixa de ter razão e as coisas não fazem o menor sentido. São as épocas do inexplicável, em que todas as suas teorias, certezas e promessas são levadas pela correnteza do rio da vida e depois você se vê revivendo ou fazendo o que jamais imaginou.
Uma dessas correntezas deu uma volta de 17 anos e voltou para me fazer banhar no improvável. Claro que a água já não era a mesma que um dia eu havia tocado, eu também havia mudado. Trouxe como bagagem um história de casamento, de filhos, de separação e, para a minha surpresa, a garrafa que carregava o pergaminho em papiro contando a nossa história de 17 anos atrás estava lá, intacta e resgatada pela memória daquele que aos 16 anos foi meu primeiro namorado.
Não sei se já falei dele aqui. Ele era o tipo alternativo, cabelos grandes, fã de Engenheiros do Hawai e de chinelos de dedo em couro, jogadão, desleixado e o tipo inteligente que, diga-se de passagem, é a característica em um homem que mais me chama a atenção. Havia uma amiga em comum no meio do caminho, que nos apresentou e o final foi um namoro que durou um ano e meio mais ou menos até eu descobrir que ele andava ciscando em terreiro alheio. Terminei o namoro e ele acabou assumindo o namoro com essa que depois tornou-se a mulher que lhe deu dois filhos.
O nosso namoro era bonitinho e redondo, sem avanços, sem pressa. Do tipo que troca presentes e beijos normais. Do tipo somente aos finais de semana. Do tipo bicicleta estacionada na porta. Do tipo que manda cartas e que não conhecia celular. Do tipo querido diário...
Foi meu primeiro namorado e nele derramei expectativas e sonhos, nele investi tijolos e cimentos e como qualquer namorinho adolescente, com ele me decepcionei. E graças a idade que tinha eu guardei mágoas e fiquei de mal. Não queria mais olhar na cara. Derramei umas lágrimas sentidas, mas depois como era devido, as coisas tomaram o seu rumo.
Há quinze dias ele apareceu por aqui por conta de um assunto que tinha a tratar com meu irmão e perguntou por mim. A família alcoviteira informou que eu continuava solteira e ele informou do divórcio todo feliz.
No sábado, cheguei na festa da minha sobrinha e dei de cara com meu passado. E foi exatamente aí que um filme passou na minha cabeça e, graças a força do tempo e a maturidade eu me aproximei e perguntei: "Não vai levantar pra me cumprimentar?"
Ele levantou e depois nos sentamos juntos. Foi tão bom ter a oportunidade de reviver nossa história contada por dois adultos, pesada, avaliada, revisitada que nem mesmo em mil anos eu imaginaria uma oportunidade dessas que só prova o quanto o clichê que diz que o mundo é redondo e dá voltas está certo. E veja só, depois de todo esse tempo ele guardava mágoas por coisas que não aconteceram, por falsas verdades que, sabe lá quem inventou, e eu precisei me explicar porque tem coisas que não fogem disso e acredito que ele não aceitou, mas é que palavra dada é julgamento de quem ouve. Eu o entendi. Ele me pediu desculpas pelos erros e disse que me amou muito, que acreditava que iríamos mais longe, que adorava a minha família, que minha mãe era a sogra de que mais havia gostado e que nunca se aproximou porque acreditava, imagina, que eu ainda guardava mágoas. Disse que no começo eu havia, sim, ficado muito magoada e que por isso não tinha sido capaz de passar por cima da traição, mas depois veio o entendimento e eu fiquei feliz porque a pessoa com quem ele me traiu tinha dado uma família a ele, que de alguma forma ele tinha construído uma vida ao lado dela, que talvez eu não pudesse ter feito o mesmo. Ele me entendeu.
E fomos além, ele tinha o compromisso da formatura do irmão e na despedida trocamos um beijo. Isso não pudemos lembrar, eram outras bocas que ali se encostavam, mas foi bom.
Vinte minutos depois fui novamente pega de surpresa: meu telefone tocou e era ele dizendo que estava voltando porque onde estava não tinha o que ele queria. E voltou para receber a torcida e encarnação da família. E ficou, e me olhou nos olhos, e me disse o que eu jamais esperei, imaginei, cogitei: quer namorar comigo de novo?
Empalideci.
Quem ele pensa que é pra me tirar assim em poucas horas da minha zona de conforto, mexer com meus instintos, fazer com que eu reviva minha adolescência, me roubar um beijo e me fazer acreditar que recém separado ele quer viver um relacionamento com sua namorada de dezessete anos atrás? Como assim? Traz o roteiro que tô querendo editar. Juro, não fui capaz de levar isso a sério. É muita informação pra digerir em poucas horas. Fui muito franca e disse exatamente isso, então a gente desconversou e aproveitou (e como) a noite. Sem maiores detalhes...
Continuamos nos falando. Ele tem ligado esses dias.
E eu só estou pensativa e grata à vida por ter nos dado a chance de nos revisitar, nos reencontrar, nos entender, nos explicar, nos desculpar e fazer o que não fizemos no verão passado.
É vida, quanto mais tu passas por mim, menos eu saberei te explicar. Um coisa é certa: vez em quando eu adoro tuas gratas surpresas.
O nosso namoro era bonitinho e redondo, sem avanços, sem pressa. Do tipo que troca presentes e beijos normais. Do tipo somente aos finais de semana. Do tipo bicicleta estacionada na porta. Do tipo que manda cartas e que não conhecia celular. Do tipo querido diário...
Foi meu primeiro namorado e nele derramei expectativas e sonhos, nele investi tijolos e cimentos e como qualquer namorinho adolescente, com ele me decepcionei. E graças a idade que tinha eu guardei mágoas e fiquei de mal. Não queria mais olhar na cara. Derramei umas lágrimas sentidas, mas depois como era devido, as coisas tomaram o seu rumo.
Há quinze dias ele apareceu por aqui por conta de um assunto que tinha a tratar com meu irmão e perguntou por mim. A família alcoviteira informou que eu continuava solteira e ele informou do divórcio todo feliz.
No sábado, cheguei na festa da minha sobrinha e dei de cara com meu passado. E foi exatamente aí que um filme passou na minha cabeça e, graças a força do tempo e a maturidade eu me aproximei e perguntei: "Não vai levantar pra me cumprimentar?"
Ele levantou e depois nos sentamos juntos. Foi tão bom ter a oportunidade de reviver nossa história contada por dois adultos, pesada, avaliada, revisitada que nem mesmo em mil anos eu imaginaria uma oportunidade dessas que só prova o quanto o clichê que diz que o mundo é redondo e dá voltas está certo. E veja só, depois de todo esse tempo ele guardava mágoas por coisas que não aconteceram, por falsas verdades que, sabe lá quem inventou, e eu precisei me explicar porque tem coisas que não fogem disso e acredito que ele não aceitou, mas é que palavra dada é julgamento de quem ouve. Eu o entendi. Ele me pediu desculpas pelos erros e disse que me amou muito, que acreditava que iríamos mais longe, que adorava a minha família, que minha mãe era a sogra de que mais havia gostado e que nunca se aproximou porque acreditava, imagina, que eu ainda guardava mágoas. Disse que no começo eu havia, sim, ficado muito magoada e que por isso não tinha sido capaz de passar por cima da traição, mas depois veio o entendimento e eu fiquei feliz porque a pessoa com quem ele me traiu tinha dado uma família a ele, que de alguma forma ele tinha construído uma vida ao lado dela, que talvez eu não pudesse ter feito o mesmo. Ele me entendeu.
E fomos além, ele tinha o compromisso da formatura do irmão e na despedida trocamos um beijo. Isso não pudemos lembrar, eram outras bocas que ali se encostavam, mas foi bom.
Vinte minutos depois fui novamente pega de surpresa: meu telefone tocou e era ele dizendo que estava voltando porque onde estava não tinha o que ele queria. E voltou para receber a torcida e encarnação da família. E ficou, e me olhou nos olhos, e me disse o que eu jamais esperei, imaginei, cogitei: quer namorar comigo de novo?
Empalideci.
Quem ele pensa que é pra me tirar assim em poucas horas da minha zona de conforto, mexer com meus instintos, fazer com que eu reviva minha adolescência, me roubar um beijo e me fazer acreditar que recém separado ele quer viver um relacionamento com sua namorada de dezessete anos atrás? Como assim? Traz o roteiro que tô querendo editar. Juro, não fui capaz de levar isso a sério. É muita informação pra digerir em poucas horas. Fui muito franca e disse exatamente isso, então a gente desconversou e aproveitou (e como) a noite. Sem maiores detalhes...
Continuamos nos falando. Ele tem ligado esses dias.
E eu só estou pensativa e grata à vida por ter nos dado a chance de nos revisitar, nos reencontrar, nos entender, nos explicar, nos desculpar e fazer o que não fizemos no verão passado.
É vida, quanto mais tu passas por mim, menos eu saberei te explicar. Um coisa é certa: vez em quando eu adoro tuas gratas surpresas.
"O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou"