quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O jogo da regra

Olá, como vai?
-Tudo bem. E com você?
- Bem também., graças a Deus.
Que dizer, na verdade me aconteceram algumas coisas essas semana...
(Ai, não! Lá vem despejar aquele monte de desgraças, não perde a mania!)
- O que houve?
(Puta merda, não era pra eu ter falado isso! Será que eu conto?)
- Meu marido me traiu.
(Bem feito, corna! quem mandou vacilar?! Mas adoro uma fofoca)
- Menina, me conta como foi isso...
(Ai, não! nada haver contar minhas intimidades. Ainda vai me chamar de corna um dia...)
- Bom, já tinha um tempo que andava desconfiando, sabe. Ele vinha com aquele velho papo de reuiões pós expediente; o telefone ficava longe de mim como uma peste bubônica e quando tocava ele se apressava em atender. Ficava meio de lado e sempre falava em alto e bom tom nomes masculinos: "Fala Marcelo", "O que é que tu mandas Beto?", "E aí Fernando?"...
(Ahã? Marcela, Roberta e Fernanda. Fácil de deduzir).
- Pois é, aquilo foi me irritando e daí passou a ser uma questão de honra descobri a verdade. Eu não dormiria tranquila até que descobrisse.
-Ahã
(Até parece que agora que descobriu que é corna, dorme)
- Passei então a aparecer no meio da manhã no trabalho dele pra convidá-lo pra um café. Quando estava usando o computador eu me colocava sobre seus ombros numa tentativa desenfreada de descobrir a senha do seu email, mas foi em vão. Nunca havia percebido antes o quanto ele era ágil no teclado pra digitar uma senha tão complicada e loga que mais parecia o Salmo 91 em latim, em sentido invertido, extraído de uma Bília Romana.
(Nossa, como é hiperbólica!).
- Caramba!
- Mas eu não desisti.
(Merda, vai me atrazar toda a vida! Bastava dizer que era corna e que, aos 40, havia sido trocada por 2 de 20. Agoram, não, quer me contar toda a sua odisseia nos mínimos detalhes. Tenho mais o que fazer, ela que resolva seu chifre)
- Um belo dia...
(Porra, descobriu a galhada e ainda diz que o dia era belo)
...Ele ligou pra avisar de mais uma "reunião" e então eu resolvi pegar meu carro, estacionar próximo a empresa e escondida entre outros carros aguradei o desgraçado sair. Juro, tava disposta a colocar tudo em pratos limpos.
- E ele não desconfiou de nada?
(Que merda de pergunta. Mas meu silêncio já estava durando tempo demais, ela poderia desconfiar que aquela conversa já tinha dado, afinal, é minha amiga).
- Claro que não! Como ele iria desconfiar?! Tá doida?
(Filha-da-puta, ainda me xinga!)
- Tens razão.
- Pois é, como eu ia dizendo, fiquei lá plantada feito uma batata roxa
(E gorda!)
esperando ele sair. Depois de meia hora me sai o desgraçado todo sorridente com o banco do carona ocupado por um belo par de coxas: a estagiária.
(Óóó, descobriu a pólvora)
- Que miserável, amiga!
- Peguei meu carro e fui atrás.
(Ô cacete! Ainda foi atrás, vai gostar de sofrer assim no inferno!)
- A-mi-ga, meu mundo caiu quando os vi entrando no motel onde ele costumava me levar.
(É sempre assim, os homens não têm muita criatividade na hora da traição. É tão óbvio que a gente não se dá o trabalho de imaginar).
- Mas que grande cafajeste!
- Não contei conversa, cheguei em casa, arrumei as tralhas dele numa mala velha e fiquei aguardando ele chegar. Ele me devia uma satisafação.
(Ele já tinha dado quando disse que tava numa reunião, ou a senhora acha que ele iria ligar pra dizer: "oi amor, jante sozinha, hoje eu vou chegar mais tarde porque tô fazendo sexo como nunca mais fizemos, com a minha estagiária. ah, eu vou levá-la ao nosso ex-Motel favorito. Você não se importa, né amor?").
- E aí?
(Caralho, tô mais que atrasada, mas a curiosidade voltou, tenho que saber o desfecho dessa história).
- Chegou as nove e meia, desabotoando a gravata e alegando cansaço. Sequer quis jantar. Só disse que precisava dormir.
(Claro, né minha filha, sexo animal cansa. É normal. E ele já havia jantado, e muito bem, como você mesma pôde constatar).
- E você?
- Eu quis morrer, né amiga? Isso não é coisa que se faça com a pessoa que vive ao lado dele há sete anos, que fez de tudo pra construir um casamento sólido, que já planeja filhos, que cuida dele como nenhuma outra jamais cuidaria, que segurou na sua mão quando ele precisou operar do apêndice e "dormiu" três noites naquela poltrona velha e dura do hospital, que sabe advinhar seus gostos, que separa cuidadosamente a sua roupa para o trabalho no dia seguinte, e lhe entrega um sorriso às seis horas todas as manhã, despedindo-me com um longo abraço, um beijo e pedindo pra que ele se cuide, que eu o aguardarei para o jantar, isso tudo com a boca cheia de Listerine porque ninguém merece beijar o outro com gosto de baba e... meeeeeeu Deeeeus, tô a-tra-sa-do-na!!!!!!! O carro dele quebrou e eu preciso ir buscá-lo no trabalho, ele já me ligou faz tempo!!!!!!!!! Tchau amiga, obrigada por escutar meu desafabo!
(Corna!).


By Clau Soares
P.S: qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos reais terá sido mera coincidência.

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Olha Clau...