quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Chuva


Belém deságua, transborda. E eu fico sentindo as sensações que ela me provoca.

Os mais íntimos sabem das misturas e dos sabores que em mim residem.

Lembranças me invadem feito temporal e junto com elas um sorriso se abre.

Quanta maravilha a chuva me trouxe!

Entre as lembranças inocentes, que posso aqui relatar, lembro que, na infância, quando tudo transbordava, ela me impediu de me despedir de minha amiga Camila, que estava voltando pra sua cidade: São Paulo. Eu apenas consegui acenar para ela, da janela, em direção ao quintal vizinho.

Morava em uma casa de dois cômodos no quintal de minha vó materna (a propósito, por onde andam os quintais?), e entre nossas casas a chuva tinha "plantado" um rio, resultado do transbordamento dos canais próximos a nossa rua. Pra chegar até a casa da vovó meu irmão usava dois bancos de madeira, no compasso dos escravos de Jó.

À época isso era o caos, mas para mim, uma menininha, era motivo suficiente pra confeccionar barquinhos de papel e soltá-los na enchente até que naufragassem.

A modernidade tem o poder de acabar com as melhores brincadeiras da infância, mas não cessa as lembranças, graças a Deus.

Espero que a modernidade não consiga acabar com a chuva.

A chuva é, para mim, uma das comprovações da existência de Deus, ainda que traga tragédias.

Muitos assim não entendem, muitos até nem acreditam em Deus, o que é lamentável. Outro dia decepcionei-me (sim, isto me decepciona!) com a confissão de uma amiga sobre sua descrença n'Ele e, sob meu olhar de espanto ela falou: "mas eu tenho fé". Fé? Em quê? Eu não concebo a fé dissociada da crença suprema deste amor Divino. Eu sequer consigo entender.

Discutir o assunto naquele momento seria inútil. Apenas lamentei seu ceticismo e pedi a Deus que não a abandonasse, pois Ele não precisa provar quem é, apenas precisa ser e continuar a fazer chover.

É necessário que todos entendam que Deus, sem nós, continuará a ser Deus, mas nós, sem Deus nada seremos.


Claudiana Soares


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