Não consigo descrever a beleza residente no carinho, esta manifestação de afeto que te deixa as vezes sem jeito, as vezes divino, as vezes humano, outras soberbo. Sim, porque dá-lo é divino e recebê-lo é de sensação singular. Eu sempre forneço, eu sempre recebo. Talvez aí resida muito da minha felicidade, demonstrada em vários momentos da minha vida.
Há poucos dias recebi uma visita ilustre, dessas que um dia deram ibope ao Faustão. A figura que sempre visita meu local de trabalho adentrou minha sala em seus passos lentos, cansados e, seu semblante sempre sorridente desta vez mostrava-se cansado. Disse:
- Doutora (imagine, eu, doutora?), queria lhe pedir um favor.
- Peça
- É que caiu um tijolo no meu pé e eu tô precisando comprar um remédio, a senhora pode me ajudar?
- Claro, mestre!
E assim o fiz. Saiu de lá agradecendo e prometendo voltar para devolver o empréstimo.
Anteontem ele voltou com um pequeno embrulho de presente nas mãos.
- Doutora, trouxe um presentinho pra senhora.
Os olhos encheram de lágrimas...
Dentro do saquinho 2 anéis e um colar de miçangas rosas que acabou virando pulseira. Objetos usados que foram cuidadosa e carinhosamente escolhidos (tenho eu certeza disso!) para, em forma de retribuição, presentear alguém que o ajudou a sarar suas feridas. Esse acontecimento me fez pensar em poesia e na importância do carinho. Mal sabe o mestre que contribuiu pra sarar as minhas feridas de alma. Eu que por vezes são tão dura e descrente da bondade dos seres humanos, eu que muitas vezes tenho dificuldade de ser mais flexivel aprendi mais uma vez o valor dos pequenos gestos, o valor de uma atitude que pra você parece pequena mas que pro outro faz uma enorme diferença.
Quantas e quantas vezes, graças a Deus, pude presenciar a manifestação de um carinho. Nossa, como nos faz bem. Recordo agora da minha pequena vidinha, Stefany, que no alto de seus 3 anos de idade por vezes me deixa sem jeito, mas ao mesmo tempo me ilumina quando me olha nos olhos e diz: "Didinha eu te amo muito" ou "Didinha, tu tá cansada? Vai muçá!". Carinho que só Deus pode explicar.
Tem minha amiga Betinha que me chama de neném. Tem meu anjo Mauro que me chama de pateta e diz que eu posso contar com ee sempre que precisar. Tem a Paulinha que com todo o seu picolézinho de chuchu me resrva um cantinho acolhedor em um dos lugares que mais amo na vida. tem a Aladir que me convidou pra ser sua dindinha de casamento. Tem a Edna, minha afilhada que quer dobrar seu apadrinhaento me convidando pra ser sua madrinha de crisma...
Mas ontem foi a minha vez. Mamãe queria porque queria tomar um caldo e quase às nove da noite eu fui pro fogão com o maior amor do mundo e fiz o que ela desejava. Acho que foi a melhor comidinha que já preparei na vida. Nada perto de todo o amor que ela me dispensa há quase 32 anos. Nada perto de tantas e tantas vezes em que foi pro fogão esquentar ou fazer algo pra mim e meus irmãos. Mas foi um dos carinhos trocados que mais me tocou. A inversão de papeis entre criatura e criador, cuidando de quem lhe cuidou. Fato que também me fez lembrar uma pregação do Pe. Fábio exatamente sobre essa troca, essa inversão. Diz o sacerdote que a beleza reside exatamente aí, quando você pode retribuir um carinho recebido, um cuidado, uma afago, um sentimento bom.
Mamãe adorou seu caldinho e eu, feliz da vida, apreciava o seu tomar.
Que lindo, amiga. É, os pequenos gestos são os que realmente fazem diferença. Você pode passar um ano recebendo presentes caros de aniversário, de natal, etc., de alguém. Mas se esse outro alguém - ou mesmo aquele alguém - chega com um objeto barato, simples, mas visivelmente escolhido com carinho, certamente vale mais. Uma sopa, um afago, um abraço num momento específico. Sabe amar quem consegue desvendar os milagres presentes em detalhes cotidianos...
ResponderExcluirBeijos!