domingo, 14 de agosto de 2011

Ele

Quando nasci, houve uma troca: trocou a dona de casa pela costureira. Então seguimos "sem ele", mas continuamos aprendendo com ele.
Não posso dizer que foi ausente, morou na mesma rua e mantinha os olhos de águia em suas crias.
Eu o temia pela imponência na voz e pela forma grosseira com que apontava algo que não o agradava. Por isso, o primeiro namoradinho foi escondido dele. Durante muito tempo eu guardei a mágoa da troca graças ao tratamento recebido por minha mãe da matriarca.
Quando pequenos nos ensinou a sermos gigantes e a desejar que o futuro fosse diferente, mais ameno, menos escasso.
Prometia nos defender ainda que isso lhe custasse a vida. Dizia ele:
"Se alguém lhes fizer mal eu parto no meio e ainda bebo o sangue só pra ficar mais ruim"
Ele queria ser chefe e por isso sempre foi autônomo. Não sei bem qual era a noção de chefia que inundava seus pensamentos e ideias, o que sei é que aos 62 anos ele ainda peregrina incansávelmente em sua prórpia autonomia.
Ele não foi meu herói. Aprendi a nadar e andar de bicicleta sozinha, mas me ensinou o maior de todos os valores: a honestidade. Tudo o que eu não tenho, devo a ele.
Suou o suficiente pra nos alimentar e nos fez entender que era necessário estudar, que era necessário ser do bem, que era necessário respeitar para sermos respeitados, que era necessário manter a cabeça e os olhos erguidos pra seguir adiante.
Casou-se novamente e remoçou. Virou evangélico.
Nos apresentou a Deus e hoje quer nos levar a Jesus em suas pregações e livros que nos compra.
Me apresentou o rio mais delicioso do planeta, que fica logo ali no lugar onde nasceu: Bonfim
Ele é baixinho, mas é arretado.
Dele herdei o desaforo que não passa nem pela rua onde moro desde que nasci, imagine se chega em casa. Herdei a teimosia e a falta de medo do outro. Herdei também as costas largas e a cintura meio quadradinha. Herdei o bico que chega na frente em qualquer lugar. Herdei o hábito de pedir a bênção e 0 respeito aos mais velhos. Herdei a cor da pele e a alergia dela. Herdei o gosto pelas coisas boas como leite Ninho e queijo cuia (luxo raríssimo em tempos de outrora).
NÃO, ele não é o melhor pai do mundo, como muitos daqui há poucas horas dirão aos seus.
Ele é apenas o meu pai e o pai da Vani e do Clau. Com todos os seus defeitos e qualidades, com todas as suas mesmices e raridades, com todas as suas esquisitices e sanidades, com todas as suas alegrias e infelicidades. Mas, acima de tudo, o homem que Deus escolheu para nos dar a oportunidade de existir e para que chamássemos de Pai, e que sempre se esforçou pra cumprir seu papel em nossas vidas.
Ele é Cipriano, o meu homenageado de hoje por tudo o que é para mim.
Parabéns meu pai, pelo dia dedicado à você!!!!!!!!!!!!!

2 comentários:

  1. Parabéns pelo belo blog. Vou acompanhar as postagens. Visite o Blog Diniz K-9.
    http://dinizk9.blogspot.com/

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  2. Seja bem vindo ao meu infinito particular. Visitarei o seu, com certeza. Beijinhos!

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Olha Clau...