Sim, é assustador! Ainda que eu seja solteira, sem filhos, casa própria, saúde, diploma na mão e carro no chão, é assustador!
Ele chegou em maio deste ano. E lá se vão quase 4 meses de letargia laboral. Logo que ocorreu, havia planos traçados em sociedade com uma amiga. Não deu certo! Por conta disso, eu perdi alguns prazos de envio de currículo na minha área: educação, na qual estou há pouco mais de 2 anos e que demorei 8 pra exercer.
No início foi um medo terrível e, à época, eu estava também desempregada quando a pergunta veio: "topa?". - Topo!
E fui! Mais com a cara do que com a coragem.
Deu certo? Deu! E muito! Sem falsa modéstia, eu fui elogiada por onde passei; fiz amigos de profissão e amigos alunos pra uma vida inteira. A profissão é linda, grandiosamente linda. Saber que você contribui pra formação de um cidadão faz teus esforços e noites mal dormidas corrigindo e elaborando provas valer à pena. Foi uma experiência única, que terminou no final de abril.
Organizada como me tornei (não era), guardei o suficiente pra manter as contas pagas por um tempo.
É aí que começa a minha confusão mental.
Será que quero continuar na educação? Até que não seria mal se o fator "sala de aula" não pesasse tanto. Vida de professor de ensino fundamental e médio é extremamente pesada. Como gosto de trabalhar com redação e sou uma profissional "enjoada", que quer que seus alunos saibam utilizar nossa língua e nosso léxico, as vezes trabalho dobrado, porque não me conformo com uma aula medíocre, um material meia boca, uma aula chata, eu sempre trabalho muito e ficava até altas madrugadas corrigindo com atenção e vagar as produções dos meus alunos.
Tive turma composta por somente alunos especiais e outras por 25 crianças em idade entre 5 e 7 anos. Foi muuuito cansativo e muito engrandecedor.
Enfim, depois disso começou minha desordem mental conforme o período de desemprego ia passando: tentei estudar pra o mestrado. Enfiei a cara em livros, comecei a produzir e depois desanimei. Enviei currículo pra um mone de sites de emprego, tanto na área administrativa quanto na educacional. Comecei a fazer freela como revisora textual. Fui à reunião da Hynode. Pensei em Vender Eudora. Pendei em trabalhar como maquiagem, que adoro e sei fazer, mas vi que precisaria investir em produtos para tons de pele variados e isso não era garantia de retorno.
Nesse tempo, caiu em conta minha restituição do importo de renda e eu ficava em casa pensando no que fazer com esse dinheiro que pudesse ser multiplicado. Será que investir em algo que eu pudesse vender me daria retorno?? Mas daí lembrei que todo mundo tá numa situação financeira complicada nesse país e eu fiquei com medo do calote.
Difícil, né?
A única coisa que não fiz, foi sair desesperada pedindo ajuda, como já tinha feito uma vez. Porque descobri que o que mais se ouve é o "Tá, qualquer coisa eu te aviso". Gente do céu, nunca pensei que fosse tão constrangedor ouvir essa frase. Resiliente, coloquei em automático o "Tudo bem, ninguém tem obrigação de me ajudar".
Acontece que percebi que, quando se trata de emprego, parece que as pessoas não tem coragem de te indicar. Talvez tenham medo de tu fazeres uma merda e elas serem responsabilizadas pela tua incompetência ou sei lá o que. Daí um monte de coisas rondam tua cabeça. Até mesmo o "Devo ser uma profissional medíocre".
É tenso.
É um período de impotência terrível, porque isso mexe um pouco com a tua dignidade, mesmo sabendo que há um monte de gente na mesma situação. A gente reza, pede forças pra Deus, mas no fundo tem vergonha de por a cara na rua, de ser julgada ou de acabar dependendo dos outros (graças a Deus ainda não cheguei nesse nível e não pretendo) pra ter o mínimo.
É isso. Graças ao tempo disponível eu resgatei esse blog, pois tenho uma necessidade enorme de colocar pra fora as angústias. Porém, apesar de ter grandes e bons amigos, sei o que cada um vai dizer, aconselhar...e meu espírito não tá preparado pra ouvir as mesmas coisas porque a paciência e a simpatia andam dando sinais de cansaço.
Sobre o que me toca...
"Só não se perca ao entrar no meu infinito particular"
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Não aprendi a dizer adeus
Antes dos nove meses
"Alô"
"Olha, as bebês vão nascer!"
Todos correm pra maternidade.
Horas intermináveis de espera.
No telão aparecem gêmeos.
"Olha, olha! São elas!"
"Mas, de azul? Como assim?"
"Não são elas não! O enxoval é lilás"
"Ahhhhhhh"
O barulhinho no celular avisa que tem watsapp.
Filha: Elas nasceram, mas foram direto pra UTI.
Não vai aparecer no telão
Uma delas não tá bem.
"Ahhhhhhh"
Horas de espera
Telefone toca...meu irmão chora
"Mana, me ajuda, Rebeca não resistiu"
Tomar providências. Isso inclui avisar minha irmã, meus pais e correr pras burocracias.
Como assim? Cheio de pais felizes na maternidade e mães saindo ilesas com seus rebentos feito pacotes de nuvens em seus colos. E nossa dor?
Ao menos a chuva teve a decência de me aparecer pra fazer suas gotas misturarem-se às minhas lágrimas.
Como assim ver um bebê dentro de um caixão e ter de empurrá-lo terra abaixo?
Como assim pessoas num vai-e-vem desenfreado, rindo à toa, sendo felizes?
Como assim cumprir a obrigação de enterrar um anjo pela manhã e encontrar meus demônios no trabalho logo depois do almoço?
Que vida é essa, meu Deus?!
Dias de luto, dor, noites mal dormidas, insones, doridas.
A mãe chega em casa de ventre e coração vazios.
É dor que não se explica, é chão que não se alcança.
Dois meses de espera e visitas matutinas e vespertinas diárias.
É seio que incha, inflama, seca, machuca de tentar tirar alguns miligramas.
São agulhas que furam, tubos que entram e saem de narinas, bocas, coxas.
Acessos....de soro e de choro
Excessos...de fé e esperança.
Nossa menina tá crescendo, ganhando peso, ganhando forças.
Glória a Deus!
E o menino Jesus nasceu e a menina também, mas não veio pra casa.
Infecção. Deu susto! Foi desenganada.
Adeus Natal!
Choro em coro. Tristeza que brota.
A menina renasceu!
Glória a Deus!
Ela é nosso milagre!
Faltam apenas 100g!
Engorda menina, que a bailarina te espera na árvore!
Faltam apenas 100g!
Pressão.
Pressão! Pressão! Pressão!
Adeus, menina linda!
Como assim? E a bailarina?
E o vestidinho de flor? E o laço de fita?
É reveillon!
Como assim esses fogos todos? Essa gente que se abraça feliz?
Olha lá, não veem que ela não se move?!
Não veem que a bailarina repousa ao lado de seu corpinho inerte?!!!!
Não! Tirem essas roupas!!! Não é branco que se usa!!
É negra a cor do luto!!
É ano novo.
Ao menos a chuva teve a decência de me aparecer pra fazer suas gotas misturarem-se às minhas lágrimas.
Como assim ver um bebê dentro de um caixão e ter de empurrá-lo terra abaixo?
Como assim pessoas num vai-e-vem desenfreado, rindo à toa, sendo felizes?
Deveria ser luto oficial! Ninguém ter direito a reveillon, ano novo, brinde.
Que tal todos, em coro, chorarem comigo.
Mas é vida que segue e enquanto o mundo parou aqui dentro, ao redor de mim tudo gira e segue seu curso.
A vida vai continuar, sem graça mas vai continuar.
Amarei vocês eternamente.
Sarah e Rebeca.
Meus anjos
Ajudem-me com essa dor aí de cima
Não quer passar, é sério!
Já brinquei de roda com vocês, mas não quer passar.
Já embalei vocês em meu colo, mas não quer passar.
Já coloquei-as uma em cada lado da rede, temendo colocar meu corpo robusto por cima dos seus tão frágeis, mas não quer passar.
Talvez seja preciso chorar mais um pouco. Espremer-me até doer inteira e quem sabe eu volte a florir.
Vão com Deus!
Não aprendi a dizer adeus!
Dor desmedida.
Adeus!
"Alô"
"Olha, as bebês vão nascer!"
Todos correm pra maternidade.
Horas intermináveis de espera.
No telão aparecem gêmeos.
"Olha, olha! São elas!"
"Mas, de azul? Como assim?"
"Não são elas não! O enxoval é lilás"
"Ahhhhhhh"
O barulhinho no celular avisa que tem watsapp.
Filha: Elas nasceram, mas foram direto pra UTI.
Não vai aparecer no telão
Uma delas não tá bem.
"Ahhhhhhh"
Horas de espera
Telefone toca...meu irmão chora
"Mana, me ajuda, Rebeca não resistiu"
Tomar providências. Isso inclui avisar minha irmã, meus pais e correr pras burocracias.
Como assim? Cheio de pais felizes na maternidade e mães saindo ilesas com seus rebentos feito pacotes de nuvens em seus colos. E nossa dor?
Ao menos a chuva teve a decência de me aparecer pra fazer suas gotas misturarem-se às minhas lágrimas.
Como assim ver um bebê dentro de um caixão e ter de empurrá-lo terra abaixo?
Como assim pessoas num vai-e-vem desenfreado, rindo à toa, sendo felizes?
Como assim cumprir a obrigação de enterrar um anjo pela manhã e encontrar meus demônios no trabalho logo depois do almoço?
Que vida é essa, meu Deus?!
Dias de luto, dor, noites mal dormidas, insones, doridas.
A mãe chega em casa de ventre e coração vazios.
É dor que não se explica, é chão que não se alcança.
Dois meses de espera e visitas matutinas e vespertinas diárias.
É seio que incha, inflama, seca, machuca de tentar tirar alguns miligramas.
São agulhas que furam, tubos que entram e saem de narinas, bocas, coxas.
Acessos....de soro e de choro
Excessos...de fé e esperança.
Nossa menina tá crescendo, ganhando peso, ganhando forças.
Glória a Deus!
E o menino Jesus nasceu e a menina também, mas não veio pra casa.
Infecção. Deu susto! Foi desenganada.
Adeus Natal!
Choro em coro. Tristeza que brota.
A menina renasceu!
Glória a Deus!
Ela é nosso milagre!
Faltam apenas 100g!
Engorda menina, que a bailarina te espera na árvore!
Faltam apenas 100g!
Pressão.
Pressão! Pressão! Pressão!
Adeus, menina linda!
Como assim? E a bailarina?
E o vestidinho de flor? E o laço de fita?
É reveillon!
Como assim esses fogos todos? Essa gente que se abraça feliz?
Olha lá, não veem que ela não se move?!
Não veem que a bailarina repousa ao lado de seu corpinho inerte?!!!!
Não! Tirem essas roupas!!! Não é branco que se usa!!
É negra a cor do luto!!
É ano novo.
Ao menos a chuva teve a decência de me aparecer pra fazer suas gotas misturarem-se às minhas lágrimas.
Como assim ver um bebê dentro de um caixão e ter de empurrá-lo terra abaixo?
Como assim pessoas num vai-e-vem desenfreado, rindo à toa, sendo felizes?
Deveria ser luto oficial! Ninguém ter direito a reveillon, ano novo, brinde.
Que tal todos, em coro, chorarem comigo.
Mas é vida que segue e enquanto o mundo parou aqui dentro, ao redor de mim tudo gira e segue seu curso.
A vida vai continuar, sem graça mas vai continuar.
Amarei vocês eternamente.
Sarah e Rebeca.
Meus anjos
Ajudem-me com essa dor aí de cima
Não quer passar, é sério!
Já brinquei de roda com vocês, mas não quer passar.
Já embalei vocês em meu colo, mas não quer passar.
Já coloquei-as uma em cada lado da rede, temendo colocar meu corpo robusto por cima dos seus tão frágeis, mas não quer passar.
Talvez seja preciso chorar mais um pouco. Espremer-me até doer inteira e quem sabe eu volte a florir.
Vão com Deus!
Não aprendi a dizer adeus!
Dor desmedida.
Adeus!
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Mais uma vez sobre perdão e mágoas guardadas
Nasci filha, não me tornei mãe.
Sendo filha, cresci, não sou mais uma criança.
Mesmo com a maturidade de meus trinta e cinco anos e a oportunidade de ter ajudado a criar e cuidar de primos e sobrinhas não herdei de mães e crianças o desprendimento que as faz perdoar com tanta rapidez e naturalidade. Impressiona-me esse poder de resiliência. Lamento não conseguir.
Estou profundamente magoada com minha mãe que, no seu exercício de ser avó, permite que minha sobrinha mais nova cometa as piores tolices do mundo e, apesar de já ter lido de uma avó e educadora a seguinte frase: "mãe é que é pra educar, vó é pra estragar", não me contento com a prerrogativa, apesar das evidências.
Vó estraga mesmo!
Estraga a relação de mãe/pai com a filha/neta e, por tabela, a relação de mãe e filha dela com os seus. Sim, se duvidas, tenta contrariar um neto tolo, tenta deixar de fazer alguma coisa em que os pequenos teatralmente, aos berros e batidas de pés exigem na frente dos avós. Tente.
Sempre impus limites. Sempre fui a tia chata, que coloca condições, impõe regras, estipula prazos de cumprimento de tarefas e, sinceramente, não sei se tivesse filhos seria diferente. O que sei é que não admito tolices, malcriações, resmungos, pés que marcham, dedos que exigem. Sou a tia capitã Nascimento.
Por esse motivo, ganhei inúmeros títulos nem um pouco nobres de minha mãe e esse final de semana o meu pote de mágoas chegou ao limite e estou mal.
Fechei-me em copas e, infelizmente, desisti de contribuir com a educação da pequena; desisti da distribuição gratuita de conselhos e orientações; desisti da convivência atribulada. Cansei da educação às avessas que vem recebendo a pequena.
Não tive filhos e nem pretendo tornar-me mãe. Deixe que quem tem crie os seus. Eduque-os do jeito que achar conveniente. Corrija-os segundo seus moldes e ideal educacional. Aguente, resiliente, as tolices que fazem.
Larguei mais um piano e subi pro camarote.
Estava sendo muito custoso ser tia, ser madrinha e sobretudo ser filha.
Deixa quieto.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é e não me olhe como se a polícia andasse atrás de mim".
É isso.
Sendo filha, cresci, não sou mais uma criança.
Mesmo com a maturidade de meus trinta e cinco anos e a oportunidade de ter ajudado a criar e cuidar de primos e sobrinhas não herdei de mães e crianças o desprendimento que as faz perdoar com tanta rapidez e naturalidade. Impressiona-me esse poder de resiliência. Lamento não conseguir.
Estou profundamente magoada com minha mãe que, no seu exercício de ser avó, permite que minha sobrinha mais nova cometa as piores tolices do mundo e, apesar de já ter lido de uma avó e educadora a seguinte frase: "mãe é que é pra educar, vó é pra estragar", não me contento com a prerrogativa, apesar das evidências.
Vó estraga mesmo!
Estraga a relação de mãe/pai com a filha/neta e, por tabela, a relação de mãe e filha dela com os seus. Sim, se duvidas, tenta contrariar um neto tolo, tenta deixar de fazer alguma coisa em que os pequenos teatralmente, aos berros e batidas de pés exigem na frente dos avós. Tente.
Sempre impus limites. Sempre fui a tia chata, que coloca condições, impõe regras, estipula prazos de cumprimento de tarefas e, sinceramente, não sei se tivesse filhos seria diferente. O que sei é que não admito tolices, malcriações, resmungos, pés que marcham, dedos que exigem. Sou a tia capitã Nascimento.
Por esse motivo, ganhei inúmeros títulos nem um pouco nobres de minha mãe e esse final de semana o meu pote de mágoas chegou ao limite e estou mal.
Fechei-me em copas e, infelizmente, desisti de contribuir com a educação da pequena; desisti da distribuição gratuita de conselhos e orientações; desisti da convivência atribulada. Cansei da educação às avessas que vem recebendo a pequena.
Não tive filhos e nem pretendo tornar-me mãe. Deixe que quem tem crie os seus. Eduque-os do jeito que achar conveniente. Corrija-os segundo seus moldes e ideal educacional. Aguente, resiliente, as tolices que fazem.
Larguei mais um piano e subi pro camarote.
Estava sendo muito custoso ser tia, ser madrinha e sobretudo ser filha.
Deixa quieto.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é e não me olhe como se a polícia andasse atrás de mim".
É isso.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Punho de Rede
Hoje, em umas das vezes que entrei em minha sala de trabalho, presenciei meus colegas conversadores falando sobre dormir em rede. Um deles, falastrão, resmungava: "eu não gosto de dormir em rede, pô! Acordo todo quebrado!". E lá pelas tantas do papo rolando um detalhe me chamou atenção e resgatou lembranças de minha infância.
A conversa era mais ou menos essa: "Como assim, consertar punho de rede? Tem como?"
Quando eu era criança pequena lá na casa da minha vó, eu, minha mãe e meus irmãos dormíamos em redes, e quando o punho delas inevitavelmente arrebentavam, minha mãe ia ao comércio e comprava punhos novos para substituir (comprar rede nova estava fora de cogitação e condições monetárias).
A imagem ainda está muito viva na minha memória...
Quando chegava da escola minha mãe sentenciava: "vai trocar de roupa que tu vais me ajudar a trocar o punho da rede do teu irmão" (ou irmã, ou a minha...). Ela então sentava à minha frente com a rede nas mãos, colocava o pé direito entre as minhas pernas no banco em que eu ficava sentada e iniciava o ofício de tecelã. A cada volta, cabia a mim a "árdua" tarefa de passar a volta de corda pelo dedão do seu pé, formando lenta e perfeitamente uma teia. Ao final, eu precisava segurar firme, entre minhas mãos miúdas, o elo que seria "encapado", a parte que seria dependurada no "S" ou escápula.
Entre um tear e outro, conversas de mãe atravessavam meus ouvidos e eram cravadas na minha memória: histórias, conselhos, puxões de orelha, cobranças, lamentos, músicas ou apenas o silêncio. Eu e ela, ali, no ofício de ser mãe e filha.
Hoje entendo perfeita e metaforicamente o que aquele ato me ensinava: reconstruir o que falta e não destruir ou substituir o que sobrou.
Eu vivi um momento de felicidade intensa ao relembrar desses momentos de simplicidade que muita criança desta era moderna não tem noção da beleza e do quanto eles ajudam na construção do caráter de um ser humano.
Que possamos empunhar mais redes em nossos dias, ter mais tempo de sermos filhos e de nossas mães serem mães.
A conversa era mais ou menos essa: "Como assim, consertar punho de rede? Tem como?"
Quando eu era criança pequena lá na casa da minha vó, eu, minha mãe e meus irmãos dormíamos em redes, e quando o punho delas inevitavelmente arrebentavam, minha mãe ia ao comércio e comprava punhos novos para substituir (comprar rede nova estava fora de cogitação e condições monetárias).
A imagem ainda está muito viva na minha memória...
Quando chegava da escola minha mãe sentenciava: "vai trocar de roupa que tu vais me ajudar a trocar o punho da rede do teu irmão" (ou irmã, ou a minha...). Ela então sentava à minha frente com a rede nas mãos, colocava o pé direito entre as minhas pernas no banco em que eu ficava sentada e iniciava o ofício de tecelã. A cada volta, cabia a mim a "árdua" tarefa de passar a volta de corda pelo dedão do seu pé, formando lenta e perfeitamente uma teia. Ao final, eu precisava segurar firme, entre minhas mãos miúdas, o elo que seria "encapado", a parte que seria dependurada no "S" ou escápula.
Entre um tear e outro, conversas de mãe atravessavam meus ouvidos e eram cravadas na minha memória: histórias, conselhos, puxões de orelha, cobranças, lamentos, músicas ou apenas o silêncio. Eu e ela, ali, no ofício de ser mãe e filha.
Hoje entendo perfeita e metaforicamente o que aquele ato me ensinava: reconstruir o que falta e não destruir ou substituir o que sobrou.
Eu vivi um momento de felicidade intensa ao relembrar desses momentos de simplicidade que muita criança desta era moderna não tem noção da beleza e do quanto eles ajudam na construção do caráter de um ser humano.
Que possamos empunhar mais redes em nossos dias, ter mais tempo de sermos filhos e de nossas mães serem mães.
domingo, 13 de abril de 2014
A tal felicidade...
Com o tempo a gente descobre que a nossa felicidade está diretamente relacionada à felicidade das pessoas que queremos bem, que por alguns ou por um único motivo fizeram morada em nosso coração, fazendo-nos ofertar o que de melhor temos.
Esse início de ano tô meio assim, sei lá...., tenho um amigo em coma no Metropolitano, outra em Sampa para ver a quantas anda um câncer recém descoberto e uma outra que sua filhota adolescente irá passar por uma cirurgia delicada.
Já eu ganhei um emprego, aliás, dois. Fiquei grata a Deus, mas gostaria que nesse momento ele voltasse seus olhos para as pessoas que citei. Para elas e para aquelas que sofrem por elas. Não dá pra comemorar minha alegria quando sei que pessoas de quem tanto gosto estão passando por situações tão difíceis. Então penso, peso e reavalio minha vida e a vida de tantas pessoas. Nos reis que estão sendo gestados em barrigas de gente com nariz empinado, ar de superioridade e baixos índices de humildade. A enfermidade quando vem não quer saber de coroas ou contas bancárias, ela devasta, devasta o enfermo e aqueles mais próximos.
Que deixemos nossa arrogância de lado, nossos egos inflados, nossos olhos críticos e julgadores demais e passemos a olhar o outro com mais amor e mais humildade. Que não deixemos de lembrar que o outro é um estranho ímpar, que tem defeitos e qualidades; alegrias e infelicidades e que, acima de tudo, foi moldado nas porradas que levou da vida e pode estar passando por uma situação que você não é capaz de imaginar.
Respeite o outro. É simples, é fácil, é humano.
Boa noite.
(Postado originalmente no Facebook em 12/02/14)
Esse início de ano tô meio assim, sei lá...., tenho um amigo em coma no Metropolitano, outra em Sampa para ver a quantas anda um câncer recém descoberto e uma outra que sua filhota adolescente irá passar por uma cirurgia delicada.
Já eu ganhei um emprego, aliás, dois. Fiquei grata a Deus, mas gostaria que nesse momento ele voltasse seus olhos para as pessoas que citei. Para elas e para aquelas que sofrem por elas. Não dá pra comemorar minha alegria quando sei que pessoas de quem tanto gosto estão passando por situações tão difíceis. Então penso, peso e reavalio minha vida e a vida de tantas pessoas. Nos reis que estão sendo gestados em barrigas de gente com nariz empinado, ar de superioridade e baixos índices de humildade. A enfermidade quando vem não quer saber de coroas ou contas bancárias, ela devasta, devasta o enfermo e aqueles mais próximos.
Que deixemos nossa arrogância de lado, nossos egos inflados, nossos olhos críticos e julgadores demais e passemos a olhar o outro com mais amor e mais humildade. Que não deixemos de lembrar que o outro é um estranho ímpar, que tem defeitos e qualidades; alegrias e infelicidades e que, acima de tudo, foi moldado nas porradas que levou da vida e pode estar passando por uma situação que você não é capaz de imaginar.
Respeite o outro. É simples, é fácil, é humano.
Boa noite.
(Postado originalmente no Facebook em 12/02/14)
Simples...
Eu e meu apreço por gente simples e aversão a gente metida a besta.
Na porta do cursinho um senhor vende pipoca. Eu compro quase todo dia. Compro porque sempre fico fazendo cálculos mentais do quanto ele precisa vender pra alcançar um salário mínimo que seja. Faço pra ajudar e de quebra saboreio a pipoca crocante e quentinha.
Hoje, além de comprar puxei um dedo de prosa, que ele sem a menor cerimônia correspondeu. Contou-me que o ano passado foi difícil, pois ficou sem vender por quatro meses, vitimado por uma bala perdida que lhe atingiu as costas e saiu rompendo nervos do braço esquerdo, limitando-lhe os movimentos. O fato aconteceu no trajeto de sua casa pra porta do cursinho. Mas como toda boa gente disse que graças a Deus estava recuperado e podia trabalhar novamente.
Seria inútil xingar o tipo de segurança pública que temos. É precária, sabemos.
Friso, na verdade, o esforço deste trabalhador e a vontade que teve de contar sua história. Muitas vezes não somos capazes de ouvir o outro porque são invisíveis aos nossos olhos, seja por nosso egoísmo, falta de tempo ou orgulho besta mesmo, que margeia ainda mais quem à margem já está.
Quero deixar claro que esse tipo de pessoa é que tem meu respeito e admiração: gente simples, humana, trabalhadora; que não se exulta tentando humilhar ninguém ou tecendo comentários desagradáveis em assuntos que não lhes foram solicitadas opiniões.
Somos todos de carne e osso, minha gente. Nascemos, morreremos, apodreceremos ou viraremos cinzas, simples assim. É prudente ser gente durante esse intervalo.
Boa noite.
(Postado originalmente no Facebook em 18/02/14)
Na porta do cursinho um senhor vende pipoca. Eu compro quase todo dia. Compro porque sempre fico fazendo cálculos mentais do quanto ele precisa vender pra alcançar um salário mínimo que seja. Faço pra ajudar e de quebra saboreio a pipoca crocante e quentinha.
Hoje, além de comprar puxei um dedo de prosa, que ele sem a menor cerimônia correspondeu. Contou-me que o ano passado foi difícil, pois ficou sem vender por quatro meses, vitimado por uma bala perdida que lhe atingiu as costas e saiu rompendo nervos do braço esquerdo, limitando-lhe os movimentos. O fato aconteceu no trajeto de sua casa pra porta do cursinho. Mas como toda boa gente disse que graças a Deus estava recuperado e podia trabalhar novamente.
Seria inútil xingar o tipo de segurança pública que temos. É precária, sabemos.
Friso, na verdade, o esforço deste trabalhador e a vontade que teve de contar sua história. Muitas vezes não somos capazes de ouvir o outro porque são invisíveis aos nossos olhos, seja por nosso egoísmo, falta de tempo ou orgulho besta mesmo, que margeia ainda mais quem à margem já está.
Quero deixar claro que esse tipo de pessoa é que tem meu respeito e admiração: gente simples, humana, trabalhadora; que não se exulta tentando humilhar ninguém ou tecendo comentários desagradáveis em assuntos que não lhes foram solicitadas opiniões.
Somos todos de carne e osso, minha gente. Nascemos, morreremos, apodreceremos ou viraremos cinzas, simples assim. É prudente ser gente durante esse intervalo.
Boa noite.
(Postado originalmente no Facebook em 18/02/14)
O bem retorna
Ontem na missa o padre citou o trecho bíblico que dizia: "dê com a mão direita e que a tua esquerda não veja". Fiquei refletindo sobre aqueles que fazem um bem mas têm a necessidade de expor ou de esperar em troca. Refleti sobre as dívidas de gratidão que nunca são quitadas, uma vez que sempre são cobradas pelos "benfeitores". Acho que ainda somos muito miúdos e não compreendemos o "fazer o bem sem olhar a quem"; não entendemos que o bem que a gente faz retorna, mas não necessariamente por meio daqueles a quem nos doamos, ofertamos, fizemos bem. Ele simplesmente retorna. Portanto, não espere, não lamente e nem guarde mágoas se o bem que você fez não retornou por aquele a quem você fez o bem. Descarte a dívida. Ninguém lhe deve nada. O dever de fazer o bem é seu. Ele há de voltar. Simples assim.
(Publicado originalmente no Facebook em 06/03/14)
(Publicado originalmente no Facebook em 06/03/14)
Razões
O Facebook me pergunta no que estou pensando....penso em tanta coisa Sr. Facebook. Minha cabeça fervilha, chega a latejar. Mas já que você me pede uma resposta, digo que atualmente penso nas razões que temos quando somos expostos a conflitos. São tantas razões e tantos lados da mesma história que chega a ser enfadonho. Uma coisa é certa: há apenas uma história verdadeira. Não existem várias verdades para um mesmo fato. Existe A VERDADE. Quanto às razões...humanos seres que somos, não abriremos mão da nossa. E nos agarraremos a ela com tanto entusiasmo que convenceremos os mais próximos de que estamos certos, tadinhos...e com isso arrumaremos partidários ufanistas defensores de nossas causas. E eu digo: cuidado! Tomar partido é um negócio arriscado. Lembrem-se das razões. Apertar o botão do "foda-se" nem sempre é a opção mais acertada, apesar de muito corajosa. A emoção tende a atrapalhar suas escolhas e a embaçar sua visão dos fatos. Seja prudente, racional ou fique na sua zona de conforto antes de optar por envolver-se em conflitos que não lhes pertencem, sob o risco de ser injusto ou imbecil demais. #ficadica
(Publicado originalmente no Facebook no dia 22/03/14)
(Publicado originalmente no Facebook no dia 22/03/14)
quinta-feira, 10 de abril de 2014
As crendices de vovó
Quem não teve a memória preenchida por histórias que a vó contava não sabe o que perdeu.
A Dona Ana resgatava de suas origens bragantinas algumas que nos contava, nos passava, ou nos cobrava. São histórias e crendices e lendas e vícios e mandingas e causos que me foram resgatados pela memória quando, outro dia, vi uma postagem no Face. A historinha era mais ou menos assim:
"- Alô muleque! Passa 10 conto que tô com tua mãe aqui e vô matá
- Vixi, mintuiroso que mainha tá aqui do meu lado.
- É, mas tô com a sandália dela e vô imborcar!"
(clima de tensão)...
Eu ri uns dias seguidos lembrando disso.
Pra quem não viveu a infância dos anos 80 ou mesmo antes disso, explico.
Ter a sandália virada era um terror pros mais velhos. Minha vó nos dizia sob forte ameaça: "Se não desvirar a mãe morre!!". Era sério. E poderia ser fatal.
Como naquela época respeitar os mais velhos era praxe, todos obedeciam e a mãe vivia longos anos.
Outra: entrar ou deixar em casa a sombrinha/ guarda-chuva abertos também era prenúncio de morte da mãe (mau agouro). Tadinha e Deus-o-livre-e-guarde, ninguém jamais ousou duvidar.
Entre os mesmo amaldiçoados e premonitórios estavam: estourar saco plástico ou balão dentro de casa, passar por cima das penas (se passasse, tinha obrigação de "despassar" - outro dia mesmo levei bronca da mamãe, imagina! Uma afronta! "Não é tu que vai morrer mesmo!" Reclamou cheia de mágoa...), pular macaca (amarelinha) na porta de casa e outros que não lembro no momento.
Portanto, se você perdeu essa época maravilhosa e não quer correr riscos, descrevo abaixo alguns que me vêm à memória para facilitar (e prolongar), sua vida.
- Se a garrafa de café estourar, pode contar que morreu alguém próximo (é mau agouro).
- Se a "rasga mortalha" passar sobre seus telhados com seu grito mortal, é só esperar que morrerá alguém próximo.
- Tomar açaí e comer manga: febre na certa!
- Chupar manga com febre: morte na certa. Responsável também por motivos de dúvidas: "Não é possível que fizeste isso fulano, tu não é doido, não comeu manga com febre".
- Comer o coco de dentro do caroço de pupunha: deixa esquecido (devo ter comido horrores)
- Acordar e abrir logo a janela: te deixa todo torto. Se pisar no chão descalço também.
- Apontar a lua: faz nascer uma verruga feia e enorme na ponta dos dedos.
- Ao arrancar um dente de leite, jogue no telhado, de costas, pra nascer logo outro no lugar.
- Estudar demais: deixa doido (até que concordo um pouco. rsrsrs). Mamãe me tirava da frente dos cadernos logo após algum tempo de estudo pras provas. Dizia: "Tá bom, não é bom estudar demais, fica doido!"
- Não varra a casa no sentido da porta da rua, só do quintal, pois o contrário é só quando morre alguém, pra levar pra fora o espírito do defunto;
- Se você for um covarde de carteirinha, vá a um enterro e repita 03 vezes aos pés do morto: "fulano leve meu medo, fulano leve meu medo, fulano leve meu medo". Pronto, nasce um super-herói.
Claro, sem contar os mais populares:
- Se perder algo, clame por São Longuinho, com a promessa de dar 03 pulinhos e 03 gritinhos após achar o objeto (mas tem que fazer, senão você perde de novo);
- Negar o que quer que seja a uma grávida, faz o neném nascer com a cara do objeto de desejo;
- Aliás, grávidas não podem colocar chaves nos bolsos, sob o risco do neném nascer com alguma marca que ficará eternamente no corpo;
Bom, como comi coco do caroço da pupunha demais, devo ter esquecido uns tantos. Mas ficam estes por aqui pra lhe ajudar e pra ratificar minha infância feliz.
P.S: ninguém na minha família morreu, ficou torto, nasceu cheio de marcas ou criou verrugas. Claro! Somos obedientes e fizemos tudo certinho.
Bjs
A Dona Ana resgatava de suas origens bragantinas algumas que nos contava, nos passava, ou nos cobrava. São histórias e crendices e lendas e vícios e mandingas e causos que me foram resgatados pela memória quando, outro dia, vi uma postagem no Face. A historinha era mais ou menos assim:
"- Alô muleque! Passa 10 conto que tô com tua mãe aqui e vô matá
- Vixi, mintuiroso que mainha tá aqui do meu lado.
- É, mas tô com a sandália dela e vô imborcar!"
(clima de tensão)...
Eu ri uns dias seguidos lembrando disso.
Pra quem não viveu a infância dos anos 80 ou mesmo antes disso, explico.
Ter a sandália virada era um terror pros mais velhos. Minha vó nos dizia sob forte ameaça: "Se não desvirar a mãe morre!!". Era sério. E poderia ser fatal.
Como naquela época respeitar os mais velhos era praxe, todos obedeciam e a mãe vivia longos anos.
Outra: entrar ou deixar em casa a sombrinha/ guarda-chuva abertos também era prenúncio de morte da mãe (mau agouro). Tadinha e Deus-o-livre-e-guarde, ninguém jamais ousou duvidar.
Entre os mesmo amaldiçoados e premonitórios estavam: estourar saco plástico ou balão dentro de casa, passar por cima das penas (se passasse, tinha obrigação de "despassar" - outro dia mesmo levei bronca da mamãe, imagina! Uma afronta! "Não é tu que vai morrer mesmo!" Reclamou cheia de mágoa...), pular macaca (amarelinha) na porta de casa e outros que não lembro no momento.
Portanto, se você perdeu essa época maravilhosa e não quer correr riscos, descrevo abaixo alguns que me vêm à memória para facilitar (e prolongar), sua vida.
- Se a garrafa de café estourar, pode contar que morreu alguém próximo (é mau agouro).
- Se a "rasga mortalha" passar sobre seus telhados com seu grito mortal, é só esperar que morrerá alguém próximo.
- Tomar açaí e comer manga: febre na certa!
- Chupar manga com febre: morte na certa. Responsável também por motivos de dúvidas: "Não é possível que fizeste isso fulano, tu não é doido, não comeu manga com febre".
- Comer o coco de dentro do caroço de pupunha: deixa esquecido (devo ter comido horrores)
- Acordar e abrir logo a janela: te deixa todo torto. Se pisar no chão descalço também.
- Apontar a lua: faz nascer uma verruga feia e enorme na ponta dos dedos.
- Ao arrancar um dente de leite, jogue no telhado, de costas, pra nascer logo outro no lugar.
- Estudar demais: deixa doido (até que concordo um pouco. rsrsrs). Mamãe me tirava da frente dos cadernos logo após algum tempo de estudo pras provas. Dizia: "Tá bom, não é bom estudar demais, fica doido!"
- Não varra a casa no sentido da porta da rua, só do quintal, pois o contrário é só quando morre alguém, pra levar pra fora o espírito do defunto;
- Se você for um covarde de carteirinha, vá a um enterro e repita 03 vezes aos pés do morto: "fulano leve meu medo, fulano leve meu medo, fulano leve meu medo". Pronto, nasce um super-herói.
Claro, sem contar os mais populares:
- Se perder algo, clame por São Longuinho, com a promessa de dar 03 pulinhos e 03 gritinhos após achar o objeto (mas tem que fazer, senão você perde de novo);
- Negar o que quer que seja a uma grávida, faz o neném nascer com a cara do objeto de desejo;
- Aliás, grávidas não podem colocar chaves nos bolsos, sob o risco do neném nascer com alguma marca que ficará eternamente no corpo;
Bom, como comi coco do caroço da pupunha demais, devo ter esquecido uns tantos. Mas ficam estes por aqui pra lhe ajudar e pra ratificar minha infância feliz.
P.S: ninguém na minha família morreu, ficou torto, nasceu cheio de marcas ou criou verrugas. Claro! Somos obedientes e fizemos tudo certinho.
Bjs
sexta-feira, 28 de março de 2014
Quando o sofrimento bate a nossa porta
A verdade mais genuína dos últimos meses é que têm sido tempos difíceis...
No início do ano, a notícia de que uma grande amiga foi diagnosticada com CA, em seguida, um amigo de escola sofre acidente de carro e fica em coma no Hospital Metropolitano. Dias depois outra amiga liga e diz que a filha de apenas 17 anos tem um cisto de proporções gigantescas está instalado em seu útero e terá que ser retirado junto com o o útero, deixando-a estéreo. Distancia-se um mês dessas notícias e a mãe de outra grande amiga sofre AVC e falece 3 dias depois de dar entrada na UTI.
Eu desabei.
Sentir todas as dores ao mesmo tempo. Sofri. Sofri pelo CA diagnosticado, pelo coma, pela esterectomia, pela morte com umas dor inexplicável. Como se eu tivesse passado pelo sofrimento.
Meu amigo continua em coma, apesar de ter saído da UTI passa por estado vegetativo...mesma idade que eu, futuro e saúde mental incertos.
Mas o que mais doi, o que ainda me tira o chão, o sono e a razão é o mal do século, batizado por pesquisadores de câncer e especificado por mieloma, degenerativo, incurável, inclemente e impiedoso. Esse que, aos poucos e dolorosamente tá arrancando minha amiga tão cheia de vida e caráter de mim.
Não blasfemo, mas questiono: por que, meu Deus?! Sei que ainda sou muito miúda pra entender Teus propósitos, mas sou enorme pra sentir essa dor que lateja em meu peito; que me faz clamar por Ti, Senhor, e pedir piedade por ela, que chegou na minha vida de maneira sorrateira e se instalou como uma posseira no meu coração; que fez de mim sua amiga, confidente, conselheira, "chefe" (como ela carinhosamente chama). Não tem maldades, Senhor! Ajuda a qualquer filho Teu despretensiosamente. Sorri de verdade, olha nos olhos de verdade e tem sonhos grandes: quer ser Juíza e, cursando o 8º período de Diretito, teve que ter forças pra ir até a faculdade e entre lágrimas trancar sua matrícula, porque sua mente e suas pernas já não respondem às suas vontades.
A quimioterapia tem sido um fardo enorme pro seu corpo magro, enfraquecido. Efeitos colaterais desumanos demais, crueis demais pra uma pessoa que só precisa viver, meu Deus!
Estou em frangalhos. Meu muro desabou e eu já chorei tudo o que podia; demoro a dormir com o pensamento nela: tá sentindo dor? Comeu? Dorme bem? Vai amanhecer...
Quero forças, Pai! Como gostaria que os que amo não sofressem, que tivessem vida, que não faltasse amor, que ficassem bem.
Cuida de mim, meu Deus! Estou fraca, estou triste, não estou em paz.
Te peço.
No início do ano, a notícia de que uma grande amiga foi diagnosticada com CA, em seguida, um amigo de escola sofre acidente de carro e fica em coma no Hospital Metropolitano. Dias depois outra amiga liga e diz que a filha de apenas 17 anos tem um cisto de proporções gigantescas está instalado em seu útero e terá que ser retirado junto com o o útero, deixando-a estéreo. Distancia-se um mês dessas notícias e a mãe de outra grande amiga sofre AVC e falece 3 dias depois de dar entrada na UTI.
Eu desabei.
Sentir todas as dores ao mesmo tempo. Sofri. Sofri pelo CA diagnosticado, pelo coma, pela esterectomia, pela morte com umas dor inexplicável. Como se eu tivesse passado pelo sofrimento.
Meu amigo continua em coma, apesar de ter saído da UTI passa por estado vegetativo...mesma idade que eu, futuro e saúde mental incertos.
Mas o que mais doi, o que ainda me tira o chão, o sono e a razão é o mal do século, batizado por pesquisadores de câncer e especificado por mieloma, degenerativo, incurável, inclemente e impiedoso. Esse que, aos poucos e dolorosamente tá arrancando minha amiga tão cheia de vida e caráter de mim.
Não blasfemo, mas questiono: por que, meu Deus?! Sei que ainda sou muito miúda pra entender Teus propósitos, mas sou enorme pra sentir essa dor que lateja em meu peito; que me faz clamar por Ti, Senhor, e pedir piedade por ela, que chegou na minha vida de maneira sorrateira e se instalou como uma posseira no meu coração; que fez de mim sua amiga, confidente, conselheira, "chefe" (como ela carinhosamente chama). Não tem maldades, Senhor! Ajuda a qualquer filho Teu despretensiosamente. Sorri de verdade, olha nos olhos de verdade e tem sonhos grandes: quer ser Juíza e, cursando o 8º período de Diretito, teve que ter forças pra ir até a faculdade e entre lágrimas trancar sua matrícula, porque sua mente e suas pernas já não respondem às suas vontades.
A quimioterapia tem sido um fardo enorme pro seu corpo magro, enfraquecido. Efeitos colaterais desumanos demais, crueis demais pra uma pessoa que só precisa viver, meu Deus!
Estou em frangalhos. Meu muro desabou e eu já chorei tudo o que podia; demoro a dormir com o pensamento nela: tá sentindo dor? Comeu? Dorme bem? Vai amanhecer...
Quero forças, Pai! Como gostaria que os que amo não sofressem, que tivessem vida, que não faltasse amor, que ficassem bem.
Cuida de mim, meu Deus! Estou fraca, estou triste, não estou em paz.
Te peço.
Assinar:
Postagens (Atom)