terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Descrição

Mentir solidão é uma maneira estranha de ser só. É mais uma forma de se conceber a hipocrisia.

Meia toalha no chão e três gotinhas no teto
Formas plásticas em laranja e verde que se completam sem querer
Uma infinidade de cheiros essencialmente necessários
Olfativamente saciáveis, fisicamente importantes
Uma cama para mais de um e que quase nunca é usada por dois
Um sacerdote que acalma, aconselha e que orienta o dia
Um laranja vibrante que impede os olhares curiosos, mas que perdeu sua verdadeira função
Trilhas sonoras que têm o poder de significar
Livros, muitos, tantos. Todos com a capacidade de devolver as origens, os sonhos, os desejos velados, mas verbalizados aos quatro cantos
Cheio de números,na parede, ele me diz que não posso perder o tempo, que é curto, e que uma volta inteira não é suficiente pra todas as vontades
Uma máquina que representa a preguiça e evita o contato com o produto que corrói a pele
Muitas caixas, uma infinidade de coisas dispersas, (des)necessárias
Roupas sujas, roupas limpas, sandálias, bolsas. Coisas de uma mulher normal
O necessário DVD para os caolhos do fim de semana e, claro, a TV. Sem ela, nada feito
O desnecessário microondas, que em tempos de dieta fica às moscas
Coisas que se completam sem me completar
Mas o que eu não quero. Ah, o que eu não quero...
É que ninguém se perca ao entrar no meu infinito particular! Pois “minha solidão não tem nada haver com a presença ou ausência de pessoas. Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia”.

Clau Soares

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