terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Filhos


"Quando, seu moço, nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar"
(Chico Buarque)


Há algum tempo eu me imaginei mãe, daí fiz planos, coisa que vejo importante quando a decisão é ter um filho. Não deu certo. Planos ao ralo, que levaram junto a vontade e os sonhos. Desde então passei a não mais imaginar a vida com filhos e a lembrar do poeta que diz "filhos, melhor não tê-los. Mas, se não temos, como sabemos".
São as escolhas. E eu escolhi não saber.
Talvez seja melhor assim.
Talvez eu me arrependa e daqui há um tempo me sinta só.
Bom, enfatizo a decisão de não ter e penso que uma decisão como essa, pensada, elaborada, programada, converge para o desencontro com a canção Meu Guri, do Chico.
É que tenho visto tanto absurdo no mundo! Tantos filhos deste Brasil que, quando não são abortados antes de virem ao mundo, são abortados um pouco depois de "viverem", graças às mazelas sociais. Pensador musicou o fato uma vez.
Indigna-me quem não nasceu pra ser mãe, mas insistiu em por filho no mundo. E vai empurrando com a barriga uma missão divina, deturpando e destruindo a imagem materna. Idealizada sob a forma de pureza, de amor incondicional, de sofrimento compensado.
Indigna-me presenciar a história de uma mãe que passa a semana inteira trabalhando e quando chega em casa, olha pro filho de 1 ano de vida chorando e diz: "tu só pode ser fresco! Seu viado! Homem não chora!"
Por ignorância (em todos as semânticas que a palavra denota) essa mulher desconhece efeitos psicológicos que sofrerá ela e a pobre criatura. Não bastasse viver em um ambiente nocivo como aquele, ela não se esforça para fazer diferente, para oferecer amor.
Ser mãe é renunciar, é 100% amar, é "germer sem sentir dor", padecer no paraiso, e todos os outros jargões, chavões, etc, etc, etc.
Pras coisas mais elementares da vida o planejamento é obrigatório. Planejar um filho não é o mesmo que planejar ter um carro. É uma vida posta ao mundo sob seu sempre cuidado, zelo, conselho, carinho, desprendimento. É um pedaço seu, uma parte sua que não pode ser negligenciada de nenhuma forma. É uma extensão da sua vida que leva seu sobrenome, seus traços, seu sangue.
Ter um filho é ter a oportunidade de renascer naquela semente que germinou, e que deu fruto. Um fruto que deve amadurecer sob os seus cuidados, pra que você tenha a linda chance que (re)colhê-lo dá arvore da vida.
Clau Soares

2 comentários:

  1. Antes de comentar, de fato, quero dizer que adorei o novo layout do seu blog! Simples... simplesmente o máximo! rs
    Olha, concordo com vc em todos os aspectos, menos em um: "Não deu certo. Planos ao ralo, que levaram junto a vontade e os sonhos. Desde então passei a não mais imaginar a vida com filhos...", "São as escolhas. E eu escolhi não saber"...
    Acho que um texto desse (cuidadoso, bem escrito, com emoção e toda essa vontade de demonstrar através de palavras que sua decisão foi tomada e não favorece a maternidade) só prova o contrário: vontade de ser mãe. Frustração, talvez, por ainda não ter saído como planejado ou medo - quem sabe - de fugir de seu controle.
    Muito bom, Clau! Beijos escarlates!!!!

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  2. Flavinha, realmente a titia aqui dessitiu do sonho. Não dá mais pra me ver mãe. É estranho mas é real. Já estou conformadíssima com a corujice de ser titia.
    Mas valeu (como sempre vale) pela opinião.
    Beijinhos.

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Olha Clau...