quarta-feira, 1 de junho de 2011

Companhia de viagem

Como boa pedestre, meu veículo diário para ir e voltar do trabalho é o velho busão. O caminho é longo, quente, barulhento de tantas vozes que são ouvidas,o trânsito invariavelmente infernal prolonga ainda mais o caminho, sem contar as misturas de cheiros que meu nariz é obrigado a sentir logo pela manhã. Mas para que toda essa mistura de sentidos não se torne mais enfadonha há anos busquei uma saída: carrego sempre comigo meu fiel escudeiro Sancho Pança: o LIVRO. Há os que dizem: "nossa, como consegues ler no ônibus com tanto barulho??". Respondo: não sei, eu simplesmente consigo...e gosto...e não consigo fazer diferente. Ele, o livro, consegue perfeitamente cumprir seu objetivo em minhas mãos: envolver. E como se não bastasse, quando é um livro técnico ainda dou uma paradinha pra pegar o telefone e perguntar a opinião de amigos da mesma área para determinados temas. Terminada a ligação, volto para minha distração. Sim, o livro me distrai e me tira do ambiente heterogêneo do coletivo, levando-me ao seu universo.


Certa vez lia o "Guia do Mochileiro das Galáxias", De Douglas Adams, e sempre silenciosa e concentrada na leitura chamei a atenção do pessoal de tanto que ria das "besteiras" que o livro me dizia. Senti como se estivesse assistindo a uma comédia e...sabe quando aparece uma cena super engraçada e você cutuca quem tá do teu lado? Tive vontade de fazer o mesmo.

...E há todo um ritual nessa empreitada:

Deve-se sentar à janela, pra não ter que ficar concedendo licença de passagem ao vizinho.

Deve-se fingir não ver o conhecido que sobe logo na parada seguinte. Pior é que tem gente que não se toca quando acontece e fica puxando papo. Eu costumo ignorar a presença do invasor, excetuando-se pessoas como mãe, pai e amigos não vistos ha certo tempo. E não fecho o livro de jeito nenhum, que é pra entenderem o que quero fazer naquele momento. Pô, se é meu vizinho, passa lá em casa pra um papinho, ou então nos encontramos no Bob's pra um ovomaltine.

Deve-se evitar ônibus lotado por motivos óbvios.

Não se pode esquecer a lapiseira e o marca texto, também por motivos óbvios. Meus livros têm cobrinhas nas partes que me marcam (não dá pra ser linha reta!!)

Deve-se olhar o tempo de viagem restante e o tamanho do próximo capítulo ou parágrafo, do contrário você corre dois riscos: 1. andar mais por descer na parada errada e 2. cair e sujar seu amigo (e daí se você se ralar e se quebrar toda???).

Minha leitura só é voluntariamente interrompida em dois momentos: quando o dia está ensolarado e passo em uma das praças que, dependendo do ônibus que pegue, fazem parte do meu trajeto: Batista Campos ou República. Gosto de olhar e dá uma vontade louca de descer e terminar o capítulo sentada em um daqueles bancos, tomando uma água de coco, feito aqueles velhinhos que nada têm a fazer e ficam lá contemplativos. Rola uma inveja básica.

Sou feliz por ter criado esse hábito, é um dos grandes prazeres da minha vida, e o que me deixa mais feliz é poder compra-los, possuí-los, riscá-los. Ficam bem ao lado de minha cama e sou muito feliz em poder contemplá-los. Faço isso com certa frequencia e penso: são meus! Já contei aqui, mas repito. Por muito tempo eu não podia comprar nenhum livro. Muito tempo mesmo, que passou pelo ensino fundamental, médio e faculdade somando a aquisição de apenas 2 volumes. Hoje, pelo menos um por mês é somado à minha biblioteca, mas não me considero um super leitora, me considero apenas mais uma que gosta de ler algumas coisas e jornal é uma das coisas que não entra na minha história.

No momento, meu Sancho é Moacyr Scliar em "Do jeito que nós vivemos", pra variar, crônicas, meu gênero favorito. E, por favor, se me encontrarem pelo Sacramenta-Humaitá ou Pedreira-Filipe Patroni não me desconcentrem, me ignorem, eu juro que não vou chamá-los de antipáticos. Eu é que sou! Rsrsrs

2 comentários:

  1. Ler é ainda melhor que ouvir música no ônibus, visto que a barulheira nos força por o aparelho em volumes que não são saudaveis. Mas essa sua companhia de viagem não faz bem a todos. Eu, por exemplo, enjôo. O que não quer dizer que um bom livro não valha o sacrifício.
    Um abraço moça.

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  2. Sempre vale o sacrificio, mas, já que o enjoa, tem muitas outras opções, o fundamental é não abandonar esse amigo de fé. Valeu pela visita e comentário. Grande Beijo, caríssimo!

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Olha Clau...