"...Como na vida, vale o desafio: que no breve espaço do nosso tempo a gente consiga quebrar as algemas do preconceito, recusar as indevidas cobranças, entender que a culpa é o selo da morte. E abrir-se p/a vida: que nem sempre é mesquinha, e que nem sempre nos trai..."
Pensar é Transgredir - Lya Luft
Há exatos 14 anos eu era só uma menina pagando pelos erros que nem sei se cometi. Por motivos que não valem a pena serem relembrados eu deixei de falar com uma pessoa e passei a nutrir por ela todos esses sentimentos ruins que sentimos quando nos vemos magoados, ofendidos, traídos. Os anos foram passando e cada um viveu suas vidas atravessando a rua ao primeiro sinal de encontro. Eu o detestava, ele a mim também. Mas antes disso tudo havia algo muito louco entre a gente. Arrisco-me a eleger essa a melhor época da minha vida. Época de turma de amigos grande. Saídas com histórias homéricas. Amores vividos até as últimas consequências. A perda da virgindade. O primeiro emprego. Os encantamentos e desencantos fizeram de mim uma adolescente contagiantemente feliz. Foram tantas histórias vividas que como é comum dizer: dariam um livro!
Enfim, voltando ao "x" da questão. O fato é que esse pino da mágoa ficou nas minhas costas por esse longo tempo, até que sábado passado (18.02.2012) estava no aniversário do filho de uma grande amiga, mesmo ambiente em que ele, e percebi que os olhares desviados por anos vinham em minha direção com uma frequência que me deixou encabulada. Estivesse eu mais bonita aquele dia não configurava motivo suficiente pro ato. Essas coisas a gente sente...havia naquele olhar algo de trégua. Com as retinas ajustadas pelo tempo pude perceber que os antes inimigos declarados naquele momento buscavam balançar a bandeira branca em sinal de paz. Ele se aproximou e aquelas certezas que a gente guarda pela vida toda de repente deixaram de ter sentido e só provaram mais uma vez que a vida é permeada pelas incertezas. Isso é certo.
Ele olhou pra mim com o sorriso do passado, respirou fundo e ficou sem palavras. Pra quebrar aquele momento de angústia fiz um sinal de paz com as mãos e disse: "tudo em paz, moço?!". Ele me respondeu com um abraço e os dois começaram a querer falar ao mesmo tempo em um local barulhento. Como se ali fosse a hora e o momento de resolver uma guerra que já durava 14 anos e que como em qualquer outra guerra não apresentava vencedores reais. Encerrei o assunto dizento que já não havia motivos para procurar inocentes ou culpados, o tempo hávia passado, por sinal, um bocado dele, que ou esquecíamos nossas divergências ali ou mais 14 anos se passariam. Não havia necessidade de esclarecer, cada um sabia o que tinha feito ou causado ao outro, cada um com suas culpas e razões olharam olharam-se como se nada tivesse acontecido.
O mais importante disso tudo foi a sensação de me livrar do piano. Um peso desnecessário que jamais imaginei carregar e muito menos me livrar. E aprendi que por mais que tenhamos as nossas razões, a vida tem as suas pra fazer o que faz conosco.
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Olha Clau...