"Nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e sons.."
Aida não tinha tido a coragem necessária para postar algo sobre. Na verdade o que senti não sei mesmo dizer, não consigo explicar. Mas há algo diminuto no peito . Há algo na garganta ainda preso. Há uma cor estranha em meus olhos. Um não sei quê de tristeza.
É incrivel como temos o poder de reconhecer quem nos interessa há quilômetros e ignorar os menos importantes ainda que estejam a nosso lado ou a nossa frente. E foi assim que depois de uma longa jornada de trabalho eu o vi em seus trajes característicos e assesórios necessários e habituais sob uma fina chuva de uma sexta-feira qualquer. Ela apoiada com as duas mãos em teus ombros, te olhando nos olhos a menos de um palmo era o prenúncio do que eu veria. Eu, prestes a descer do ônibus, cansada e trocando piadas com a colega de trabalho em breve desmancharia o sorriso. Ao primeiro impacto o que mais desejei foi que o motorista ultrapassasse o local onde a cena ocorria. seria demais ter que cumprimentá-lo com meu indisfarçavel sorriso amarelo e fingir que era a cena mais natural e pitoresca do ano. Os anjos me ouviram e a poucos metros meu ônibus parou e eu desci.
A prudência me aconselhou a não olhar pra trás. Era o ideal. Mas a gente, mortal, curte esse papo de curiosidade e de fazer o que não é certo só pra ver no que dá. E deu. Um beijo. E depois de quase dois anos, quando eu jurava que uma cena desse tipo não mexeria com o meu último cílio esquerdo, enfraqueceu minhas pernas, perturbou meu juízo, esvaziou meu peito, meu coração, meus sentidos. Pensei em pegar o telefone e ligar, pra ouvir silêncio e crer na minha santa ingenuidade que não se tratava de quem se tratava. Que você estava lá no seu canto, você é a economia mundial, a matemática financeira, a história do Brasil, a conveção de kyoto e o Teatro Mágico rolando em um volume quase inaudível pra não lhe desconcentrar. Besteira procurar razões, inventar direções que não existem. Você estava lá, foi o que minhas retinas ajustadas viram.
E há uma certa obrigação em aceitar os fatos que me deixa miúda, encolhidinha num canto qualquer de um espaço qualquer onde não me encontro e tenho certeza de que já é muito tarde para amar você.
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Olha Clau...