sábado, 29 de dezembro de 2012

Aos que amo, aos que me amam e até para quem não...em 2013...

Te desejo uma fé enorme.Em qualquer coisa, não importa o quê. Desejo esperanças novinhas em folha, todos os dias.Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria.Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa. Te quero ver feliz, te quero ver sem melancolia nenhuma. Certo, muitas ilusões dançaram. Mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas…

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"O coração da gente gosta de atenção. De cuidados cotidianos. De mimos repentinos. De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto... E há momentos em que tudo o que ele precisa é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos, uma a uma, as partes que lhe doem. E que o levemos para revisitar, na memória, instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a freqüência do sentimento. Há momentos em que tudo o que precisa é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível. Coração precisa de espaço."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Readaptação


Estou destreinada. Juro. 
Estou destreinada da função de namorada.
Por dois anos e meio fiquei presa em meu “castelo da liberdade”, não desejando que houvesse de novo alguém pra me fazer sentir, viver ou fazer algo que tivesse como motivo uma promoção de supermercado do tipo 2 em 1. Sei que vão me chamar de egoísta por isso e também sei da nítida necessidade de adaptação atrelada à história de namoro à distância.
“Vamos fazer tal coisa nesse fim de semana? Não, não vai dar porque o namorado vai chegar e é preciso dar atenção a ele.” (eleger prioridades)
“Olha, comprei uma escova de dentes pra deixar aqui pra quando vieres” (avanço da convivência)
“Usa essa camisa que trouxe daquela viagem, eu lavo a tua e deixo secar enquanto...” (cuidado)
“Esse anticoncepcional esta mexendo com meus hormônios. Acho que preciso mudar.” (escolhas)
“Não gosto de ar. – Mas eu gosto. - Tá, então a gente liga e deixa esfriar e depois desliga e liga o ventilador.” (consenso)
“Vais ficar com essa cara a noite toda? – Não, afinal a gente não se vê sempre, não devia tá brigando a toa. (as D.R’s)
E quando começo a tentar ouço um barulho, e quando percebo já sinto o frio da água jogada do balde que estava nas mãos de gente inesperada, que talvez esteja enxergando o que meus olhos não conseguem ou apenas enganadas.
Permitam-me tentar, já “desadolesci”, já percebo diferença entre certo, errado e duvidoso. Já sei discernir amor, paixão, tentativa, relação saudável, amadurecimento. Deixem-me ir, preciso andar por aí e encontrar minhas próprias pedras, e desatar meus próprios laços, e dar a mão à palmatória só pra me ver arder, só pra quem sabe doer inteira e chorar uma dor sentida ou não. Eu não sei e vocês também não sabem.
Deixem-me tentar
Permitam-me readaptar.
Eu, caçador de mim...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um mês depois de dezessete anos...


Foi há um mês que ele reapareceu na porta da casa dela e nenhum dos dois sabia exatamente o que podia esperar um do outro. Era necessário re-conhecer para se reconhecer e se reinventar. Os jovens de dezessete anos atrás já não mais existiam. As pedras haviam se encontrado, o mundo havia girado e girado e girado e no final eram outras vidas, outras pessoas e muitas histórias pra contar: filhos, casamentos desfeitos, namoros malfadados, conquistas, outras personalidades. Ele já não ouvia mais Engenheiros do Hawaii, ela já não ia mais atrás do trio. Ele tinha encurtado os  cabelos e ela deixou os seus crescerem. Ele parou de fumar, ela sequer tentou... mas mesmo assim quis o destino que eles se reencontrassem e se revisitassem. Hoje novamente juntos tentam viver uma nova história, longe dos sonhos adolescentes e perto, muito perto do que se pode chamar de maturidade. Dividem a distância mas contam com a tecnologia para os aproximarem. Quando se veem ficam felizes por não mais serem dezessete anos de distância, mas apenas 210 km e... como diria Nando Reis: "estão livres da perfeição que só faz estragos". E vão levando, tentando, ultrapassando e de vez em quando, em segredo, perguntam-se até onde podem ir e como fazem pra ficar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mais um ano novo

Mais um ano novo chegou pra mim. Como já falei um dia aqui, o dia 31 de dezembro é só mais uma data no calendário juliano, o meu ano novo eu considero o dia do meu aniversário.
É bom saber-se vivo, no sentido poético da palavra. É bom saber que em meio a milhares de defeitos que tenho aos 34 anos eu estou satisfeita com a pessoa que eu sou e com as escolhas que fiz. A vida é feita delas e as fazemos todos os dias: a roupa, a comida, os amigos, o canal de TV e o destino que juramos ter nas mãos são frutos de nossas escolhas.
Sou feliz pelos erros que cometi, eles sempre me lançam pra frente e eu espero continuar cruzando com meus desencontros e desacertos. Sou grata aos conselhos que recebi mesmo que não tenha seguido, por teimosia, 95% deles. De verdade, eles não devem ser dados, e quando nos pedem querem ouvir o que sua própria voz fala. Não vale a pena. Aos 34 anos gosto de ter essa personalidade forte que sai atropelando tudo o que merece ser underground e que não merece arrependimento, como os nós desfeitos.
E neste último ano foquei nas coisas que me deixam feliz, como as amizades que mantive, as que me desfiz (sim, fiquei feliz por ter feito isso. Foi um alívio!), os primos por parte de pai que reencontrei e me identifiquei e, vejam só, depois de dezessete anos, sem jamais imaginar que aconteceria, eu volto a namorar meu primeiro namorado, como uma história saída dos contos de fadas. Claro, ainda há ajustes a serem feitos, mas vamos ver até onde vai. E por esses e outros motivos algumas coisas ficaram bastante claras na minha cabeça: sim, as pedras se encontram e concordando com Shakespeare, tempo não é algo que não possa voltar para trás. Algumas coisas a gente deve deixar lá, em banho maria, até que atinjam seu ponto de servir.
Quanto a família, sou muito grata a Deus pela que Ele escolheu pra mim, mesmo com pais separados fomos criados em uma época em que valores morais contavam mais que presentes, até porque não tínhamos mesmo como viver de luxo e presente era artigo de luxo.
Quanto ao trabalho, eu gosto muito do que faço e ainda que não seja minha profissão de direito eu faço com satisfação desmedida.
Quanto a fazer aniversário, é um dia de reflexão e há anos menos comemorativo. Este ano passei com o namorado e a meia noite ganhei bolinho da chefe porque ainda estava trabalhando.
Nem tudo foi perfeito no meu ano novo, também estive muito mal por situações que aconteceram em família e que me abalaram profundamente, e me deixaram descrente do ser humano enquanto ser capaz de não fazer mal ao outro. Vi tanta maldade, tanta falsidade que fiquei excessivamente incomodada e me opus violentamente a isso.
34 anos...
Agora eu também resolvi que não quero e nem pretendo ter muito dinheiro, apenas o suficiente pra não faltar comida na mesa e sorriso no rosto da mãe.
E também já consigo, sem me adolescentizar, saber quem é meu amigo de verdade e quem não deve mais fazer parte do meu show.
E vou continuar fazendo sexo pra, quem sabe, amar.
E vou continuar errando pra quem sabe acertar.

sábado, 3 de novembro de 2012

E a gente sente saudade, sente vontade, entende que é algo que dá e passa e por isso resolve não ligar.
E não ligando fica sem saber.
E não sabendo se dispõe a esquecer.
E esquecendo deixa de viver.
E não vivendo perde a oportunidade de reconhecer que a paixão é capaz de te deixar idiota e feliz, sonhador, um quase perfeito e imbecil.
Então amarga aquele nó na garganta que não te deixa ir em busca por medo de incomodar, por medo do outro não sentir o mesmo ou algo parecido e você acabar constrangida pela falta de sentimentos que você escolheu pra que o outro sentisse por você.
E você começa a se esconder atrás de muros, a ouvir atrás da porta, a aparecer sem querer nos lugares onde outro possa estar. Começa a arrumar pretextos descabidos pra falar com as pessoas próximas a ele só pra saber o que ele tem feito.
Você não vive s história mas vive as dúvidas, os porquês.
E enquanto não passa tenta ser forte uma vez mais, porque sabe que o sentir não acaba, ele apenas se esconde e um dia é novamente derramado em um outro alguém...ou não

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Revival

"Você apareceu do nada....
Não dá pra imaginar quando é cedo ou trade demais
 pra dizer adeus, pra dizer jamais!"

Há momentos na nossa vida que a razão deixa de ter razão e as coisas não fazem o menor sentido. São as épocas do inexplicável, em que todas as suas teorias, certezas e promessas são levadas pela correnteza do rio da vida e depois você se vê revivendo ou fazendo o que jamais imaginou.
Uma dessas correntezas deu uma volta de 17 anos e voltou para me fazer banhar no improvável. Claro que a água já não era a mesma que um dia eu havia tocado, eu também havia mudado. Trouxe como bagagem um história de casamento, de filhos, de separação e, para a minha surpresa, a garrafa que carregava o pergaminho em papiro contando a nossa história de 17 anos atrás estava lá, intacta e resgatada pela memória daquele que aos 16 anos foi  meu primeiro namorado.
Não sei se já falei dele aqui. Ele era o tipo alternativo, cabelos grandes, fã de Engenheiros do Hawai e de chinelos de dedo em couro, jogadão, desleixado e o tipo inteligente que, diga-se de passagem, é a característica em um homem que mais me chama a atenção. Havia uma amiga em comum no meio do caminho, que nos apresentou e o final foi um namoro que durou um ano e meio mais ou menos até eu descobrir que ele andava ciscando em terreiro alheio. Terminei o namoro e ele acabou assumindo o namoro com essa que depois tornou-se a mulher que lhe deu dois filhos.
O nosso namoro era bonitinho e redondo, sem avanços, sem pressa. Do tipo que troca presentes e beijos normais. Do tipo somente aos finais de semana. Do tipo bicicleta estacionada na porta. Do tipo que manda cartas e que não conhecia celular. Do tipo querido diário...
Foi meu primeiro namorado e nele derramei expectativas e sonhos, nele investi tijolos e cimentos e como qualquer namorinho adolescente, com ele me decepcionei. E graças a idade que tinha eu guardei mágoas e fiquei de mal. Não queria mais olhar na cara. Derramei umas lágrimas sentidas, mas depois como era devido, as coisas tomaram o seu rumo.
Há quinze dias ele apareceu por aqui por conta de um assunto que tinha a tratar com meu irmão e perguntou por mim. A família alcoviteira informou que eu continuava solteira e ele informou do divórcio todo feliz.
No sábado, cheguei na festa da minha sobrinha e dei de cara com meu passado. E foi exatamente aí que um filme passou na minha cabeça e, graças a força do tempo e a maturidade eu me aproximei e perguntei: "Não vai levantar pra me cumprimentar?"
Ele levantou e depois nos sentamos juntos. Foi tão bom ter a oportunidade de reviver nossa história contada por dois adultos, pesada, avaliada, revisitada que nem mesmo em mil anos eu imaginaria uma oportunidade dessas que só prova o quanto o clichê que diz que o mundo é redondo e dá voltas está certo. E veja só, depois de todo esse tempo ele guardava mágoas por coisas que não aconteceram, por falsas verdades que, sabe lá quem inventou, e eu precisei me explicar porque tem coisas que não fogem disso e acredito que ele não aceitou, mas é que palavra dada é julgamento de quem ouve. Eu o entendi. Ele me pediu desculpas pelos erros e disse que me amou muito, que acreditava que iríamos mais longe, que adorava a minha família, que minha mãe era a sogra de que mais havia gostado e que nunca se aproximou porque acreditava, imagina, que eu ainda guardava mágoas. Disse que no começo eu havia, sim, ficado muito magoada e que por isso não tinha sido capaz de passar por cima da traição, mas depois veio o entendimento e eu fiquei feliz porque a pessoa com quem ele me traiu tinha dado uma família a ele, que de alguma forma ele tinha construído uma vida ao lado dela, que talvez eu não pudesse ter feito o mesmo. Ele me entendeu.
E fomos além, ele tinha o compromisso da formatura do irmão e na despedida trocamos um beijo. Isso não pudemos lembrar, eram outras bocas que ali se encostavam, mas foi bom.
Vinte minutos depois fui novamente pega de surpresa: meu telefone tocou e era ele dizendo que estava voltando porque onde estava não tinha o que ele queria. E voltou para receber a torcida e encarnação da família. E ficou, e me olhou nos olhos, e me disse o que eu jamais esperei, imaginei, cogitei: quer namorar comigo de novo?
Empalideci.
Quem ele pensa que é pra me tirar assim em poucas horas da minha zona de conforto, mexer com meus instintos, fazer com que eu reviva minha adolescência, me roubar um beijo e me fazer acreditar que recém separado ele quer viver um relacionamento com sua namorada de dezessete anos atrás? Como assim? Traz o roteiro que tô querendo editar. Juro, não fui capaz de levar isso a sério. É muita informação pra digerir em poucas horas. Fui muito franca e disse exatamente isso, então a gente desconversou e aproveitou (e como) a noite. Sem maiores detalhes...
Continuamos nos falando. Ele tem ligado esses dias.
E eu só estou pensativa e grata à vida por ter nos dado a chance de nos revisitar, nos reencontrar, nos entender, nos explicar, nos desculpar e fazer o que não fizemos no verão passado.
É vida, quanto mais tu passas por mim, menos eu saberei te explicar. Um coisa é certa: vez em quando eu adoro tuas gratas surpresas.

"O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou"

sábado, 20 de outubro de 2012

Círio

A fé é um exercício pra vida inteira. Muitas e muitas vezes, eu me distancio incrivelmente dela, 

achando que posso resolver tudo sozinha. Não é raro nessas ocasiões, na verdade é bastante 

comum, eu me atrapalhar toda num turbilhão de emoções que me drenam a energia e o sorriso. 

Mas, toda vez que consigo acessá-la, de novo, tudo se modifica e se amplia na minha paisagem 

interna. (…) Então, faço o que me cabe e entrego, mesmo quando, por força do hábito, eu ainda dê 

uma piscadinha pra Deus e lhe diga: “Tomara que as nossas vontades coincidam”. Faço o que me

 cabe e confio que aquilo que acontecer, seja lá o que for, com certeza será o melhor, mesmo que 

algumas vezes, de cara, eu não consiga entender. Ana Jácomo


Mais um outubro, mais uma Círio pra relatar. Você precisa vir a Belém pra sentir, já que não é possível explicar, é desnecessário querer entender. Você verá uma cidade em festa, uma cidade recoberta pela fé, pela devoção e por uma energia de paz tão intensa, que ainda que estejas com os dias miúdos, te fara forte. Você vai chorar sem saber porquê e será tomado por uma emoção tão intensa que não saberá mais viver sem. O Círio se descortina por entre essas emoções.
Este ano tive a felicidade de participar, dentre as 13 romarias, da fluvial, acompanhada por grandes amigas. E foi lindo!
Eu olhei pra mãe com o menino no colo e ela me disse: "Recebe a paz, minha filha. Segue tua vida, resiste aos percalços e descalça as sandálias somente em solo sagrado. Você não há de perder sua condição primeira: você é filha de Deus e o mais é mais"
Depois não houve mais nada que não fosse agradecer diante daquele céu imensamente azul e em festa. Lindo. Divino. E ali, diante de todo aquele clima e depois de tanto e tanto tempo eu chorei. Quando me dei conta, minhas lágrimas já se misturavam às águas do rio. Intensas, fortes, gratas pelas coisas que Deus colocou e pelo que tirou do meu caminho, da minha vida. Ele tudo sabe.
O Círio é assim. Segundo o Pe. Fábio Jesus antecipa seu nascimento dois meses antes aqui em Belém. Ele primeiro nasce aqui para dois meses depois nascer para o mundo inteiro. Disse ainda que a pergunta mais ingrata que alguém pode fazer a um paraense é: o que é o Círio? Eu concordo.
Talvez seja a sensação mais inexplicável do mundo. E eu que deixei de acreditar nas pessoas acho que neste dia as pessoas até ficam boas, mesmo aquelas que se acham superiores e melhores que outros têm a consciência que no Círio somos todos filhos, somos todos irmãos.
Agora me emociono com os show realizados no Círio Musical, na concha acústica do CAN: pe. Fábio de Melo encantou ao cantar com Fafá de Belém "Eu sou de lá", música que compôs pra filha da terra; Anjos de Resgate mais um ano dando um show de música e de pregações. Hoje teremos Adoração e Vida e eu estarei lá pra ver Walmir Alencar cantar "Abraço de Pai". É assim que me sinto no Círio: abençoada e abraçada pelo Pai.
No dia 12 fui com a minha princesinha andar de roda gigante. Eu morta de medo e ela dizendo: "bora didinha, eu sei que tu te garante!" Menina inteligente. Claro que fui, eu não poderia perder esse referencial de coragem. Depois da volta na roda fomos à igreja eu fiz comque ela dobrasse os joelhos e juntas rezamos pedindo perdão a Deus por nossos pecados. Ela fiz pedir perdão à Mãezinha por uma tolice muito feia que fez com sua mamãe.
Nessas horas agradeço a Deus por ter nascido nesta terra, mesmo com o desejo de ir embora daqui. Mas Deus sabe meus motivos e minhas andanças.
Enquanto isso, aproveito ao máximo a época. Em minha opinião, a mais linda do ano.
Feliz Círio a todos.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Caderno

Na minha velha infância, rolava sempre na escola e entre os amigos da rua o famoso caderno de perguntas. Tratava-se de um questionário que ocupava todas as páginas de um caderno pequeno, enumerado, em que as pessoas que interessavam ao proprietário respondiam, mantendo a fidelidade de seus números até o final das folhas. Era mais ou menos assim... (Em tempo: se Dom Rafa seguisse esse blog eu até pediria a ajuda de seus desenhos, mas recorri ao Google mesmo. rsrs)
As perguntas eram as mais inocentes possíveis: "Qual seu filme preferido?", "Qual sua comida favorita?", "Em quem você deu o primeiro beijo?"...E lá ia a galera respondendo.
Hoje me pergunto a real intenção do "inocente" caderno: era para aproximar você do outro, fazer um novo amigo ou simplesmente xeretar a vida alheia? Se você respondeu que servia para as três coisas creio que essa seja a resposta correta.
Seria funcional, mas nem um pouco prático, se você tivesse um desses em mãos antes de apertar a mão de alguém e dizer: muito prazer ou nice to meet you para os mais afrescalhados. Eu, por exemplo, adoraria ter o tal caderno, mas trocaria as perguntas...
1. Antes de saber seu nome, me diga, você se considera um exímio mentiroso? Se sua resposta for SIM, suas perguntas terminam aqui; se for NÃO, humm, deixa eu pensar se acredito...ok, vai lá; se for MAIS OU MENOS eu vou te dar essa chance.
2. Com quantos membros da sua família você já ficou de mal?
3. Você se acha o máximo? Por quê?
4. Qual sua opinião sobre respeito às opiniões alheias?
5. Quais seus maiores defeitos? (como ser humano normal você não deve ter só um)
6. Qual sua maior qualidade? (baixe sua bola, é só uma!)
7. Se você já ajudou alguma pessoa carente, como se sentiu depois disso: orgulhoso ou normal?
8. Você já humilhou alguém?
9. Você segura os cadernos de estudantes ou cede lugar aos idosos no ônibus?
10. Você já deixou de receber troco a mais, por quê?
11. Qual o seu conceito de corrupção?
12. Qual o seu preconceito? (Faça um esforço, eu sei que você consegue, eu sei que você deve ter algum)
13. Você tem necessidade de ser elogiado, ovacionado, adorado, consultado?
14. O que você chama de amor?
15. O que você chama de amizade?
16. Você respeita a religião dos outros?
17. Qual o seu conceito de família? Você acha que tem uma?
18. Você se reavalia com frequência e nessa reavaliação consegue encontrar seus defeitos, de verdade?
19. O que você considera, efetivamente, ajudar alguém?
20. Quando alguém não é o seu espelho você acha isso um erro ou uma virtude? Por quê?
21. Você acredita em Deus?
22. Em que você acredita?
23. O que você acha da música que os outros ouvem?
24. Você sonha em ter, ser ou estar em uma ilha?
25. Com que frequência você fala olhando nos olhos?
26. Por que você leu e respondeu até aqui?
27. Por que você acha que devo saber de você?

Responda as próximas perguntas depois da minha observação na próxima página. Se minha observação estiver em AZUL, leia a pergunta 28, se em VERMELHO, leia a 29. E para os dois, caso queiram, a 30. Obrigada.

... ... ... ... ... ...

28. Vamos tomar um chop?
29. Por que você não vai tomar no cú?
30. Você poderia deixar seu recado pra mim sem firulas, sem floreios e sem mentiras?

Obrigada.

Seria mais ou menos assim. Em 30 perguntas eu não resumiria ninguém, mas já teria uma breve ideia de com quem iria lidar. Há surpresas que não têm porque nos pegar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sobre a tristeza...

"...Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. ...
Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia...

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos." (Martha Medeiros)

domingo, 23 de setembro de 2012

Oscilações

Num dia tudo errado.
No outro tudo certo.
Tem dias que metade tá bom e fica ruim ao anoitecer.
Desisto da brincadeira.
Cansei do não direito ao choro.
Cansei de segurá-lo até cair mortificada no sono.
PARE, POR FAVOR!
Sou forte, sabemos. Mas não de aço.
Necessito colo de quem REALMENTE se importe e não apenas se autopromova. E depois repita: 
"eu bem que te ajudei"; 
"eu bem que te falei"; 
"eu nunca te abandonei"
Não tá tudo bem.
E nem sei se vai ficar um dia.
Ou só por umas horas.
Ou só por um sonho.
PARE, POR FAVOR!
Brincadeira sem graça essa.
Não jogo cartas.
Gosto de dominó porque se encaixa.
Tragam minha vida de volta.
Tragam minha paz de volta.
O que tá aqui não me pertence.
Tenho certeza.
Deve ter sido a greve nos Correios.
Entregaram dor à pessoa errada.
E já que não tenho o direito de rir.
Que me façam, pelo menos, chorar.
E fim...

"Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais." Ana Jácomo

sábado, 8 de setembro de 2012

O fio da meada

Pois é...com o tempo a gente perde o fio da meada, o controle, as horas, os dias, o tempo que passa e há quanto ele passa, e o quanto ainda resta. Você percebe que tem um monte de coisa guardada no armário que nunca mais vai usar, mas ainda assim guarda. Não se desprende do que não lhe serve mais.
Com o tempo a gente perde a ponta do fio que nos ata a velhos e bons amigos, com quem partilhamos momentos únicos, e você não percebe em que momento a ponta se perdeu no novelo e você desatou sua vida da dele. Vocês sequer divergiram em opiniões e não se veem mais porque cada um seguiu sua vida. Enquanto isso, ao mesmo tempo você acha uma ponta que une você a outras tantas pessoas que com o (con)viver vai percebendo que não são exatamente o que você imaginou ou o que apresentou a você. E você tenta lembrar há quanto tempo você não percebe que este novelo é composto pela mesma linha que tece a teia de uma aranha, que ao primeiro toque se desfaz. Frágil, ainda bem, mas decepcionante também.
Com o tempo você olha no espelho e percebe umas linhas que antes não tinha, um volume a mais que antes não existia, um olhar que não costumava ofertar, um sorriso lançado para agradar ou mesmo não contrariar. E se questiona quanto tempo passou sem que você tivesse começado a perceber as mudanças, as andanças, as (des)esperanças, o quanto lhe resta.
Você se dá conta das coisas que deixa de olhar por conta da pressa, do frenesi que é estar nesse mundo e ir atropelando as coisas, os sentimentos, as horas e as vezes até as pessoas: "Desculpa, não percebi que você tava aí, tava tão distraída. Você é o irmão da Alice, não é? - Não"... E aí você se dá conta de que só se pode reconhecer o que se conhece. Mas nem mesmo você se reconhece fora do seu alter ego. E o novelo ganha volume... E a ponta....(???)
E tudo lhe tira a saúde: a pressa, as ocupações, as desilusões, as decepções, as preocupações, a falta de exercício, de tempo, a má alimentação, a falta de leitura e até nos cabelos a pintura. E se questiona em que momento você perdeu o controle e deu início ao fim. E começou a pecar, a não se importar, a trançar ainda mais os fios.
Na verdade o tempo não basta para as coisas que são muitas. E enquanto o trem da vida passa você agarra e mantém o que pode, outras coisas você simplesmente deixa partir.





segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Passado não passa

Você definitivamente não se livra das pessoas do teu passado, hoje cheguei a essa conclusão. Haverá sempre um lugar, um música, um cheiro ou uma pessoa com a qual você ficará ligado às lembranças do que "passou."
Encontrei um ex-cunhado na saída do trabalho, irmão do meu ex-"marido" e, inevitavelmente falamos sobre coisas que nos remetiam ao passado, já que perdemos a convivência e não havia nada que pudesse ser em comum em nosso presente. Ele ao lado do filho perguntou se ele lembrava de mim, de quando o ensinava a jogar xadrez e a conversa sempre iniciava com...naquela época. Pois é, acabei lembrando. Quando são lembranças boas, tudo bem, já o contrário só nos faz remoer sentimentos ruins, regados a fatos que preferia ter deixado lá atrás pra sempre.
Os "amigos" que deixaram de ser também ficarão na memória. Não tem jeito. Sempre haverá os amigos em comum ou as coisas que um dia fizeram juntos pra remover a terra jogada por cima. E não há outro caminho senão passar por cima das lembranças que não nos favorecem.
Vai ver que é por isso que um dia nos disseram que nenhuma pessoa passa a toa por nossas vidas. Sempre levam um pouco de nós e deixam um pouco (ou muito) de si.
Ainda bem que sempre há reservas e histórias que compõem nossas saudades boas, pra colocar as coisas em seu devido lugar.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Teoria da conspiração

Hoje foi daqueles que a gente julga o pior dia do ano. Logo pela manhã me aborreci grandemente com problemas familiares, que não são meus mas que me afetam como se fossem. Fico batendo cabeça pra tentar resolvê-los só pra que reine a paz. Ao chegar no trabalho me aborreci com as mesmas coisas, provocadas por problemas que venho rebatendo há mais de ano por conta de erros fajutos, grotescos e recorrentes que me tiram do sério. Acabei cometendo o erro de ser grosseira com uma das gerentes e isso só fez o sentimento ruim aumentar.
Pela tarde tinha uma consulta, peguei o ônibus e a criatura ao meu lado tinha todo o repertório do Rubi Saudade no celular. Não, não havia outros lugares vagos. Não, eu não faria o trajeto em pé. Ao chegar até a clínica esperei no andar superior por duas longas e sufocantes horas plantada na porta do consultório 15, então desci e perguntei pelo médico, pra minha surpresa ela já havia saído porque estava consultando no 8, andar de baixo e me passaram informação errada. Juro, respirei fundo porque já havia descarregado raiva pela manhã e não tinha me feito bem. A atendente então perguntou se eu queria remarcar e eu apenas disse não, porque não queria voltar ao mesmo lugar onde me aborreci tão cedo. As dores no estômago esperam até a próxima crise pra visitar a urgência. Quando saí do consultório a chuva caiu e eu não tava com sombrinha na bolsa, então peguei chuva até a para de ônibus. Antes deste chegar, eu debaixo de uma construção fui vitimada por uma ventania que me presenteou com um cisco no olho esquerdo, graças a poeira da construção. Quando cheguei em casa quis tomar banho e havia faltado água, entrei no meu quarto e uma cara do SERASA me aguardava por uma dívida que não me pertence, mas procurei manter a calma, juro! Olhei pro céu e disse: Deus, tá bom, se querias me castigar por algum motivo, missão cumprida!
Então se acumulou dentro de mim mais um pouco de sentimento ruim e com todo o nó na garganta, toda a raiva pelo dia atípico eu percebi que qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade teria chorado de raiva. Eu não, eu apenas fiquei procurando motivos, razões pra tanta coisa dar errada em um único dia e tentei não perder o controle, mudar o foco e fazer com que minha noite fosse diferente, mas então vi minha irmã chorando por seus problemas e voltei a ficar mal e a não chorar. Eu não tenho esse privilégio. Minhas lágrimas secaram, eu cansei. Mas apesar de tudo, eu preciso crer que foi coisa de um dia, uma tarde e uma noite só. Amanhã as coisas tomam outro rumo e há de ser, novamente, um dia feliz!

domingo, 8 de julho de 2012

Amizade desobrigada




Vejo em meus círculos, alguns sofrimentos que julgo “desnecessários” por causa de amizades infrutíferas, e por isso mesmo creio nas amizades desobrigadas. Explico.

Se sou sua amiga não sinto a necessidade de ligar ou enviar torpedos pra você todos os dias. Lembro-me de uma história sobre o poeta Paulo Hecker Filho que deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: “Para estar ao lado sem pesar com a presença” #achodigno.

Eu não preciso ser constante na sua vida, aceitar todos os seus convites, atender todas as suas ligações, convidar você para ir a todos os lugares aonde eu for. Isso não me dá diploma ou atestado de amiga, e se fizer tudo isso não to provando nada. Isso talvez lhe faça ter certeza que eu gosto de você, mas repito, não prova nada.

Eu não conceituo amizade. É algo muito complexo. É pronome indefinido. Mas agora, depois de anos vividos e felizes, depois de tantas pessoas que fizeram e fazem parte do meu mundo, sei com quem posso contar; sei por quem não vale a pena sofrer ou gastar meu latim. Sei com quem posso dividir um sorvete, rachar uma conta, trocar duras verdades, pedir socorro, cometer deslizes e obter perdão, compartilhar um segredo, uma gripe mal curada, um gosto musical, uma tigela de açaí ou simplesmente convidar pra ir bem ali. A maturidade de anos bem vividos nos permite ter esse discernimento.

Portanto, desobrigue-se. Se você for amigo seus atos falarão por si, se não for, da mesma forma. Pratique o desapego porque amizade é como as relações amorosas: assim como encanta também pode sufocar. Deixe seu quindim na portaria e seja feliz sabendo que ali tem um pouco de você.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O que é um assassino?

Ontem, minha princesa deitou ao meu lado e soltou essa:
- Didinha, o que é um assassino?
Fiquei de todas as cores, muda, assustada. Me senti sendo assaltada! Meu Deus, com quem ela aprende essas coisas? Pensei.
Ante meu silêncio ela se adiantou:
- Já sei Didinha! É alguém que mata as pessoas, não é?
No intuito de dar por encerrado o assunto e super sem graça respondi: é
Mas depois que o susto e a surpresa passaram fiquei a pensar e pesar.
Assassino é que rouba do outro o direito a dignidade ou quem desiste da sua própria felicidade.
Assassino é quem é visceral demais e mata toda a leveza e doçura de viver.
Assassino é quem, tendo um grande amigo, esquece de ligar pra perguntar se ele já se livrou da rinite, que livro lê no momento, que música rola no seu MP3 e se está apaixonado por alguém.
Assassino é quem fere com palavras e mais ainda com gestos que deveriam ser economizados pra quem realmente os merecesse, e mata o outro por dentro.
Assassino é quem deixa o amor morrer, que congela o coração e alma.
É quem tem a frieza de abandonar uma criança numa lata de lixo, no leito de um rio, na rua e tira delas o direito a vida e aos sonhos.
Assassino é quem induz o outro ao erro das drogas e morre e mata lentamente.
Assassino é quem esquece da própria vida e preocupa-se mais com a vida dos outros.
É quem bebe até não poder mais e dirige logo em seguida.
É quem tira alguém de sua vida ainda que ele esteja em seu coração, porque se acovarda e tem medo de viver o amor.
É quem vê uma injustiça e cruza os braços, cala a boca e não se movimenta.
É quem tira de quem tem menos pra encher os próprios bolsos e fartar a própria vida.
É quem pratica o egoísmo, vive a inveja, ufana-se de suas qualidades, matando o que pode haver de melhor em si e deixando viver o mau caráter.
É quem vive a achar que a vida não vale a pena e passa por ela apenas pra cumprir os anos que lhes são dados.
E claro...principalmente quem mata as pessoas, né Didinha?

domingo, 1 de julho de 2012

É fato


Viver é um fato
Aumente seus retratos
Troque seus sapatos
Multiplique seus amigos
No sábado, amanheça dormindo
Curta as manhãs de domingo
Aceite as segundas
Recupere-se nas terças
Aprenda a fazer brigadeiro e pipoca de panela
Tome Coca Cola
Mergulhe no mar
Chore sem pensar
Mas seja de sorrir
Beije enlouquecidamente
Faça sexo antes de dormir
Fale, leia e acima de tudo ouça
Não se deixe corromper
Aprenda a se reerguer
Viva a desordem
Só obedeça algumas ordens

E se tiver insatisfeito...reinvente-se
Reordene-se

Sempre desobedeça
Ensine alguém a se reerguer
Nem pensar em se corromper
Ouça mais, fale menos e acima de tudo leia
Faça sexo ao amanhecer
Enlouqueça ao beijar
Sorria sem pensar
Não seja de chorar
Tome Coca Cola
Ensine a fazer pipoca e brigadeiro de panela
Curta as manhãs de segunda
Aceite as terças
Recupere-se aos sábados
Amanheça dormindo aos domingos
Selecione seus amigos
Guarde seus sapatos
Escolha seus retratos
Por que viver...
É fato!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tu sabes...



Só...tu sabes o quanto do quântico galático, esforço elástico do sábio simpático caído ao chão. 
Do maracatu mais improvisado. 
Do tempo ao templário do gosto etário otário Simbá que salvou a nação.
Quem viu vendo, viveu vivendo, plantando e colhendo o fruto frutífero do chão.
 Olhando, cheirando e lambendo sabão, engá e minha mão.
Matemática, simpática tática estática na mente do irmão. 
Glossário de palavras claras e raras com águas nas jarras. 
Limão da mangueira, feijão da ribanceira, canção de roncar pra lá e pra cá.
 Sem ter pra poder dar. 
Como um cio ciumento de alguém que, se tremendo, não soube falar o refrão.
Refrão:
Ferrão do zangão, irmão de Sansão, morando em Cubatão, descobriu ser inserido na serra da cigarra que levou uma furada do cumpadre escorpião.
Tu sabes...


Não. Eu não estou louca! Isso aí em cima foi um "poema" que um ex-namorado escreveu pra mim há anos, em mil novecentos e virgindade. Ele escrevia muito bem, poemas inclusive, e eu no auge de minha carência pedi que fizesse um pra mim. Como também era um ótimo gozador, mandou manuscrito pela cunhada em um papel de carta que pós-mortem relação eu rasguei aborrecida (coisas de adolescente). E adiantou? Ele ficou tatuado na minha memória. Pois é, lembrei dele esses dias porque ando meio aborrecida, sabe...
- Sim, Claudiana, mas o que o "poema" tem a ver com o teu aborrecimento?
Cansaço!
Cansei de indiretas floridas e cheias de neologismos, aspas, ambiguidades, "prolixismos" e teorias freudianas direcionadas a mim e aos meus. Prefiro o escracho de textos despretensiosos como este que, aparentemente nada dizem, e dão seu recado. Não é de hoje que sabemos que atos dizem mais que palavras, não é? É tão velho quanto o texto do moço.
Há na escrita a máxima que diz que é necessário considerar princípios de relevância entre o que deve ser dito e o que deve ser economizado em palavras pra que não tenhamos um texto enfadonho. Talvez seja por isso que curto crônicas. Elas vêm, dizem o que têm pra dizer e em poucas linhas se vão.
Simples assim.
Tu sabes...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ó Pátria Amada o que andas fazendo com teus filhos?!


Hoje, ao chegar em casa, vi uma garotinha "diferente" na casa do meu irmão. Normalmente encontro por lá minha sapeca Stefany, como não era perguntei ao mano de quem se tratava. Pra minha surpresa ele responde: - É minha aluna, a mãe esqueceu de ir buscá-la na escola até agora. (passava das 19h e a menina é aluna da manhã).
Meu Deus! Exclamei. O espanto era inevitável. Ao mesmo tempo em que fiquei surpresa e indignada, achei a atitude do meu irmão louvável. Ele continuou.
- Lá é muito perigoso e não tinha mais ninguém na escola, eu não ia deixá-la lá e não sabia onde ela morava.
Meu irmão e minha cunhada são pedagogos e trabalham em escola pública. Vez em quando ouço seus relatos escolares e profissionais e me vem um sentimento de indignação.
Muito se fala por aí e sabemos que é verdade, que professor é mal remunerado, que trabalha em condições precárias, que há escolas sucateadas etc, etc, etc...Isso em parte é verdade, afinal, vivemos nessa pátria amada cheia de corrupção e desigualdades sociais. Mas também ouço meus irmão e cunhada contarem que tem professor, como um aí da escola deles, que ganha uma média de três a quatro mil reais por mês e há quase dois não aparece na escola pra dar aula, acobertado por uma diretora conivente que com ele divide seus erários e não encaminha para a Secretaria de Educação as suas faltas. Segue-se a lei do clientelismo que muitos pensam existir apenas na disciplina História do Brasil, quando na verdade ocorre ainda por esses tempos. Lamentável.
Esses professores são os mesmos que levantam a bandeira sobre seus salários, que enchem as redes sociais de mensagens sobre educação assinada por Paulo Freire mas que estão nem aí pra o que se tem como educação. São os mesmos que falam mal da corrupção que assola o país, mas que são igualmente corruptos em seus atos. Que dizem amar a educação mas não veem a hora de sair da sala de aula e ir trabalhar na área técnica. Que se enchem de títulos com a única intensão de aumentar seus salários.
E os filhos da Pátria Amada que se danem! Que sejam marginais! Que não saibam votar! Que não gostem de estudar! Que abortem seus filhos ou que tenham milhares sem planejamento e jamais terminem o ciclo vicioso (e vantajoso) da pobreza. Que esqueçam seus filhos na escola...onde é que deixei minha filha mesmo? Não lembro. Educação não é meu referencial e nem minha prioridade na criação dos meus filhos. Basta uma caixa de Chicletes no sinal e tudo se resolve. Enquanto isso deixa ele ir pra escola que lá tem merenda, é menos uma boca pra alimentar...
São tantas histórias que conheço sobre o outro lado da moeda que chego a pensar que este país está cada vez mais afundado na lama.
Um país que não prioriza a educação, não tem respeito por sua gente e nem amor a seus filhos.
Acorda Brasil!!!!!!!!!
Pois se até as "mentes pensantes" agem dessa forma, o que esperar do seu futuro?
Amanhã, uma filha será devolvida e eu ficarei cá com minhas dúvidas se ela fez falta.



domingo, 17 de junho de 2012

Ahhh, literatura...

"ENQUANTO uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida..."
(QUINCAS BORBA) Machado de Assis

sábado, 2 de junho de 2012

Amizade


  • há 3 horas
    Mauro Margalho
    • Pra você minha árvore gêmea e amiga linda.

      Um dia, numa bela manhã de sol... Um sábio é procurado por seu aprendiz interessado, que lhe pergunta:

      - Mestre, qual o significado da amizade?

      O mestre lhe aponta três árvores visíveis de onde se encontravam e, responde:

      - Observe estas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas; noutra, notamos frutos que chegam a dobrar seus galhos; e na última há somente folhas misturadas num variegar de cores.

      Subiram então em um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e, o mestre perguntou ao seu aprendiz:

      - O que vê você aqui de cima?

      - Vejo apenas que essas árvores cresceram próximas e independentes, porém suas copas se fundem, produzindo uma única sombra, respondeu o aprendiz.

      O mestre concluiu, então:

      - Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas que quanto maiores mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única “sombra”, um único abrigo, um pomar de refazimento de forças e um refrigério para os olhos, para a alma e para o coração.

      Os amigos são como árvores diferentes, mas que crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, refletindo uma única força, uma nova descoberta a cada encontro; é como a sombra que se dilata quando as copas das árvores se aproximam.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Da regra a exceção

Ontem, ia pro trabalho distraída e entretida com Deslembrança quando de repente fui  surpreendida por um solavanco do ônibus. Claro, a primeira reação depois do susto é: "merda!", já que é habito isso acontecer com os motoras bem humorados, solidários e pacientes que temos em nossas frotas urbanas.
O ônibus parou e o motorista desceu depois da freada brusca. Pensei: bateu alguém ou em algum carro. Puta merda, vai atrasar a viagem, engarrafar mais o trânsito e eu vou ter que esperar uma vida por outro.
Enquanto divagava no meu pensamento egoísta olho pela janela e vejo o motora carregando com a maior calma e paciência um gatinho pela mão e levando-o até o outro lado da rua para deixá-lo na calçada, em segurança.
Voltou ignorando as buzinas e o engarrafamento atrás dele e comentando com o cobrador: "foi por pouco. O cara da frente quase atropela, se eu não olho e freio logo, tinha matado"
Clap, clap, clap.
Palmas para ele!!!
Agora me diz, em seus pensamentos mais humanos você imaginou uma cena dessas, protagonizada por um motorista de ônibus? Eu não. Já presenciei as piores e mais grotescas cenas: já fiz denúncia por meio de carta ao proprietário da linha que passa pela minha rua. Já perdi a compostura e a educação com outro que tratou mal minha mãe, sem contar as corriqueiras com idosos, estudantes etc. Mas confesso que me surpreendi com essa que acabou sendo a exceção da regra. Ele merece uma estrelinha no pára-brisas.
São atitudes como essas que aprecio e desejo que esse mundo seja um pouco mais humano, solidário e menos egoísta.

domingo, 20 de maio de 2012

Discurso de Deus a Eva

"...Eva, de repente, descobrindo uma bela cascata, resolveu tomar um banho de rio. A criação inteira veio então espiar aquela coisa linda que ninguém conhecia. E quando Eva saiu do banho, toda molhada, naquele mundo inaugural, naquela manhã primeval, estava realmente tão maravilhosa que os anjos, arcanjos e querubins, ao verem a primeira mulher nua sobre a Terra, não se contiveram, começaram a bater palmas e a gritar, entusiasmados: "O AUTOR! O AUTOR! O AUTOR!".

"P.S. - Este discurso do Todo-Poderoso está sendo divulgado pela primeira vez em todos os tempos, aqui neste livro. Nunca foi publicado antes, nem mesmo pelo seu órgão oficial, A BÍBLIA."

"Minha cara,
eu te criei porque o mundo estava meio vazio, e o homem, solitário. O Paraíso era perfeito e, portanto, sem futuro. As árvores, ninguém para criticá-las; os jardins, ninguém para modificá-los; as cobras, ninguém para ouvi-las. Foi por isso que eu te fiz. Ele nem percebeu e custará os séculos para percebê-lo. É lento, o homenzinho. Mas, hás de compreender, foi a primeira criatura humana que fiz em toda a minha vida. Tive que usar argila, material precário, embora maleável. Já em ti usei a cartilagem de Adão, matéria mais difícil de trabalhar, mais teimosa, porém mais nobre. Caprichei em tuas cordas vocais, poderás falar mais, e mais suavemente. Teu corpo é mais bem acabado, mais liso, mais redondo, mais móvel, e nele coloquei alguns detalhes que, penso, vão fazer muito sucesso pelos tempos a fora. Olha Adão enquanto dorme; é teu. Ele pensara que és dele. Tu o dominarás sempre. Como escrava, como mãe, como mulher, concubina, vizinha, mulher do vizinho. Os deuses, meus descendentes; os profetas, meus public-relations, os legisladores, meus advogados; proibir-te-ão como luxúria, como adultério, como crime, e até como atentado ao pudor! Mas eles próprios não resistirão e chorarão como santos depois de pecarem contigo; como hereges, depois de, nos teus braços, negarem as próprias crenças; como traidores, depois de modificarem a Lei para servir-te. E tu, só de meneios, viverás.

Nasces sábia, na certeza de todos os teus recursos, enquanto o Homem, rude e primário, terá que se esforçar a vida inteira para adquirir um pouco de bens que depositará humildemente no teu leito. Vai! Quando perguntei a ele se queria uma Mulher, e lhe expliquei que era um prazer acima de todos os outros, ele perguntou se era um banho de rio ainda melhor. Eu ri. O homem e um simplório. Ou um cínico. Ainda não o entendi bem, eu que o fiz, imagina agora os seus semelhantes.

Olha, ele acorda. Vai. Dá-me um beijo e vai. Hmmmm, eu não pensava que fosse tão bom. Hmmmm, ótimo! Vai, vai! Não é a mim que você deve tentar, menina! Vai, ele acorda. Vem vindo para cá. Olha a cara de espanto que faz. Sorri! Ah, eu vou me divertir muito nestes próximos séculos!"



Millôr Fernandes

sábado, 19 de maio de 2012

Deslembrança

Ontem, passando pela Saraiva não resisti e dei uma entradinha só pra me sentir em casa. Fico feito criança na Marjory de tão encantada e enlouquecida. Grana curta, tive que fingir desinteresse por Isabel Allende e outros tantos e tão maravilhosos quanto o prazer de estar naquele lugar. O tempo não colaborou também mas, claro, sair de mãos abanando, jamais!
Pela orelha e pelo valor trouxe pra casa "Deslembrança", da novata Cat Patrick e hoje foi meu companheiro de viagem ao trabalho (sim! Eu trabalhei hoje, muito contrariada. Mas isso é tema para outro texto). Pois bem, deslembrança começou a ser visitado e como ainda está no começo segue minha primeira impressão:
Trata-se de um livro de ficção que minha sobrinha de 15 anos vai adorar ler. Conta a história de uma garota que, assim como no filme "Como se fosse a primeira vez", ao dormir apaga as memória do dia vivido e para isso escreve no fim do dia o que aconteceu durante ele para no dia seguinte lembrar: "Não tenho passado. Minhas únicas lembranças estão no futuro", escreve London, personagem principal. Então, quando acontece algo durante o seu dia que ela faz questão de esquecer, ela simplesmente não anota. Simples assim.
Quem dera que fosse! Já imaginou ter como memória apenas o que é colocado no papel? E quando algo que nos desagrada basta apenas não relatar, não transformar em crônica ou poesia ou desabafo ou grito. Acabou. Game over. Finish. Já pensou???? Pelo lado prático da vida seria ótimo:
"Puta merda, não acredito que tive essa recaída e beijei esse cretino de novo!" Ok, então é simples, apenas não escreva que ficou com esse cretino que você jamais irá lembrar;
"Caramba, minha melhor amiga me disse tanta coisa que me deixou magoada..." Então, não ouse relatar a mágoa, amanhã ela não fará mais parte da sua vida;
"Eu não devia ter brigado com meu amor e tê-lo magoado tanto com palavras tão duras e meu ciúme desmedido". Não se preocupe, você não escreveu sobre isso.
OK, ficções e devaneios à parte me contem: com o que iríamos aprender senão com nossos erros, defeitos e atitudes desacertadas, amores desencontrados, mal dormidos, malfadados???
Eu, ré confessa admito: as vezes queria muito não lembrar de fato, já que consigo o "desvínculo afetivo". Minha memória não é das melhores, mas bem que poderia ficar um  pouco pior. Rsrsrsrsrs.
Depois conto mais do livro.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Revisitar-se

Há pouco mais de um mês venho presenciando alguns acontecimentos que seriam cômicos se não fossem trágicos. Percebo, quieta no meu canto (as vezes nem tanto), o quanto o ser humano é capaz de prejudicar o outro, de invejar o outro, de passar por cima do outro e de sentimentos considerados nobres aos olhos de Deus e da psicologia humana. Como dormem? Penso, ao identificar que de alguma forma há racionalidade suficiente nas pessoas que as habilita a não praticar o mal ao outro, mas ao contrário, agem como irracionais ou sei lá o quê, já que temos animais muito mais dóceis, parceiros, companheiros e amigos que muita gente que "divide conosco o prato".
Eu e minha sensibilidade hulkiana sentimos nojinho dessa gente e as deixamos lá, em seus cantos, em seus mundos e infinitos particulares já que, graças a Deus, tenho livre-arbítrio. Se pudesse ou ao menos quisesse, eu lhes diria: simplifiquem a vida, mas não sem antes fazerem um exame de consciência em que coubesse o maravilhoso exercício da autocrítica. Vocês não são os melhores. Vocês não são uma ilha. A lei do retorno existe ainda que tarde.
Se você não gosta de alguém, é um direito que lhe cabe, fique na sua. O ditado é antigo e útil: "se não puder ajudar, também não atrapalhe". Receba suas vitórias e seja merecedor delas, porque não é válido ir tão longe mas ir deixando pregos e  espinhos pelo caminho. E quando chegar lá, vomite o rei, porque este país não é monárquico. A humildade faz parte da simplicidade. É irmã gêmea univitelina.
Encontre respaldo em sua própria consciência pra saber a hora exata de vestir a fantasia, colocar a máscara e pular seu carnaval, mas também para perceber qual a hora de retirar a carranca de mau caráter e se vestir de água, de largar as pedras escondidas nas mãos e usá-las para construir castelo ou simplesmente sonhos.
Simplifique-se.
Humanize-se.
Escolha a verdade ainda que ela lhe arranque sangue.
Escolha o bem.
Um cargo, um título, um bem material são indicadores de que você conseguiu sua própria superação e não que é melhor que o outro. E isso não lhe dá o direito ou lhe confere autoridade para apontar a lua com o nariz e desmerecer que não ocupa o mesmo espaço hierárquico que você.
Revisite-se.
Deseje chegar ao final de sua vida com a certeza de que se transformou no ser humano que desejou ser e não em um fantoche projetado para mostrar aos outros que podia ser "o cara". Ok?

Aqui fica um grito velado e um sentimento tão real de indignação boquiaberta que chega quase a ser palpável.

sábado, 5 de maio de 2012

A Caixa de Pandora


Pra quem não conhece, breve resumo: segundo a mitologia, Pandora foi a primeira mulher criada no céu e enviada a Prometeu. Cada um dos deuses, em sua criação, contribuiu para aperfeiçoá-la: Vênus deu-lhe beleza, Mercúrio, persuasão etc. Foi então enviada à Terra para Epimeteu, que possuía uma caixa cheia de artigos que não utilizou para criar o homem (eu duvido). Foi então que Pandora, tomada da boa e velha curiosidade feminina abriu a caixa e lá deixou escapar um monte de coisas ruins: doenças do corpo e da alma. Mesmo apressando-se para fechar a caixa novamente percebeu que havia deixado escapar quase todo o seu conteúdo, que se espalhou pelo mundo. Porém, lá no fundo, no cantinho, amassada e resguardada ficou a esperança, sinalizando que, ainda que todo o mal escape e nos tome de assalto ela estará resguardada para que possamos lembrá-la e nos ancorarmos a ela....
Hoje acordei mais cedo.
O relógio biológico anda ultimamente alterado e tenho tido dificuldades em dormir e acordar nos horários devidos. Morfeu tem me visitado já pela madruga e o horário deste post só vai confirmar o que digo. Acordei disposta  a ter um dia de paz e a resolver os problemas que me aparecessem pela frente. Acordei cheia de planos que se perderam pelo caminho e pelo adiantado das horas. Hoje a caixa de Pandora foi se abrindo aos poucos pra mim. Logo pela manhã dei de cara com um problema gerado por má informação e falta de comunicação. Ao solicitar explicações a quem me gerou o problema ouvi um "desculpa, eu sempre dou essa informação. Acho que eu não tava num bom dia quando te falei isso". O quê? Repete? Talvez eu tenha ensurdecido com as bobagens que ando ouvindo. Tratava-se da pessoa responsável por reservas em uma rede de hotéis em Belém que permitiu que o hóspede para quem eu havia feito reserva fosse proibido de se hospedar. Respira Claudiana, errar é inerente ao ser humano, dizem.
Pela tarde, com a tampa um pouco mais aberta fui cobrada por um pagamento não realizado e que também não havia sido avisada sobre ele. "Mas você não me avisou!" "- Pois é, mas deverias ter pago da mesma forma". Ãããmmm. Como assim? Até hoje não fui buscar minha bola de cristal e mandei consertar, só que não acharam uma cola que servisse para o remendo.
Ok, vou ver se me mandaram aqueeela resposta super esperada por email e que ontem reenviei porque no primeiro, descobri que nunca cheguei a dar aulas porque não consigo me fazer entender naquilo que escrevo, e percebo que a pessoa, além de não entender novamente o que eu queria, piorou a situação me apresentando mais problemas que me roubarão mais e mais tempo de trabalho e juízo. Ok, Pandora, já basta!
Recebo um telefonema de uma pessoa da família que incorporou a Pandora e deixou escapar, inclusive, a esperança. Daí daí então eu me chateio, me questiono, me aborreço com o ser humano que insiste em fazer escolhas erradas, que insiste em não colaborar e complicar a vida do outro por pura implicância, pelo simples prazer em fazer mau ao outro. Desligo o telefone péssima e obrigada a fingir para o mundo que nada está acontecendo, que eu estou feliz e que minha caixa não foi totalmente aberta. Recebo outros telefonemas mais engraçados e rio entre falsetes, finjo interesse, invento desculpas para a voz do outro lado da linha a quem meus problemas não interessam e não fazem a menor diferença.
Recebo então uma visita que sem querer toca no assunto do telefonema.. E a caixa que eu pensei ter fechado volta a se abrir lentamente a minha frente, deixando escapar todos os males do mundo, e  a minha esperança começa a colocar os pés pra fora. Enxergo Pandora desolada, acabada e sofrida. Sofro junto e tento ter as forças que já não me cabem pra colocar de volta na caixa o que tenta fugir. Disfarço. Ninguém pode perceber minha empreitada. Finjo não entender. Finjo saber. Finjo esquecer que a dor e a raiva são insistentes. Não esboço qualquer reação.
Recebo uma mensagem de um problema que não me pertence mas que me é pedida ajuda para contorná-lo e acabo ficando no meio dele e, como intermediadora, ele também acaba sendo meu. Conto até mil e abstraio.
Alguém viu a Pandora mitológica por aí?? É sério, pois essa infeliz deixou escapar esse monte de coisa ruim e tudo, em um único dia, chegou até mim. Pandora, seja mais cuidadosa ao mexer nas coisas alheias. Seja mais prudente e menos curiosa. O mundo já está podre demais.
Por hoje é só! (Eu espero...)



domingo, 29 de abril de 2012

Los Hermanos


Quem me apresentou ao som deles foi minha amiga Karol Khaled, em 2006, ligada nas letras, logo me encantei pelo grupo. Em 2010, já depois da separação da banda, meu primo virou evangélico e me deixou de herança a coletânea de discos e DVD's. Comecei a ouvi-los mais e a me encantar mais com as letras.
Há poucos meses, depois de anos separados o grupo resolveu se reunir novamente e fazer uma turnê de 10 shows pelo país e Belém foi uma das cidades contempladas. Nossa, nem acreditei, já que na maioria das vezes o norte do país é meio esquecido e malfadado. Ingresso comprado e turma reunida nos mandamos para o local do evento.
O show demorou pra começar, já estávamos agoniados até que eles entrarão no palco e deram um verdadeiro show. Gente o que são Los Hermanos no palco?? Explica!!! Perfeitos. De todas as músicas que cantaram, confesso que apenas uma eu não sabia a letra, mas as demais foram gritadas vorazmente. Minha garganta em estado de calamidade que o diga!
Não sei o que se passa na cabeça desses malucos nerds fodásticos pra entenderem que não devem seguir adiante e continuar enlouquecendo esse público. De quebra eles ainda cantaram Legião Urbana e a galera foi ao delírio porque ficou do cacete na voz e no som deles. Não é a toa que eles são a banda favorita da Maria Rita, que gravou lindamente Santa Chuva e Casa Pré-fabricada, esta última também cantada no show. Para a noooossa alegriiaaaa. rsrsrsr
Enfim, o show da ano, definitivamente! Pra quem ainda não conhece a banda, recomendíssimo. É pra quem gosta de boa melodia e letras fantásticas.

Sonhos que aprisionam

"O apego pelo futuro é uma armadilha terrível"

Havia na minha casa, até uns dias atrás, uma travessa cheia de pedras. Elas eram de cores, tamanhos e formatos diferentes. Tinham em comum o fato de haverem sido coletadas em viagens. Se eu estivesse num lugar especial, procurava uma pedra bonita e a metia no bolso. Mais tarde, de volta em casa, juntava o item novo à coleção. Haveria, talvez, umas 30 pedras na travessa.
Na semana passada, preparando a casa para uma reforma, disposto a recomeçar a vida, decidi que era hora de me livrar de coisas que eu vinha acumulando desnecessariamente há pelo menos 10 anos. Rodaram roupas, objetos, revistas, livros e, claro, as pedras. Mas não foi fácil.
Cada vez que eu punha uma coisa de lado, com a disposição de me livrar dela, algo me incomodava profundamente. Havia uma dor ali, ou várias dores diferentes.
As pedras eram parte do passado que, de alguma forma, eu tentava agarrar e materializar. Os livros, vários que eu nunca tinha lido, representavam uma inquietação pelo futuro: agora eu nunca saberia o que há dentro deles. As roupas, muitas delas sem usar há anos, ficavam me acenando do chão, empilhadas, com as situações que haveriam de vir e nas quais eu sentiria falta delas.
O nome desse sentimento inquietante é apego.
A gente se agarra às coisas, como se agarra às pessoas e às ideias. Na verdade está tudo entrelaçado. As coisas representam pessoas, que nos remetem a sentimentos e ideias. Ou representam sentimentos e ideias, que nos lembram de pessoas. Qualquer que seja a ordem, esse sentimento é um fardo. Tentando reformar e recomeçar, tentando reiniciar a vida, a gente percebe como é difícil deixar as coisas para trás. Inclusive os sonhos e os planos, por mais banais e genéricos que sejam.
Assim como nos apegamos a livros que nunca lemos, ou CDs que nunca ouvimos, também nos apaixonamos por coisas que nunca vivemos e gostaríamos de viver, embora não sejamos capazes de explicá-las ou defini-las. Essa forma de apego é vaga, mas tem uma força brutal sobre as nossas ações.
A esperança de viver coisas espetaculares (mas indefinidas) no futuro impede que a gente se mova no presente. Ela leva, por exemplo, algumas pessoas a protelar indefinidamente relações afetivas duradouras. Elas não conseguem renunciar ao sonho de perfeição do conto de fadas ou abrir mão das possibilidades eróticas oferecidas por um planeta com seis bilhões de pessoas. Isso equivale à dificuldade de jogar fora um DVD que nunca foi visto. É apego pelo desconhecido. Tenho a impressão de que esse sentimento pelo futuro é o maior obstáculo à mudança na nossa vida.
O passado é uma entidade com peso e qualidade definidos. Lidamos com ele todos os dias. Desapegar não é simples, como mostra a minha coleção de pedras, mas pode ser negociado, como sabem os analistas. Memórias podem ser reavaliadas, experiências podem ser diluídas no tempo. Podemos chegar à conclusão que sobreviveremos ao grande amor e ao grande trauma – e com alguma pesar, por um e por outro, somos capazes de enterrá-los em alguma medida.
O futuro é outra história. Nele residem todas as nossas expectativas. Depositamos neles nossas aspirações práticas e subjetivas. Em direção a ele arremessamos os nossos desejos não realizados, a redenção das nossas frustrações. No futuro encontra-se a pessoa que desejamos ser. A felicidade mora lá e nos assombra como um fantasma a cada minuto da nossa vida. Não saberíamos viver sem ela. Seria desumano.
É contra essa esperança enorme, avassaladora e perniciosa que temos de lutar todos os dias para tomar conta da nossa vida. Não basta olhar para trás e se livrar das coleções de pedras. Ou das roupas velhas. Para começar de novo, em qualquer idade, temos de jogar fora os sonhos embolorados e as ilusões. Precisamos nos livrar do futuro sem rosto que nos assombra.
É provável que a felicidade, como coisa duradoura, não exista. Mas, se ela pode ser encontrada em algum lugar, ainda que de forma fugidia, é no presente. Para enxergá-la, precisamos estar de olhos bem abertos, livres das sombras do passado e das luzes que cegam no futuro. Não é fácil, mas quem disse que a vida é simples?
Ivan Martins- colunista da Revista Época

terça-feira, 24 de abril de 2012

Deus escreve certo por linhas tortas

Quando criança, nos tempos de escola, um de nossos lazeres de menina favorito era trocar papéis de carta. É difícil lembrar como comecei minha coleção com os poucos recursos que tinha, mas lembro que ela era enorme dentro de uma pasta classificadora preta. Aos sábados, nos reuníamos no pátio de alguma casa das amigas para trocar. Os que tinham envelope na mesma estampa valiam mais, assim como os de desenhos que faziam sucesso à época (smurfs, moranguinho...). Eu adorava todos que tinha, mas um em especial me chamava a atenção: era azul, com desenhos de nuvens, com linhas além de inclinadas, irregulares; no canto esquerdo um anjo e no direito a frase título deste texto. Eu nunca perguntei a ninguém, mas na minha cabeça de menina ficava matutando o significado daquelas palavras. Como assim "Deus escreve certo por linhas tortas se elas estão tortas?" Não fui capaz de adivinhar. Hoje sei.
Sei que Deus não tira nada e nem ninguém de sua vida por acaso. Assim como não coloca. Ele te obriga a aprender com os caminhos que lhe permite traçar e com o destino aonde te faz chegar. Ele lhe permite viver momentos lindos ao lado de quem você ama, mas depois leva-os de você através da morte ou da distância, ou o inverso, faz você partir.
Quando nasci meu pai foi embora, já contei isso aqui, e talvez tenha sido assim que me acostumei às ausências, as partidas, as perdas. Tive uma vida bastante regrada e quando conseguia ter as coisas e depois as perdia eu não lamentava, afinal, fui acostumada ao não ter. Dessa forma meu subconsciente me mantém alerta e a maior carga dessa falta de lamento foi concentrada em duas formas humanas: amigos e amores.
Deus escreve certo por linhas tortas.
Hoje essa frase não saiu da minha cabeça.
Hoje talvez eu tenha perdido e por isso tenha ficado chateada. Hoje. Amanhã sei bem o que me reserva além da perda: a certeza das escolhas e a consciência das consequências dela. Hoje o filme ainda passa pela minha cabeça e ainda lembro de tudo o que fez rir. Amanhã, sem chorar eu esqueci, eu aceitei e sempre acreditei que esse mesmo Deus que escreve certo por linhas tortas é o mesmo que vai me mostrar que esse foi o melhor caminho.
Foi de um jeito torto, absurdo, desnecessário em que cada um se perdeu porque ninguém queria deixar de ganhar sem perder suas "razões" e colocar em linhas tortas com escritas erradas os motivos que só servem pra destruir o que pôde até então ter valido a pena. Haverá consequências onde poderia haver diálogo e entendimento. Os papéis de carta se perderam um dia e eu sequer lembro como eles foram se acabando. Nem mesmo o que eu mais amava foi preservado pelo tempo, esse senhor que dizem (e eu não acredito) tudo resolve. Eu também vou esquecer o que aconteceu hoje ainda que houvesse uma forma de amor. Talvez esqueça para perdoar, talvez para simplesmente esquecer.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mania de Explicação

Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente. Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente. Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

Adriana Falcão